São Paulo, quinta, 8 de outubro de 1998

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RELÂMPAGOS

A crista das horas

JOÃO GILBERTO NOLL

Houve um fato? Não sei, pairava sim a sensação de que as coisas estavam para acontecer. Dois jovens lutavam na grama. Alheia, uma criança jogava pétalas amassadas. Ficou mais? Ah, era um dia luminoso e eu queria ser em breve um garoto como os dois que lutavam. E, vagamente, não me sentia capacitado. De fato, eu não passava de um olhar, é, cuja fonte era uma cisterna quebrada; o alvo, um indefinível quadro geral do ensolarado. Não sei quem me fez depois colher das sombras. Quero saber desde quando essa polpa avara corrói a crista das horas e por que me acostumei. Não importa: palavras não consertam. Bocejo para o Vale do Poente.



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