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"21 GRAMAS"
Com chances de ser indicado ao Oscar, ator porto-riquenho reconhece dificuldades de ser latino em Hollywood
Del Toro expõe demônios e ganha prestígio
LUISITA LOPEZ TORREGROSSA
DO "THE NEW YORK TIMES"
Emergindo das sombras vespertinas que recobrem o jardim do
hotel Chateau Marmont, Benicio
Del Toro caminha para o restaurante do pátio, as mãos nos bolsos
de seu jeans, os olhos semicerrados devido ao sol intenso. Ele não
se apressa e parece não perceber a
comoção que sua presença causa
entre os fregueses do almoço. É
uma reação surpreendente, em
um lugar onde celebridades vêm e
vão virtualmente despercebidas.
Mesmo que seu rosto não parecesse familiar, a aparência do ator
-olhos reptilianos, sedutores,
boca carnuda- atrairia o olhar.
Aos 36 anos, com 1,87 m de altura,
peito e braços fortes, ele irradia
força, pura masculinidade felina.
De mais perto, parece sonolento, um pouco amarfanhado. Ordena um expresso, imediatamente. Os últimos dias, diz, foram
uma sucessão de entrevistas, momentos cansativos.
E ele a faz alegremente para promover "21 Gramas", um estudo
provocante sobre a morte, a dor e
a esperança, centrado em um trágico acidente e nas três vidas que
este leva a colidir. O filme pode
valer a Del Toro uma indicação ao
Oscar (prêmio que ele já ganhou
em 2000, como ator coadjuvante
de "Traffic").
Del Toro chamou a atenção na
metade dos anos 90 por papéis bizarros em filmes como "Os Suspeitos" e "Medo e Delírio". Após
"Traffic", passou a integrar a lista
de astros de Hollywood, embora
não ainda como um dos mais
bens pagos.
Em "21 Gramas", Del Toro interpreta Jack Jordan, um bandido
bêbado e violento que encontra a
religião, mas que se vê dilacerado
pelo destino antes que obtenha,
por fim, certa medida de redenção. Em um filme de almas condenadas, a de seu personagem é,
provavelmente, a mais perdida
-e a mais nobre.
Che
Del Toro já está pensando no futuro, em um projeto que se tornou sua paixão. Ele procura financiamento para produzir
"Che", um épico sobre o último
ano de vida do revolucionário,
que deve ser dirigido por Terrence Malick ("Terra de Ninguém").
Filho de advogados, Beno foi
criado em um bairro de classe
média alta em San Juan (Porto Rico). "Eu não ia nada bem na escola católica onde estudei", conta.
Passava dias inteiros no cinema, e
se tornou um "encrenqueiro".
No início da idade adulta, viveu
um período atribulado. Após passar por San Diego, Nova York e
Los Angeles, Del Toro finalmente
estabeleceu-se nessa última cidade, ao conseguir uma bolsa para o
Stella Adler Conservatory.
Como muitos atores, ele teve
uma carreira pedregosa em
Hollywood. Ser latino não ajudou. "Isso me limita", admite.
Ser porto-riquenho é uma coisa.
Ser temperamental é outra. Del
Toro não é uma alma tímida, todos concordam. É um dos "bad
boys" de Hollywood. É também
um sujeito um tanto solitário, solteiro, morando em um apartamento de Los Angeles, cercado de
livros e discos.
Sobre mulheres, ele só diz que
namora alguém. Não faz o jogo
dos paparazzi.
Após 28 filmes, pode ser hora de
perguntar se ele é capaz de carregar um longa sozinho. Quando
Benicio Del Toro conquistará o
papel principal em um filme romântico? Essa pergunta, diz, não
o incomoda.
"Mas, ei", acrescenta, zombeteiro, "será que eu gostaria de ser
aquele cara que tem um sonho no
qual ninguém acredita e que, no
final, fica com a garota e o troféu?
Sim, eu adoraria ser esse cara".
Tradução de Paulo Migliacci
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