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Crítica/"Filhos da Esperança"
Cuarón conta história com energia, mas falha no final
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
De um cineasta como Alfonso Cuarón, cujo nome já transitou pelos
créditos de filmes tão diferentes quanto "Grandes Esperanças", "E Sua Mãe Também" e
"Harry Potter e o Prisioneiro
de Azkaban", pode-se esperar
tudo e quase nada.
Sua capacidade de emprestar
um certo domínio de linguagem aos projetos mais diversos
garante um novo estilo a cada
filme -mas sempre pagando o
preço da impessoalidade do "cineasta profissional". Ou seja:
Cuarón entrega produtos que
obedecem aos padrões de qualidade de um certo cinema internacional, mesmo em um
projeto mais pessoal, como "E
Sua Mãe Também".
Em "Filhos da Esperança",
ficção científica adaptada do livro de P.D. James, Cuarón volta a demonstrar inegável capacidade de contar uma história
com energia. Sua habilidade
maior está no desenho, preciso,
de seqüências complexas, como a perseguição ao carro no
qual os protagonistas viajam
em fuga e que culmina no brutal ataque que marca a primeira
"virada" da trama.
Cuarón cuida para que o espectador acompanhe a história
com interesse: os atores estão
ótimos; e o roteiro garante que
possam ser feitas relações
constantes com o presente.
A ação se situa em 2027,
quando a imigração em massa,
descontrolada, virou pretexto
para um controle totalitário do
governo. O mais grave, porém,
é um fato biológico: o mundo
vive uma crise de fertilidade e,
há 18 anos, não nasce uma
criança na face da Terra. Um
homem comum (Clive Owen) é
convocado pela líder de um
grupo terrorista (Julianne
Moore) a escoltar e proteger
uma mulher que aparece grávida até o grupo "Human Project", tão clandestino que nem
se sabe se é mito ou realidade.
Talvez o ponto mais questionável de "Filhos..." esteja na
forma com que o roteiro manipula idéias e trabalha sentimentos ambíguos da audiência
sem outra motivação que não
seja dar impulso à sua trama.
Tal opção ganha corpo até dominar por completo o filme em
seu final, um tanto óbvio.
FILHOS DA ESPERANÇA
Direção: Alfonso Cuarón
Produção: EUA/Inglaterra, 2006
Com: Clive Owen, Julianne Moore
Quando: a partir de hoje nos cines Bristol, Eldorado e circuito
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