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DISCO CRÍTICA
Novo CD louva o poder emotivo do blues
da Redação
Exigir que um músico, com 73
anos de idade e cinco décadas de
carreira, surpreenda em um novo
trabalho parece exagero. Mas é
exatamente isso que B.B. King
consegue em "Blues on the Bayou", CD lançado em outubro nos
Estados Unidos e que agora chega
ao Brasil.
E a justificativa para tamanha
proeza deriva da simplicidade com
que o guitarrista encarou o projeto. De forma resumida, pode-se dizer que B.B. King voltou a ser B.B.
King neste disco.
Explico: como seu fãs, King sabe
que seus trabalhos mais marcantes
foram gravados ao vivo, com o
músico no palco.
"Live at the Regal", "Live at the
Cook County Jail" e "Completely
Live & Well" são apenas alguns
exemplos.
Essa certeza deu ao guitarrista a
primeira idéia na concepção do
disco. Levar a banda que divide o
palco com ele 225 noites por ano
até um estúdio no meio dos pântanos da Louisiana.
Enclausurados no local, eles passaram quatro dias tocando músicas exclusivamente compostas por
B. B. King, algumas antigas, outras
recentes, todas baseadas no blues
tradicional com requintes de modernidade.
Exageros foram postos de lado.
O CD não traz convidados especiais -como "Blues Summit" e
"Deuces Wild", os dois trabalhos
anteriores de King.
Não há "overdubs" -técnica
usada para gravar músicos separadamente. Até os produtores foram
dispensados do projeto. Tudo é
obra de B.B. King.
Ele responde pela produção, pela
supervisão da banda, pelas composições. E o resultado é o melhor
disco que o guitarrista registrou
em estúdio.
Está ali o fraseado de guitarra reticente, que respeita a exigência de
respiração das músicas.
Há também a voz de King, da
qual os anos não conseguiram subtrair nenhuma centelha do vigor
do início da carreira.
Embalando isso, há uma banda
que domina, com poucos concorrentes à altura, as sutilezas da dinâmica musical no blues.
Dessa coesão resulta a uniformidade do trabalho, o que torna difícil selecionar as melhores faixas de
"Blues on the Bayou".
Em todo caso, merecem menção
-principalmente por seus dotes
composicionais- a funkeada
"Bad Case of Love", a dançante
"Shake it up and Go" e a releitura
de "I Got some Help I Don't Really
Need".
Exemplos de estilos variados do
blues e de correção na abordagem,
essas músicas funcionam com um
tripé que torna flagrantes as pedras de toque do trabalho: a simplicidade e o relaxamento dos músicos no estúdio.
É reconfortante saber que, às
vésperas do século 21, King põe de
lado as facilidades tecnológicas e
produz um grande disco.
Mais do que uma coleção de 15
pérolas blueseiras, "Blues on the
Bayou" é um canto em louvor ao
poder emotivo da música e dos
músicos.
²
Disco: Blues on the Bayou
Artista: B.B. King
Lançamento: MCA
Quanto: R$ 18, em média
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