São Paulo, sábado, 9 de janeiro de 1999

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QUADRINHOS
Primeira história do personagem de Hergé, de 32, é relançada pela editora francesa Casterman esta semana
Tintin faz 70 anos amanhã e continua cult


CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
da Sucursal de Brasília

O presidente francês Charles De Gaulle se queixava que Tintin era seu único rival em língua francesa em popularidade internacional.
Andy Warhol e Roy Lichtenstein reconheceram a influência que os desenhos de traço arredondado e profusos em cor do personagem de Hergé tiveram sobre eles.
Amanhã, contudo, quando se comemora o 70º aniversário da primeira edição das aventuras do jovem repórter belga, não haverá grandes celebrações.
Tintin é um sucesso. Mas no melhor estilo "cult".
Vendem-se 3 milhões de livros do herói por ano em edições em 58 línguas.
Não é pouco. Mas nada que se compare com Walt Disney ou Charles Schulz, o criador de Charlie Brown e do cachorro Snoopy, por exemplo.
² Gosto pouco massificado
O gosto por Tintin não é do tipo massificado. Só uns poucos eleitos gostam dele. É difícil estabelecer com precisão por quê.
Dezenas de teses já foram escritas para decifrar as razões do seu culto.
Talvez seja a curiosidade geográfica, que levou Tintin, seu cãozinho Milu, os amigos Capitão Haddock, Professor Girassol e outros para todos os confins do mundo e até para a Lua.
Ou pode ser o caráter ingênuo das tramas muitas vezes mal amarradas, mas, ao mesmo tempo, cheias de citações históricas.
Uma outra possibilidade é a extrema simpatia de todos os personagens, cheios de defeitos humanos e sem nenhuma ambição ao super-heroísmo enfadonho daqueles que nunca erram nem pecam.
O fato é que Tintin sobrevive há sete décadas como um dos mais amados personagens da história das histórias em quadrinhos.
² O criador
Georges Remi, o desenhista e cenógrafo belga que criou "As Aventuras de Tintin", certamente se surpreendeu com o sucesso.
Sob o pseudônimo de Hergé, Remi trabalhava para para um diário católico em Bruxelas, "Le XXe. Siècle", quando, em 1928, o diretor do jornal resolveu criar um suplemento infantil, "Le Pétit Vintième", e o encarregou de editá-lo.
Hergé vinha há algum tempo desenhando uma tira para um jornal dos escoteiros belgas.
O personagem se chamava Totor e, claro, era escoteiro, como o próprio Remi.
Totor foi para as páginas do suplemento católico, mas, aos poucos, Hergé o foi modificando, até chegar à fórmula de Tintin, que, em vez de escoteiro, era repórter.
² Estréia
Em 10 de janeiro de 1929, Tintin estreou. Sua primeira missão foi uma série de reportagens na União Soviética.
Jornalista do tipo investigativo, Tintin descobriu que o governo soviético fraudava camponeses e iludia estrangeiros.
"Aventuras de Tintin na Terra dos Soviéticos" está há muito tempo fora de circulação.
Mas a editora francesa Casterman, que desde 1932 edita o trabalho de Hergé na forma de livro, lança uma nova edição da estréia de Tintin esta semana, com tiragem de 500 mil cópias, só em francês.
Depois da União Soviética, Tintin foi para o Congo, EUA, Peru, China, Tibete. Cada viagem era um sucesso maior que a anterior.
² Dificuldades políticas
Hergé, que morreu de anemia em 1983 e nunca teve filhos, enfrentou dificuldades políticas.
Durante a Segunda Guerra Mundial, não deixou de desenhar para o jornal "Le Soir", de Bruxelas, que colaborou com a ocupação nazista. Por isso, após a liberação da Bélgica, ficou proibido de trabalhar por quase dois anos.
Mas Tintin não tem partido político e logo foi liberado para conquistar o restante do mundo.



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