São Paulo, quinta, 8 de outubro de 1998

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LITERATURA

Sustentado por dólares, Nobel é anunciado hoje

NELSON ASCHER
da Equipe de Articulistas

Será divulgado hoje o nome do ganhador(a) do prêmio literário mais prestigioso do planeta: o Nobel. Mas, prestigiado por quê, se, em quase cem anos de premiações anuais, ele acumulou talvez mais erros do que acertos?
Há, em primeiro lugar, o fator "We're only in it for the money": o Nobel equivale atualmente a cerca de US$ 1 milhão. E isso dispensa maiores comentários. Há também, a emprestar-lhe credibilidade, o fato de ser concedido por um pequeno país rico, democrático e neutro: a Suécia.
Embora não exista uma lista oficial de candidatos, nessa época a imprensa cultural do mundo inteiro se diverte com sua bolsa de apostas. Do zunzunzum internacional deste ano emergem os seguintes nomes: o poeta sueco Tomas Tranströmer (boa aposta: é um poeta importante e faz tempo que nenhum escandinavo, ou seja, um escritor local, é premiado); e o romancista e poeta belga Hugo Klaus, que escreve em flamengo.
Também estão bem cotados o ex-poeta de vanguarda estoniano Jaan Kross, atualmente especializado em romances históricos; os franceses Michel Tournier e Le Clézio; o alemão (adversário da reunificação de seu país) Günther Grass; o poeta e romancista holandês Cees Nooteboom (uma espécie de Italo Calvino dos Países Baixos); o poeta e dissidente chinês Bei Dao; o romancista albanês Ismail Kadaré; Vizma Belsevica (Letônia); os portugueses José Saramago e Antonio Lobo Antunes; Salman Rushdie (será que os suecos comprariam uma briga com os muçulmanos?); o dinamarquês Villy Soerense; e os hispano-americanos Carlos Fuentes (México) e Mario Vargas Llosa (Peru).
A "zebra" do ano passado, ou seja, a premiação do dramaturgo italiano Dario Fo, que não constava de quase nenhuma lista, reforçou a imprevisibilidade do Nobel.
Ainda assim, há nomes que valeria a pena ter em mente. Poetas: Ives Bonnefoy e Edouard Glissant (França), Andrea Zanzotto e Mario Luzi (Itália), H.M. Enzensberger (Alemanha), José Angel Valente (Espanha), Sofia de Mello Andresen (Portugal), João Cabral (Brasil), Paavo Haaviko (Finlândia), Yehuda Amihai (Israel), Adonis (árabe radicado na França) e Tomas Venclova (Lituânia).
Romancistas: Harry Mulisch (Holanda), Augusto Roa Bastos (Paraguai), Cabrera Infante (cubano radicado na Inglaterra), a excelente Dubravka Ugresic (croata radicada na Holanda), György Konrád, Péter Eszterházy ou Péter Nádas (húngaros), Lars Gustaffson (sueco), A.B.Yeoshua, Amos Oz ou Yoram Kaniúk (israelenses).
Há, além disso, sempre uma profusão de americanos premiáveis. E faz tempo que nenhum escritor do subcontinente indiano (da Índia, Paquistão ou Bangladesh) ganha o Nobel. As apostas estão abertas, e só uma coisa é segura: independentemente de quem leve a bolada, ninguém será processado por ter errado as previsões.



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