São Paulo, sexta-feira, 09 de janeiro de 2009

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Crítica/"O Dia em que a Terra Parou"

Ficção científica não consegue mais impressionar público

Refilmagem de clássico dos anos 50 de Robert Wise, com Keanu Reeves e Jennifer Connelly, não vai além das boas intenções

ALESSANDRO GIANNINI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Entre a refilmagem de "O Dia em que a Terra Parou", que estreia hoje em circuito nacional, e o original de 1951, que está disponível para locação e venda, há algumas diferenças que ajudam a explicar por que nenhum dos dois filmes consegue emocionar mais ou causar impressão.
Elas vão muito além da simples troca de atores, dos diferentes desenhos de alguns personagens ou da forma das naves que trazem Klaatu, o alienígena interpretado primeiro por Michael Rennie e agora por Keanu Reeves, para a Terra.
Na década de 50, quando Robert Wise foi convidado pela Fox para dirigir a adaptação de um obscuro conto de ficção científica, os Estados Unidos estavam no auge da Guerra Fria. A disputa pela hegemonia mundial com a União Soviética, que se estendeu do fim da Segunda Guerra Mundial até a queda do Muro de Berlim, havia atingido o cume. A ideia do "inimigo invisível", que poderia ser qualquer pessoa, criara a sensação generalizada de insegurança e produzira uma paranoia em larga escala.
Scott Derrickson, que assina a refilmagem com Reeves e Jennifer Connelly nos papéis principais, vive em um país em "guerra contra o terrorismo".
Dois conflitos consecutivos em diferentes regiões do Oriente Médio criaram as mesmas sensações de insegurança e medo em escala mundial, além de reacender velhos preconceitos contra populações e etnias inteiras. Há, ainda, a questão do meio ambiente e do esgotamento do planeta -o aquecimento global negado por Bush.
É bem verdade que o Klaatu de Rennie e o robô Gort que o acompanhava parecem hoje pouco ameaçadores. E o governo americano, representado pelo personagem de Marshall Bradford, apesar de conservador, preservava o diálogo. O alienígena de Reeves e seu acompanhante parecem e são, como se verá ao longo do novo filme, muito mais impressionantes. Tanto quanto o governo que os detém para averiguações e testes, espelhado pela Secretária de Defesa irredutível de Kathy Bates.
Se tanto Wise quanto Derrickson destinaram todos os recursos disponíveis para os melhores efeitos visuais, nenhum dos dois teve o cuidado de evitar o pecado do didatismo e das boas intenções. E destas, como se sabe, o mundo atual está cheio -e certamente não quer mais saber delas.


O DIA EM QUE A TERRA PAROU
Produção: EUA, 2008
Direção: Scott Derrickson
Com: Keanu Reeves, Jennifer Connelly e Kathy Bates
Quando: estreia hoje nos cines Pátio Higienópolis 6, Frei Caneca Unibanco Arteplex 3 e circuito
Classificação indicativa: não recomendado para menores de 10 anos
Avaliação: regular


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