São Paulo, Quarta-feira, 08 de Dezembro de 1999


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RESENHA
Que importa quem matou?

especial para a Folha


O argumento de "Vento Sudoeste", nova aventura do detetive Espinosa, é impactante e irresistível. Trata-se de um romance policial no qual o que importa não é descobrir quem é o assassino, mas qual das personagens será assassinada.
Gabriel, um jovem administrador de empresas, ouvira de um vidente desconhecido, em sua festa de aniversário, a previsão de que iria matar alguém antes que fizesse anos novamente. Agora, seu aniversário está próximo e ele está atormentado com a possibilidade de se tornar um assassino.
Ele procura o delegado Espinosa, que, provavelmente ao contrário de qualquer outro similar seu de carne e osso, dá crédito à história. Não chega a ser um caso, porque não há crime -isto é, até certo momento do livro.
Quando mortes estranhas começam a acontecer, o romance dá uma reviravolta e põe no leitor, seguro de que Gabriel iria cometer algum assassinato, a dúvida comum à boa leitura policial: quem é o assassino? É mesmo o matador anunciado ou outra pessoa? O leitor, como o pacato e solitário Espinosa, está atônito.
A leitura avança rapidamente. Mas a opção de Garcia-Roza por colocar a primeira morte na metade do livro -e não, talvez, um pouco mais tarde- dá a impressão de que abandona aí um caminho mais radical e ainda mais claustrofóbico, preterindo assim a estrutura do romance policial.
A lolita de 13 anos, amiga do delegado, por exemplo, parece querer um pouco mais da relação quando insinua: "Sei que você não é cego, apesar de às vezes não enxergar as coisas". Em defesa do autor, pode-se dizer que tampouco seria coerente com o perfil de policial honesto, próprio de Espinosa, fazê-lo trilhar o caminho da pedofilia...
A não-resolução completa do crime também é uma opção complicada feita pelo escritor, perfeitamente entendida apenas quando ele próprio explica seu interesse, não no mistério em si, mas na psicologia das personagens.
Feitas estas observações mais relacionadas ao gosto de quem lê, é preciso dizer que nada disso chega a desmerecer "Vento Sudoeste", bom policial e entretenimento -como assim deve ser toda obra que se preze. Merece longa vida o delegado Espinosa.
(CM)


Avaliação:   

Livro: Vento Sudoeste Autor: Luiz Alfredo Garcia-Roza Editora: Companhia das Letras Quanto: R$ 23 (210 págs.)

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