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O MORRO QUE RIMA
Inumanos, Quinto Andar e Marechal, da atual safra fluminense, lançam discos ainda neste ano
Nova geração movimenta hip hop no Rio
ALEXANDRE MATIAS
FREE-LANCE PARA FOLHA
Há uma década o hip hop no
Rio de Janeiro começou a dar seus
primeiros passos, com a coletânea
"Tiro Inicial" (de 1993, que apresentava nomes como Gabriel O
Pensador e o grupo Geração Futuro, que trazia MV Bill na formação), e o disco de estréia do Planet
Hemp ("Usuário", de 1995).
Mas fora alguns espasmos fonográficos dos envolvidos com esses
primeiros discos, pouca coisa nova parecia sair daquela cena. Até
agora, quando nomes como Inumanos, Quinto Andar e Marechal,
oriundos da cena que orbitava entre as festas Hip Hop Rio e Zoeira
Hip Hop na virada do século, surgem como representantes do novo hip hop carioca.
O Quinto Andar é mais conhecido graças ao sucesso fulminante
que um de seus integrantes, o manhoso De Leve, teve ao divulgar
suas músicas na internet (que se
materializaram no CD "O Estilo
Foda-se", lançado no ano passado). Mas o coletivo de Niterói, que
hoje tem satélites em São Paulo e
Belo Horizonte, começa a gravar
seu disco de estréia.
"A idéia era fazer um EP do De
Leve com o Shaolin [outro MC do
grupo]", explica o DJ Castro, responsável pela maior parte das
produções do coletivo.
"Mas resolvemos fazer o disco
de vez, senão íamos ficar adiando
isso pelo resto da vida." Além dos
MCs cariocas, o disco deve contar
com colaborações de integrantes
do coletivo de fora do Rio, como o
paulista Kamau e o mineiro Matéria-Prima.
"Quero ver se conseguimos fechar o disco até o final de março,
para lançarmos ainda este semestre", conta Castro, que, além do
disco do Quinto Andar, ainda está
produzindo faixas para o disco de
estréia do MC Dom Negrone e fala em lançar o disco do personagem Caramujo Sonolento, projeto paralelo de De Leve. "Pô, mauzão, nem era pra contar, aê!", ri
De Leve.
Ex-Quinto Andar, o MC e produtor Marechal já está mais
adiantado com seu trabalho de estréia. "Resta só definir por quem
eu vou lançar o disco", diz ele, estudando propostas de gravadoras
e a possibilidade de lançar-se com
um disco independente. "Queremos chamar uns convidados, essa
semana mesmo estávamos tocando com o (percussionista) Markú
Ribas", explica o produtor.
Com o disco finalizado e programado para abril pela gravadora paulistana Bizarre, a dupla Inumanos é o primeiro nome da Brutal Crew, coletivo da Lapa, a dar as
caras fora do Rio.
Com participações do rapper
M7 e de Max B.O., o disco da dupla formada pelo MC Aori e o DJ
Babão (batizado "Volume 10") foi
gravado inteiramente no estúdio
caseiro da banda, o Campo de
Concentração, e deve ser masterizado pelas mãos do coletivo paulistano Instituto.
Com batidas mais criativas que
a média nacional e rimas que vão
muito além dos estereótipos do
hip hop (nem bad boy gangsta,
nem pregador da old-school), o
hip hop carioca é fruto de uma cena que está há pelo menos cinco
anos na ativa:
"Acho que a gente tem a vantagem de não ter um pioneiro grande -um Thaíde e DJ Hum, um
Racionais- que nos obrigue a seguir um padrão pré-determinado
ou um tipo de som. Isso faz com
que cada faça seu tipo de som,
sem que um pareça com o outro",
explica Aori, dos Inumanos.
De Leve, seguindo seu próprio
estilo, desconversa: "Neguinho
vem atrás porque é pseudonovo.
Mas esse hip hop carioca é "mor"
velhão".
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