São Paulo, quarta-feira, 08 de dezembro de 2004

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ANÁLISE

Indícios de ebulição cercam criação da Ancinav

ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Estamos às vésperas da reunião do Conselho Superior de Cinema, no próximo dia 17, responsável pela aprovação da Ancinav (Agência Nacional do Cinema e do Audiovisual).
A nova agência parece uma gota no oceano quando se pensa na amplitude e relevância dos problemas que a agência não abarca. Mas a aprovação dessa base regulatória mínima é estratégica para a formulação de modelos democráticos de gestão do audiovisual.
Os indícios de ebulição são de ordens diversas. A fusão da Sky com a DirectTV ameaça a TV por satélite com o monopólio, ampliando também a extensão do império Murdoch para o Brasil, em aliança com a Globo.
Em outro nível, mais local e menos virtual, as emissoras de TV aberta já não convivem em uma mesma associação. A fundação da Abra, que reúne SBT, Record, Rede TV! e Bandeirantes, alternativa à tradicional Abert, que ficou com a Rede Globo, sinaliza que a divisão do setor se aprofunda.
Quanto à programação, os alinhamentos se modificam. As emissoras que, do ponto de vista corporativo, se alinham a favor da diversidade, concentram a chamada baixaria, uma programação em larga medida uniforme. Ainda não se fala no ponto nevrálgico do setor: a concessão de canais.
Seria de esperar que contratos técnicos de exploração de concessões incluíssem projetos de conteúdo, de forma que nos momentos de renovação o poder público, auxiliado por organismos da sociedade civil, pudesse avaliar programas, oferecidos à luz do que foi prometido. Seria desejável que se estimulasse o investimento na pesquisa de conteúdo, de maneira descentralizada, que impulsionasse a produção independente.
A Ancinav pode vir a representar um passo na construção de mecanismos que desfavoreçam monopólios e estimulem a qualidade da programação, preparando o Brasil para fazer valer a especificidade estética e técnica de sua produção de cinema, televisiva e nas novas mídias.


Esther Hamburger é antropóloga e professora da ECA-USP

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