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ANÁLISE
Indícios de ebulição cercam criação da Ancinav
ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA
Estamos às vésperas da reunião do Conselho Superior de
Cinema, no próximo dia 17, responsável pela aprovação da Ancinav (Agência Nacional do Cinema e do Audiovisual).
A nova agência parece uma gota
no oceano quando se pensa na
amplitude e relevância dos problemas que a agência não abarca.
Mas a aprovação dessa base regulatória mínima é estratégica para
a formulação de modelos democráticos de gestão do audiovisual.
Os indícios de ebulição são de
ordens diversas. A fusão da Sky
com a DirectTV ameaça a TV por
satélite com o monopólio, ampliando também a extensão do
império Murdoch para o Brasil,
em aliança com a Globo.
Em outro nível, mais local e menos virtual, as emissoras de TV
aberta já não convivem em uma
mesma associação. A fundação da
Abra, que reúne SBT, Record, Rede TV! e Bandeirantes, alternativa
à tradicional Abert, que ficou com
a Rede Globo, sinaliza que a divisão do setor se aprofunda.
Quanto à programação, os alinhamentos se modificam. As
emissoras que, do ponto de vista
corporativo, se alinham a favor da
diversidade, concentram a chamada baixaria, uma programação
em larga medida uniforme. Ainda
não se fala no ponto nevrálgico do
setor: a concessão de canais.
Seria de esperar que contratos
técnicos de exploração de concessões incluíssem projetos de conteúdo, de forma que nos momentos de renovação o poder público,
auxiliado por organismos da sociedade civil, pudesse avaliar programas, oferecidos à luz do que
foi prometido. Seria desejável que
se estimulasse o investimento na
pesquisa de conteúdo, de maneira
descentralizada, que impulsionasse a produção independente.
A Ancinav pode vir a representar um passo na construção de
mecanismos que desfavoreçam
monopólios e estimulem a qualidade da programação, preparando o Brasil para fazer valer a especificidade estética e técnica de sua
produção de cinema, televisiva e
nas novas mídias.
Esther Hamburger é antropóloga e
professora da ECA-USP
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