São Paulo, terça, 8 de dezembro de 1998

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DISCO CRÍTICA
Novo CD louva o poder emotivo do blues

da Redação

Exigir que um músico, com 73 anos de idade e cinco décadas de carreira, surpreenda em um novo trabalho parece exagero. Mas é exatamente isso que B.B. King consegue em "Blues on the Bayou", CD lançado em outubro nos Estados Unidos e que agora chega ao Brasil.
E a justificativa para tamanha proeza deriva da simplicidade com que o guitarrista encarou o projeto. De forma resumida, pode-se dizer que B.B. King voltou a ser B.B. King neste disco.
Explico: como seu fãs, King sabe que seus trabalhos mais marcantes foram gravados ao vivo, com o músico no palco.
"Live at the Regal", "Live at the Cook County Jail" e "Completely Live & Well" são apenas alguns exemplos.
Essa certeza deu ao guitarrista a primeira idéia na concepção do disco. Levar a banda que divide o palco com ele 225 noites por ano até um estúdio no meio dos pântanos da Louisiana.
Enclausurados no local, eles passaram quatro dias tocando músicas exclusivamente compostas por B. B. King, algumas antigas, outras recentes, todas baseadas no blues tradicional com requintes de modernidade.
Exageros foram postos de lado. O CD não traz convidados especiais -como "Blues Summit" e "Deuces Wild", os dois trabalhos anteriores de King.
Não há "overdubs" -técnica usada para gravar músicos separadamente. Até os produtores foram dispensados do projeto. Tudo é obra de B.B. King.
Ele responde pela produção, pela supervisão da banda, pelas composições. E o resultado é o melhor disco que o guitarrista registrou em estúdio.
Está ali o fraseado de guitarra reticente, que respeita a exigência de respiração das músicas.
Há também a voz de King, da qual os anos não conseguiram subtrair nenhuma centelha do vigor do início da carreira.
Embalando isso, há uma banda que domina, com poucos concorrentes à altura, as sutilezas da dinâmica musical no blues.
Dessa coesão resulta a uniformidade do trabalho, o que torna difícil selecionar as melhores faixas de "Blues on the Bayou".
Em todo caso, merecem menção -principalmente por seus dotes composicionais- a funkeada "Bad Case of Love", a dançante "Shake it up and Go" e a releitura de "I Got some Help I Don't Really Need".
Exemplos de estilos variados do blues e de correção na abordagem, essas músicas funcionam com um tripé que torna flagrantes as pedras de toque do trabalho: a simplicidade e o relaxamento dos músicos no estúdio.
É reconfortante saber que, às vésperas do século 21, King põe de lado as facilidades tecnológicas e produz um grande disco.
Mais do que uma coleção de 15 pérolas blueseiras, "Blues on the Bayou" é um canto em louvor ao poder emotivo da música e dos músicos.
²

Disco: Blues on the Bayou
Artista: B.B. King
Lançamento: MCA
Quanto: R$ 18, em média



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