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ANÁLISE
Cineasta do desamor e da angústia
da Reportagem Local
Diretor fetiche para um público
repleto de esperanças, desejoso de
um cinema possível à margem da
produção industrial, Ingmar Bergman, durante anos, foi o soldado
que abandonou a batalha, mas
continuou, pela lembrança dos
atos de heroísmo anteriores, ainda
assim honrado.
Por afirmar que nada mais tinha
para dizer, Bergman se retirou em
1984. Seus fiéis seguidores, de
qualquer maneira, continuaram a
ouvir seus ecos.
Eram então notícias esparsas.
Um roteiro filmado por outro,
dando conta de sua rigorosa e difícil infância na Suécia -ele, nascido em uma família luterana em
1918. Um novo cineasta estaria
tentando elucidar um pouco o segredo de sua retirada.
E havia ainda os rumores de que
estava agora no teatro, para uma
peça ou uma ópera.
Mas em Bergman esse não é o
novo território, e sim o antigo, que
para ele equivale a uma missão.
Entende-se aqui por território o
teatro e o mistério que, para ele,
eram um mesmo objeto.
O cinema sempre foi um teatro,
afirmou tantas vezes. Um teatro de
onde (e de maneira até então nunca vista) se desprendiam as imagens, o rigor e a genialidade essencialmente cinematográficas.
Há então "O Sétimo Selo" (1956)
e "Morangos Silvestres" (1957),
em que se percebe nitidamente de
que maneira encena e representa
suas dúvidas primordiais, sua ambiciosa investigação metafísica.
Bergman quer saber, como todos,
o que faz no mundo e se há algo, ou
um ser, que determina nossos destinos.
E há também as relações emocionais em plena crise, a política e a
psicanálise. Há "Persona" (1966),
obra única e ainda hoje um desafio. Nesse filme, Bergman nos conta um pouco da história da humanidade e muito sobre seu duvidoso
futuro.
Fala de cinema e seu status de
obra de arte. Ilustra a diferença entre o amor e a dependência amorosa e, por fim, lança aos olhos do
espectador um mundo de angústia
emocional (expressão tão rigorosamente bergmaniana) que, ele sabe, o perseguirá para sempre.
Mas Bergman tem nos mostrado
que sobreviverá à sensação de estar acossado. À maneira de seus
personagens, vê -e nos mostra-
o que pode haver de beleza no incompreensível.
(MARCELO REZENDE)
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