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CRÍTICA
Vão-se os cães, ficam os amores
SYLVIA COLOMBO
EDITORA-ADJUNTA DA ILUSTRADA
Outro acidente, desta vez com
vítimas fatais. A metáfora preferida do mexicano Alejandro Iñárritu -o choque brutal e sangrento
entre carros e carnes humanas-
serve de novo para entrelaçar destinos neste "21 Gramas". Desta
vez, porém, as histórias não versam sobre amores e cães, mas tangem temas como a culpa, a morte
e os limites do livre-arbítrio.
Se no elogiado "Amores Brutos" (2000), o acidente surgia quase como se fizesse parte do cenário da caótica Cidade do México,
agora ele irrompe num pacato
bairro residencial de uma cidade
norte-americana. Se daquela vez
cruzavam-se três enredos melodramáticos, agora a história emparelha corações que estão, literalmente, hesitando entre as razões de estar vivo enquanto espreitam a morte de soslaio.
Sean Penn vive um professor de
matemática à espera de um transplante de coração. Benício del Toro, um ex-condenado que virou
religioso, e Naomi Watts, uma ex-viciada agora feliz e casada.
Para quem não aguenta mais filmes contados de trás para a frente
ou de narrativa fragmentada, um
aviso. Aqui, o fato de Iñárritu não
seguir uma linha cronológica clara não é nada gratuito. Primeiro,
porque cada trecho representa
um pequeno recomeço, numa
história que é sobre o despertar e
a superação de culpas. Depois,
porque o recurso permite embaralhar a idéia de que o passado necessariamente valida ou possibilita o futuro, numa espécie de investigação sobre os limites do livre-arbítrio.
Iñárritu se irritava quando
comparavam seu "Amores Brutos" aos filmes de Quentin Tarantino. Dizia que sua violência não
vinha dos quadrinhos, dos clipes.
Era real e nascia daquilo que cresceu vendo na Cidade do México.
Daí, talvez, se explique ter feito
um filme com menos concessões,
em que a brutalidade e a desesperança aparecem nuas e o que havia de exagerado ou de novelesco
na trama dos cães desaparece.
Por isso também a imagem granulada, os rostos lavados e os lábios sem cor. Não há sinal do que
havia em "Amores Brutos" de televisivo, publicitário ou melodramático -ainda que esses elementos não o desmerecessem. "21
Gramas", é, porém, mais cinema.
21 Gramas
21 Grams
Produção: EUA
Direção: Alejandro Iñárritu
Com: Sean Penn, Benício del Toro
Quando: a partir de hoje nos cines Frei
Caneca Unibanco Arteplex 1, Bristol 6 e
circuito
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