São Paulo, sexta-feira, 08 de dezembro de 2000

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CINEMA/ESTRÉIA

"ADEUS, LAR DOCE LAR"

Otar Iosseliani vê com olhar estrangeiro a degradação francesa

SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL

Um velho aristocrata observa um trenzinho de brinquedo. Ao seu lado, um cão ofegante. Enquanto ouve o barulho ininterrupto do brinquedo, o nobre senhor sorve grandes tragos de vinho e observa.
Seu olhar contempla fragmentos de dois mundos: o da degradação de sua família, provocado pelo apego da mulher aos prazeres e vícios de uma vida abastada, e o mundo das ruas de Paris, trazido a ele por Nico, o filho mais velho.
Esse senhor é Otar Iosseliani.
O cineasta georgiano radicado na França dirige "Adeus, Lar Doce Lar" e faz um dos personagens.
A fita, de diálogos curtos, acompanha os passos de Nico, esse jovem primogênito de uma rica família parisiense habitante de uma mansão nos arredores da cidade.
Nessa casa, ao mesmo tempo em que suas jovens irmãzinhas se divertem passeando em jardins impecáveis, com cavalos de crinas bem cuidadas, sua mãe vive uma vida devassa e seu pai (interpretado por Iosseliani) passa o tempo todo embriagando-se e embalando-se pelo som do trenzinho.
Diante desse cenário desolador, Nico adota uma dupla postura. Em casa, veste a máscara do bom-moço de sangue azul, veste-se de terno para tomar café da manhã e comparece sorridente aos convescotes promovidos pela mãe. Na rua, transforma-se. De jeans e patins, associa-se a mendigos, comete pequenos crimes e trabalha lavando pratos e vidros de lojas.
Diante dos olhos do rapaz desfilam faces e comportamentos da França contemporânea e multiétnica. Surgem o racismo, o desemprego -este como uma velha novidade que já não comove os franceses- e a violência.
Iosseliani foca sua ironia na efemeridade das relações entre as pessoas. Protagonistas e figurantes trocam de posição em cenas diferentes, que correm paralelas à narrativa principal. Nelas, ora o oprimido age cruelmente, ora é o opressor quem se vê em apuros.
Em "Adeus, Lar Doce Lar", ele constrói uma ponte entre dois mundos em crise -a família e a sociedade parisiense. Poderia ser um retrato de uma situação específica, localizada na Paris deste final de século. É o olhar estrangeiro de Iosseliani, porém, que faz da trama uma história abrangente e transportável a outras realidades.



Adeus, Lar Doce Lar
Adieu, Plancher des Vaches
   
Direção: Otar Iosseliani
Produção: França, 1999
Com: Nico Tarielashvili, Lili Lavina, Philippe Bas, Otar Iosseliani
Quando: a partir de hoje no Espaço Unibanco e na Sala UOL de Cinema















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