São Paulo, sexta-feira, 08 de novembro de 2002

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CRÍTICA

Cinderela imigrante acha príncipe

CRÍTICO DA FOLHA

De onde vem o surpreendente sucesso de "Casamento Grego"? A história beira a banalidade: trata-se de mais uma variante cômica de "Romeu e Julieta", que em vez de envolver conflitos familiares trata dos costumes de diferentes etnias. A direção de Joel Zwick não escapa por um segundo à burocracia, os atores não são especialmente brilhantes etc.
Para completar, há um quê de Cinderela na trajetória de Toula (a atriz e roteirista Nia Vardalos), solteira de origem grega, balzaquiana, que encontra seu príncipe encantado em Ian (John Corbett), professor com jeito de galã de matinê, saído de uma família americana aparentemente tradicional.
Toula não é feliz em sua expansiva família, devotada à preservação e incensamento dos costumes gregos. Um deles reza que as moças existem para casar e ter filhos. Mas ela escapa disso: é inteligente, desajeitada, usa óculos (escapa ao figurino, mas não às convenções cinematográficas) e quer se integrar à sociedade americana.
Ian vem de uma família diferente (pequena, introvertida, de nariz empinado) e à qual também faz muitas restrições. Compreende-se que, enquanto Toula meio que abomina o seu meio, Ian o adore.
Temos, assim, tudo para um casamento perfeito, de modo que os conflitos serão mínimos e o que em parte sustentará a comédia é nos apresentar a hábitos da comunidade grega (danças, cafonices, expansividade hiperbólica etc.). Também os momentos de confronto são previsíveis: a ida de Toula à casa dos pais de Ian, o encontro entre o rapaz e o pai dela.
Por outro lado, certas notações são bastante felizes. Nas negociações da mãe de Toula com o marido, para segurar a barra das rebeldias da filha, e nas observações do filme sobre a família de Ian (cujo nariz empinado é proporcional à ignorância), o espectador encontra algo além do clichê.
Nada disso, porém, responde à questão inicial -antes pelo contrário: de onde vem o sucesso de "Casamento Grego"? Talvez do fato de abordar com desenvoltura preconceitos envolvendo etnias diversas, isto é, evitando propor a ruptura como solução aos preconceitos e compreendendo que o apego aos laços familiares não se resume a mero conformismo.
Com isso, o filme aborda a questão da identidade de um país formado essencialmente por imigrantes, no qual, já se disse, ninguém nasce americano, torna-se.
Aborda-o, no mais, com alguma acuidade e pelo prisma da tolerância, oferecendo assim um contraponto ao fervor patriótico e bélico instaurado com o 11 de setembro. Ninguém dirá que não se trata de um passatempo simpático, apesar de suas limitações.
(INÁCIO ARAUJO)

Casamento Grego
My Big Fat Greek Wedding


  
Direção: Joel Zwick
Produção: EUA, 2002
Com: Nia Vardalos e John Corbett
Quando: a partir de hoje nos cines Cinearte, Ibirapuera, Paulista e circuito




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