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Baseado em fábula infantil, "O Grinch" chega à telona personificado por Jim Carrey
Papai Noel: procura-se
Divulgação
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O ator Jim Carrey no papel de Grinch, personagem criado há 53 anos e que odeia o Natal |
Ator teve aulas com agente da CIA para lidar com a sensação de tortura produzida pela maquiagem
MILLY LACOMBE
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM LOS ANGELES
O antiPapai Noel chegou. Ele é
verde, odeia o Natal, não suporta
crianças, despreza presentes, é rabugento e você vai adorá-lo.
Grinch, o personagem criado há
53 anos por Theodor S. Geisel,
mais conhecido como dr. Seuss,
virou filme protagonizado por
Jim Carrey -e ganhou as páginas
dos cadernos de economia esta
semana depois de virar piada na
rede CNBC, que comparou
Grinch ao presidente do Banco
Central norte-americano, Alan
Greenspan, que anunciou medidas interpretadas como uma forma de roubar o espírito do Natal,
a exemplo do que tenta fazer o
personagem de Carrey.
O ator fez questão de lutar pelo
papel de Grinch. Durante as filmagens de "O Mundo de Andy",
fez o teste. Só havia um pequeno
problema: para viver o comediante Andy Kaufman, em "O Mundo
de Andy", Jim Carrey havia decidido ficar no personagem 24 horas por dia.
"Portanto, quem fez o teste foi
Andy, fazendo sua interpretação
de Carrey interpretando o
Grinch", disse Carrey à Folha.
"Andy fez um bom trabalho, e eu
consegui o papel. Para mim, foi
como uma manhã de Natal."
Mas a alegria não durou muito.
Por causa da roupa verde peluda,
da máscara que não o deixava respirar e da lente de contato que arranhava sua córnea, ele pensou
em desistir. "Eu estava sendo torturado oito, dez horas por dia." A
solução: levar para o set um agente da CIA especializado em fazer
militares lidarem com torturas.
Carrey foi treinado e acabou conseguindo superar os três meses de
agonia.
Folha - Os brasileiros desconhecem o Grinch. Quem é ele?
Jim Carrey - Grinch é a alienação.
Ele é aquela parte de todos nós
que, no Natal, se sente isolada, sozinha. Ele é aquela fase de nossa
vida em que fomos discriminados. É por isso que as histórias de
dr. Seuss são clássicas e importantes para adultos e crianças.
Folha - Você já se sentiu isolado?
Carrey - Muitas vezes. Eu me
senti assim quando cheguei a
Hollywood vindo do Canadá, onde nasci. Ou quando os meninos
da minha idade jogavam bola, e
eu ficava ensaiando piadas para
meus pais rirem. Por isso entendo
o Grinch e sei que, se houver alguém disposto a nos dar a mão,
todos podemos ser ajudados.
Folha - Como foi a experiência de
vestir aquela roupa e a máscara?
Carrey - Foi a mais dramática de
toda a minha vida. Eu ficava de
três a cinco horas na cadeira de
maquiagem todos os dias. A máscara não me deixava respirar, e eu
tinha uma sensação claustrofóbica. Fora a lente de contato, que cobria todo o meu globo ocular e eu
mal conseguia enxergar. A dentadura não me deixava falar, a máscara prendia minha pele.
Aí trouxeram um agente da CIA
para me treinar a suportar a dor.
Foi incrível. Aprendi que é uma
simples questão de foco. É só desfocar a dor e manter as coisas boas
em perspectiva. Foi fascinante.
Folha - Você acha que a Academia
e Hollywood sabem apreciá-lo como comediante, mas não como
ator dramático?
Carrey - Não me importo muito
com o que eles acham. Mas quero
me estabelecer como ator dramático também, porque a arte está
em ter a chance de fazer ambos.
Quando fiz "O Show de Truman",
tive de tirar camadas. Em "O
Grinch", tive de acrescentar camadas. E isso me intriga: trabalhar as duas coisas.
Meu próximo filme é um drama
que fala sobre a importância dos
sonhos em nossas vidas. Espero
conseguir continuar alternando
os dois gêneros. Se prêmios virão,
não me interessa. Eu faço a comida e a coloco na mesa. Quem quiser comer que coma (risos).
Folha - Sua veia cômica não seria
seu lado mais forte?
Carrey - No começo, precisava
me sentir especial. E o começo a
que me refiro é a minha adolescência. Por isso eu fazia questão
de entreter minha família. Passava dias me preparando, e a noite
de Natal era a noite do Jim Carrey
Show. Eu precisava saber que era
especial. Agora já não sou mais
assim, sei que sou absolutamente
desnecessário em termos cósmicos. O universo não precisa de
mim. Isso me libertou.
Folha - Alguns atores não assistem a seus próprios filmes. Você é
assim?
Carrey - De jeito nenhum. Eu
preciso me ver na tela. Vou contar
um segredo: eu me escondo nos
cinemas para ver o público reagir
a meus filmes. Faço isso há anos.
Folha - Você sempre quis ser famoso?
Carrey - Sempre. Tudo o que
aconteceu na minha vida foi por
mim visualizado na infância. Eu
acredito em milagres, acredito
que, se compartilharmos nossos
sonhos, existem forças que trabalharão para que aconteçam.
Folha - Esse filme critica a comercialização do Natal e, ao mesmo
tempo, vai faturar milhões exatamente por causa do Natal. Como
você vê isso?
Carrey - Esse é um filme que
transcende a comercialização do
Natal. É uma história sobre a intolerância.
Folha - Imagino que seja extremamente difícil para você lidar
com você mesmo.
Carrey - Você não imagina como
(risos). É por isso que leio três ou
quatro livros de auto-ajuda de
uma vez. Sou fascinado por esse
tipo de livro. Leio uns 20 por ano.
Folha - Onde você quer chegar?
Carrey - Busco o equilíbrio. Faço
ioga, medito, estou em uma dieta
de desintoxicação. A excitação é
inimiga do equilíbrio espiritual.
Estou aprendendo a me controlar
para ser uma pessoa mais equilibrada. Quem se deixa levar pelo
ego não chega a lugar nenhum.
Folha - O que faz você rir?
Carrey - Um bom tombo, alguém que faz uma besteira tremenda, minhas besteiras. Não rio
com piadas, rio de situações.
Folha - Qual a sua cor preferida?
Carrey - Verde. Verde é vida.
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