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MÚSICA/LANÇAMENTOS
"RIOT ACT"
Novo álbum dos veteranos de Seattle sai no Brasil na segunda-feira
Pearl Jam recolhe algumas pérolas do furacão grunge
DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL
É uma cena que não se via há
muito tempo. Folhear os jornais e revistas estrangeiras desta e
da semana passada e não encontrar uma entrevista com algum
dos membros do Pearl Jam era tarefa quase impossível.
Dois anos e uma série de hostilidades com a imprensa, com a Ticketmaster e com os piratas da net
depois de "Binaural", o último sobrevivente aos saques criativos a
Seattle está de volta. E intacto.
"Riot Act", sétimo disco do grupo liderado por Eddie Vedder, 38,
chega às lojas do Brasil na próxima segunda-feira -um dia antes
do lançamento oficial nos Estados
Unidos. Apesar do nome provocativo, o tal ato de revolta do Pearl
Jam é, na verdade, um presentão
para os órfãos da "geração X",
vindo embalado com o melhor
das guitarras do virtuoso Mike
McCready e de Stone Gossard,
além do baixo e da bateria seguros
de Jeff Ament e Matt Cameron.
Das acústicas "Can't Keep" (ao
menos em parte, já que não podemos esquecer que estamos pisando em território grunge), "Thumbing My Way" e "All or None" às
mais familiares "I Am Mine" e
"Save You", passando pelas esquisitonas "You Are" e "Help,
Help", "Riot Act" parece ter nascido a partir da garimpagem das
pérolas mais valiosas destes 11
anos de banda.
A voz de Vedder, aleluia, menos
enjoativa do que de costume, serve bem ao punk, ao country ou à
simples panfletagem de suas bandeiras. "Bushleaguer", por exemplo, é um recadinho pouco simpático ao atual presidente Bush;
"Green Disease", com sua levada
à Joy Division, questiona -e não
perde a chance de tirar um sarro
de- o consumismo; e finalmente, "Love Boat Captain", uma das
raras vezes em que se vê o grupo
experimentar com tecladinhos na
linha de "Kid A" (disco "espacial"
do Radiohead), presta homenagem aos nove garotos mortos durante o show do Pearl Jam no festival de Roskilde, na Dinamarca,
em junho de 2000.
Para um cara consciente -alguém aí disse mala?!- como
Vedder, é claro que o 11 de setembro também iria transbordar pelas arestas deste "Riot Act". "Todos estão tentando, mas este
mundo é um acidente" ("Cropduster"). "É uma situação sem esperança/ e estou começando a
acreditar/ que essa situação/ é
exatamente o que quero alcançar"
("All or None"). "Toda a inocência perdida de uma só vez" e "Eu
sei que nasci/ e sei que vou morrer/ mas neste meio-tempo eu sou
meu" ("I Am Mine").
Vedder, em seu papel bem interpretado de líder, ri pouco, mas
não estraga a festa (revolta, aqui,
poderia ser entendida, possivelmente, como as performances
festeiras dos ativistas do Reclaim
the Streets). O entrosamento entre Cameron e Ament, a distinta
cozinha do Pearl Jam, é inabalável. Em entrevista à revista "Billboard", o baterista comentou que
gravou a última parte da visceral
"Save You" sem os fones de ouvido, só acompanhando os dedos
no baixo de Ament, autor das faixas mais rockers do disco (como
"Ghost", "Get Right" e "1/2 Full").
Gossard e McCready, que continuam não se envergonhando em
passar recibo de fãs de Zeppelin e
Hendrix, de Smiths e The Cure,
também estão entre os culpados
por este "Riot Act". Rato de estúdio, em "You Are", McCready resolve tocar bateria. Detalhe: usando uma guitarra e um processador de efeitos que transforma as
palhetadas do instrumento em
sons de bateria e vice-versa.
Para os que não se contentam
em depender dos empoeirados
lançamentos do baú Nirvana,
"Riot Act" é um valioso produto
dos anos 90. Só que o "cheiro da
adolescência", neste caso, está
mais fresco do que nunca.
Riot Act
Artista: Pearl Jam
Lançamento: 11/11, pela Sony Music
Quanto: R$ 25 (preço estimado)
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