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CRÍTICA
Cinderela imigrante acha príncipe
CRÍTICO DA FOLHA
De onde vem o surpreendente sucesso de "Casamento
Grego"? A história beira a banalidade: trata-se de mais uma variante cômica de "Romeu e Julieta", que em vez de envolver conflitos familiares trata dos costumes
de diferentes etnias. A direção de
Joel Zwick não escapa por um segundo à burocracia, os atores não
são especialmente brilhantes etc.
Para completar, há um quê de
Cinderela na trajetória de Toula (a
atriz e roteirista Nia Vardalos),
solteira de origem grega, balzaquiana, que encontra seu príncipe
encantado em Ian (John Corbett),
professor com jeito de galã de matinê, saído de uma família americana aparentemente tradicional.
Toula não é feliz em sua expansiva família, devotada à preservação e incensamento dos costumes
gregos. Um deles reza que as moças existem para casar e ter filhos.
Mas ela escapa disso: é inteligente,
desajeitada, usa óculos (escapa ao
figurino, mas não às convenções
cinematográficas) e quer se integrar à sociedade americana.
Ian vem de uma família diferente (pequena, introvertida, de nariz
empinado) e à qual também faz
muitas restrições. Compreende-se que, enquanto Toula meio que
abomina o seu meio, Ian o adore.
Temos, assim, tudo para um casamento perfeito, de modo que os
conflitos serão mínimos e o que
em parte sustentará a comédia é
nos apresentar a hábitos da comunidade grega (danças, cafonices, expansividade hiperbólica
etc.). Também os momentos de
confronto são previsíveis: a ida de
Toula à casa dos pais de Ian, o encontro entre o rapaz e o pai dela.
Por outro lado, certas notações
são bastante felizes. Nas negociações da mãe de Toula com o marido, para segurar a barra das rebeldias da filha, e nas observações do
filme sobre a família de Ian (cujo
nariz empinado é proporcional à
ignorância), o espectador encontra algo além do clichê.
Nada disso, porém, responde à
questão inicial -antes pelo contrário: de onde vem o sucesso de
"Casamento Grego"? Talvez do
fato de abordar com desenvoltura
preconceitos envolvendo etnias
diversas, isto é, evitando propor a
ruptura como solução aos preconceitos e compreendendo que
o apego aos laços familiares não
se resume a mero conformismo.
Com isso, o filme aborda a questão da identidade de um país formado essencialmente por imigrantes, no qual, já se disse, ninguém nasce americano, torna-se.
Aborda-o, no mais, com alguma acuidade e pelo prisma da tolerância, oferecendo assim um
contraponto ao fervor patriótico e
bélico instaurado com o 11 de setembro. Ninguém dirá que não se
trata de um passatempo simpático, apesar de suas limitações.
(INÁCIO ARAUJO)
Casamento Grego
My Big Fat Greek Wedding
Direção: Joel Zwick
Produção: EUA, 2002
Com: Nia Vardalos e John Corbett
Quando: a partir de hoje nos cines
Cinearte, Ibirapuera, Paulista e circuito
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