São Paulo, sexta-feira, 09 de janeiro de 2004

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"21 GRAMAS"

Com chances de ser indicado ao Oscar, ator porto-riquenho reconhece dificuldades de ser latino em Hollywood

Del Toro expõe demônios e ganha prestígio

LUISITA LOPEZ TORREGROSSA
DO "THE NEW YORK TIMES"

Emergindo das sombras vespertinas que recobrem o jardim do hotel Chateau Marmont, Benicio Del Toro caminha para o restaurante do pátio, as mãos nos bolsos de seu jeans, os olhos semicerrados devido ao sol intenso. Ele não se apressa e parece não perceber a comoção que sua presença causa entre os fregueses do almoço. É uma reação surpreendente, em um lugar onde celebridades vêm e vão virtualmente despercebidas.
Mesmo que seu rosto não parecesse familiar, a aparência do ator -olhos reptilianos, sedutores, boca carnuda- atrairia o olhar. Aos 36 anos, com 1,87 m de altura, peito e braços fortes, ele irradia força, pura masculinidade felina.
De mais perto, parece sonolento, um pouco amarfanhado. Ordena um expresso, imediatamente. Os últimos dias, diz, foram uma sucessão de entrevistas, momentos cansativos.
E ele a faz alegremente para promover "21 Gramas", um estudo provocante sobre a morte, a dor e a esperança, centrado em um trágico acidente e nas três vidas que este leva a colidir. O filme pode valer a Del Toro uma indicação ao Oscar (prêmio que ele já ganhou em 2000, como ator coadjuvante de "Traffic").
Del Toro chamou a atenção na metade dos anos 90 por papéis bizarros em filmes como "Os Suspeitos" e "Medo e Delírio". Após "Traffic", passou a integrar a lista de astros de Hollywood, embora não ainda como um dos mais bens pagos.
Em "21 Gramas", Del Toro interpreta Jack Jordan, um bandido bêbado e violento que encontra a religião, mas que se vê dilacerado pelo destino antes que obtenha, por fim, certa medida de redenção. Em um filme de almas condenadas, a de seu personagem é, provavelmente, a mais perdida -e a mais nobre.

Che
Del Toro já está pensando no futuro, em um projeto que se tornou sua paixão. Ele procura financiamento para produzir "Che", um épico sobre o último ano de vida do revolucionário, que deve ser dirigido por Terrence Malick ("Terra de Ninguém").
Filho de advogados, Beno foi criado em um bairro de classe média alta em San Juan (Porto Rico). "Eu não ia nada bem na escola católica onde estudei", conta. Passava dias inteiros no cinema, e se tornou um "encrenqueiro".
No início da idade adulta, viveu um período atribulado. Após passar por San Diego, Nova York e Los Angeles, Del Toro finalmente estabeleceu-se nessa última cidade, ao conseguir uma bolsa para o Stella Adler Conservatory.
Como muitos atores, ele teve uma carreira pedregosa em Hollywood. Ser latino não ajudou. "Isso me limita", admite.
Ser porto-riquenho é uma coisa. Ser temperamental é outra. Del Toro não é uma alma tímida, todos concordam. É um dos "bad boys" de Hollywood. É também um sujeito um tanto solitário, solteiro, morando em um apartamento de Los Angeles, cercado de livros e discos.
Sobre mulheres, ele só diz que namora alguém. Não faz o jogo dos paparazzi.
Após 28 filmes, pode ser hora de perguntar se ele é capaz de carregar um longa sozinho. Quando Benicio Del Toro conquistará o papel principal em um filme romântico? Essa pergunta, diz, não o incomoda.
"Mas, ei", acrescenta, zombeteiro, "será que eu gostaria de ser aquele cara que tem um sonho no qual ninguém acredita e que, no final, fica com a garota e o troféu? Sim, eu adoraria ser esse cara".


Tradução de Paulo Migliacci


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