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ANÁLISE
Paranóia e inadequação são os temas atuais
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
O Lou Reed que se apresenta
pela segunda vez em São
Paulo é o de "Ecstasy", CD que foi
majoritariamente esculhambado
pela crítica planeta afora.
Tal antipatia talvez se justifique
por sua monocromia, pelo aspecto de tédio que atravessa a estrutura musical de cada faixa. A
quem queira vê-lo no disco voador Credicard Hall, é preciso estar
preparado para o estranhamento.
De resto, o que ficou em segundo plano na rejeição a "Ecstasy" é
o bom humor (ranzinza, é verdade) de que Lou investiu cada uma
de suas contundentes letras.
Aqui, até já há um certo moralismo que não passava nem em
sombras pelo Lou do Velvet ou de
"Transformer" (72) e "Berlin"
(73). Mas não há desaprumo poético, nem perda da velha e conhecida acidez.
Quanto a isso, "Ecstasy" (sim,
você pode pensar na droga de
mesmo nome, teime Lou ou não
em negar a relação) é um disco sobre paranóia. Já o diz a letra inicial, de "Paranoia Key of E".
Primeiro poeta roqueiro a dissecar a heroína numa canção
("Heroin", 67), faz agora um formulário rabugento/humorado de
paranóia, psicose, esquizofrenia,
anorexia, dislexia, cleptomania,
vertigem e, indiretamente, de remédios e drogas que as controlam
e/ou provocam. Lou está em casa.
A seguir, "Mystic Child" examina o comportamento maníaco-depressivo de alguém que está ficando furioso (abstinência?). Passa pela briga de casal em "Mad"
(maluco) e sonha visitar Amsterdã e o museu do alucinado Van
Gogh em "Modern Dance". Continua em casa, no mundo.
A procura de êxtase -não ecstasy- ("Big Sky") e da paz matrimonial ("Tatters") trazem-no para um domínio mais asséptico, de
que Lou se enojava na juventude.
Mas não adianta, ele não consegue se adequar, e dê-lhe ironizar
os "Future Farmers of America" e
ajustados em geral. Entre letras
cortantes e melodias falsamente
monocórdicas, o caminho ao êxtase será espinhoso no dia 14.
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