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Sony relança ópera
com Bidu Sayão
especial para a Folha
Há 50 anos, uma soprano brasileira participava da primeira gravação de ópera completa feita na
América. A Sony aproveita a efeméride para relançar "La Bohème", de Puccini, na série "Masterworks ...eritage", com Bidu Sayão como Mimì.
Sayão, 95, estreou no Metropolitan de Nova York em 1937. Cantou
na companhia até 1952, participando de 155 apresentações, com
Mimì (31 vezes) sendo o papel
mais frequente.
A escolha da brasileira para o papel principal foi, portanto, natural, quando a gravadora Columbia, associada ao Metropolitan, resolveu fazer o registro de "La Bohème". Sayão estava com 45 anos,
no auge da forma vocal, e ganhara
notoriedade com a gravação das
"Bachianas Brasileiras nº 5", de
Villa-Lobos, sob regência do compositor, lançada dois anos antes.
As sessões de gravação foram feitas com o teatro vazio e sem ação
cênica, nos dias 7, 14 e 21 de dezembro de 1947.
Na época, o Metropolitan ainda
ficava na esquina da Broadway
com a rua 39 (a mudança para o
teatro atual, no Lincoln Center,
ocorreu em 1966).
Foi a única vez em que Sayão gravou uma ópera completa -os outros registros disponíveis, do
"Romeu e Julieta", de Gounod,
"Rigoletto", de Verdi, e "As Bodas de Fígaro", de Mozart, são
gravações ao vivo de transmissões
radiofônicas.
Seu parceiro, no papel de Rodolfo, é o tenor norte-americano Richard Tucker (1913-1975), um artista ardente e cheio de energia
que, em 1947, acabara de fazer sua
estréia européia na ópera "La Gioconda", de Ponchielli, ao lado de
uma grega chamada Maria Callas.
Tucker, que cantara Rodolfo pela primeira vez apenas um mês antes da gravação, é o parceiro ideal
para a Mimì perfeita de Bidu Sayão. A voz da soprano está belíssima, mas o que mais impressiona é
o poder de caracterização, com
uma construção madura e expressiva do personagem.
Para os ouvidos de hoje, as maiores excentricidades ficam por conta do maestro Giuseppe Antonicelli (1897-1980), um italiano que
trabalhou no Met entre 1947 e
1950. No final do 1º Ato, a ária
"Che Gelida Manina" e o dueto
"O Soave Fanciulla" estão transpostos meio tom para baixo. Ou
seja: a parte mais conhecida da
ópera é cantada em uma tessitura
mais grave, e, na ária, o tenor não
emita o dó agudo que todos os
amantes de ópera se habituaram a
esperar, mas fica na nota anterior,
o si.
Evan Gorga, que interpretou Rodolfo na estréia de "La Bohème",
em 1896, foi o primeiro tenor que,
inseguro com relação a este dó, pediu a transposição de "Che Gelida
Manina". Hoje, a prática caiu em
desuso e parece mais ingênua que
malandra, conferindo ao CD um
doce sabor arcaico.
(IFP)
Ópera: "La Bohème", de Puccini
Com: Bidu Sayão
Lançamento: Sony
Quanto: R$ 50 (em média)
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