São Paulo, sexta, 9 de janeiro de 1998.




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Sony relança ópera com Bidu Sayão

especial para a Folha

Há 50 anos, uma soprano brasileira participava da primeira gravação de ópera completa feita na América. A Sony aproveita a efeméride para relançar "La Bohème", de Puccini, na série "Masterworks ...eritage", com Bidu Sayão como Mimì.
Sayão, 95, estreou no Metropolitan de Nova York em 1937. Cantou na companhia até 1952, participando de 155 apresentações, com Mimì (31 vezes) sendo o papel mais frequente.
A escolha da brasileira para o papel principal foi, portanto, natural, quando a gravadora Columbia, associada ao Metropolitan, resolveu fazer o registro de "La Bohème". Sayão estava com 45 anos, no auge da forma vocal, e ganhara notoriedade com a gravação das "Bachianas Brasileiras nº 5", de Villa-Lobos, sob regência do compositor, lançada dois anos antes.
As sessões de gravação foram feitas com o teatro vazio e sem ação cênica, nos dias 7, 14 e 21 de dezembro de 1947.
Na época, o Metropolitan ainda ficava na esquina da Broadway com a rua 39 (a mudança para o teatro atual, no Lincoln Center, ocorreu em 1966).
Foi a única vez em que Sayão gravou uma ópera completa -os outros registros disponíveis, do "Romeu e Julieta", de Gounod, "Rigoletto", de Verdi, e "As Bodas de Fígaro", de Mozart, são gravações ao vivo de transmissões radiofônicas.
Seu parceiro, no papel de Rodolfo, é o tenor norte-americano Richard Tucker (1913-1975), um artista ardente e cheio de energia que, em 1947, acabara de fazer sua estréia européia na ópera "La Gioconda", de Ponchielli, ao lado de uma grega chamada Maria Callas.
Tucker, que cantara Rodolfo pela primeira vez apenas um mês antes da gravação, é o parceiro ideal para a Mimì perfeita de Bidu Sayão. A voz da soprano está belíssima, mas o que mais impressiona é o poder de caracterização, com uma construção madura e expressiva do personagem.
Para os ouvidos de hoje, as maiores excentricidades ficam por conta do maestro Giuseppe Antonicelli (1897-1980), um italiano que trabalhou no Met entre 1947 e 1950. No final do 1º Ato, a ária "Che Gelida Manina" e o dueto "O Soave Fanciulla" estão transpostos meio tom para baixo. Ou seja: a parte mais conhecida da ópera é cantada em uma tessitura mais grave, e, na ária, o tenor não emita o dó agudo que todos os amantes de ópera se habituaram a esperar, mas fica na nota anterior, o si.
Evan Gorga, que interpretou Rodolfo na estréia de "La Bohème", em 1896, foi o primeiro tenor que, inseguro com relação a este dó, pediu a transposição de "Che Gelida Manina". Hoje, a prática caiu em desuso e parece mais ingênua que malandra, conferindo ao CD um doce sabor arcaico. (IFP)

Ópera: "La Bohème", de Puccini Com: Bidu Sayão Lançamento: Sony Quanto: R$ 50 (em média)


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