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RESENHA
Que importa quem matou?
especial para a Folha
O argumento de
"Vento Sudoeste",
nova aventura do
detetive Espinosa, é
impactante e irresistível. Trata-se de
um romance policial no qual o
que importa não é descobrir
quem é o assassino, mas qual das
personagens será assassinada.
Gabriel, um jovem administrador de empresas, ouvira de um vidente desconhecido, em sua festa
de aniversário, a previsão de que
iria matar alguém antes que fizesse anos novamente. Agora, seu
aniversário está próximo e ele está
atormentado com a possibilidade
de se tornar um assassino.
Ele procura o delegado Espinosa, que, provavelmente ao contrário de qualquer outro similar seu
de carne e osso, dá crédito à história. Não chega a ser um caso, porque não há crime -isto é, até certo momento do livro.
Quando mortes estranhas começam a acontecer, o romance dá
uma reviravolta e põe no leitor,
seguro de que Gabriel iria cometer algum assassinato, a dúvida
comum à boa leitura policial:
quem é o assassino? É mesmo o
matador anunciado ou outra pessoa? O leitor, como o pacato e solitário Espinosa, está atônito.
A leitura avança rapidamente.
Mas a opção de Garcia-Roza por
colocar a primeira morte na metade do livro -e não, talvez, um
pouco mais tarde- dá a impressão de que abandona aí um caminho mais radical e ainda mais
claustrofóbico, preterindo assim
a estrutura do romance policial.
A lolita de 13 anos, amiga do delegado, por exemplo, parece querer um pouco mais da relação
quando insinua: "Sei que você
não é cego, apesar de às vezes não
enxergar as coisas". Em defesa do
autor, pode-se dizer que tampouco seria coerente com o perfil de
policial honesto, próprio de Espinosa, fazê-lo trilhar o caminho da
pedofilia...
A não-resolução completa do
crime também é uma opção complicada feita pelo escritor, perfeitamente entendida apenas quando ele próprio explica seu interesse, não no mistério em si, mas na
psicologia das personagens.
Feitas estas observações mais
relacionadas ao gosto de quem lê,
é preciso dizer que nada disso
chega a desmerecer "Vento Sudoeste", bom policial e entretenimento -como assim deve ser toda obra que se preze. Merece longa vida o delegado Espinosa.
(CM)
Avaliação:
Livro: Vento Sudoeste
Autor: Luiz Alfredo Garcia-Roza
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 23 (210 págs.)
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