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RELÂMPAGOS
A crista das horas
JOÃO GILBERTO NOLL
Houve um fato? Não sei,
pairava sim a sensação de que
as coisas estavam para acontecer. Dois jovens lutavam na
grama. Alheia, uma criança
jogava pétalas amassadas. Ficou mais? Ah, era um dia luminoso e eu queria ser em
breve um garoto como os
dois que lutavam. E, vagamente, não me sentia capacitado. De fato, eu não passava
de um olhar, é, cuja fonte era
uma cisterna quebrada; o alvo, um indefinível quadro geral do ensolarado. Não sei
quem me fez depois colher
das sombras. Quero saber
desde quando essa polpa avara corrói a crista das horas e
por que me acostumei. Não
importa: palavras não consertam. Bocejo para o Vale do
Poente.
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