São Paulo, segunda-feira, 09 de fevereiro de 2004

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O MORRO QUE RIMA

Inumanos, Quinto Andar e Marechal, da atual safra fluminense, lançam discos ainda neste ano

Nova geração movimenta hip hop no Rio

ALEXANDRE MATIAS
FREE-LANCE PARA FOLHA

Há uma década o hip hop no Rio de Janeiro começou a dar seus primeiros passos, com a coletânea "Tiro Inicial" (de 1993, que apresentava nomes como Gabriel O Pensador e o grupo Geração Futuro, que trazia MV Bill na formação), e o disco de estréia do Planet Hemp ("Usuário", de 1995).
Mas fora alguns espasmos fonográficos dos envolvidos com esses primeiros discos, pouca coisa nova parecia sair daquela cena. Até agora, quando nomes como Inumanos, Quinto Andar e Marechal, oriundos da cena que orbitava entre as festas Hip Hop Rio e Zoeira Hip Hop na virada do século, surgem como representantes do novo hip hop carioca.
O Quinto Andar é mais conhecido graças ao sucesso fulminante que um de seus integrantes, o manhoso De Leve, teve ao divulgar suas músicas na internet (que se materializaram no CD "O Estilo Foda-se", lançado no ano passado). Mas o coletivo de Niterói, que hoje tem satélites em São Paulo e Belo Horizonte, começa a gravar seu disco de estréia.
"A idéia era fazer um EP do De Leve com o Shaolin [outro MC do grupo]", explica o DJ Castro, responsável pela maior parte das produções do coletivo.
"Mas resolvemos fazer o disco de vez, senão íamos ficar adiando isso pelo resto da vida." Além dos MCs cariocas, o disco deve contar com colaborações de integrantes do coletivo de fora do Rio, como o paulista Kamau e o mineiro Matéria-Prima.
"Quero ver se conseguimos fechar o disco até o final de março, para lançarmos ainda este semestre", conta Castro, que, além do disco do Quinto Andar, ainda está produzindo faixas para o disco de estréia do MC Dom Negrone e fala em lançar o disco do personagem Caramujo Sonolento, projeto paralelo de De Leve. "Pô, mauzão, nem era pra contar, aê!", ri De Leve.
Ex-Quinto Andar, o MC e produtor Marechal já está mais adiantado com seu trabalho de estréia. "Resta só definir por quem eu vou lançar o disco", diz ele, estudando propostas de gravadoras e a possibilidade de lançar-se com um disco independente. "Queremos chamar uns convidados, essa semana mesmo estávamos tocando com o (percussionista) Markú Ribas", explica o produtor.
Com o disco finalizado e programado para abril pela gravadora paulistana Bizarre, a dupla Inumanos é o primeiro nome da Brutal Crew, coletivo da Lapa, a dar as caras fora do Rio.
Com participações do rapper M7 e de Max B.O., o disco da dupla formada pelo MC Aori e o DJ Babão (batizado "Volume 10") foi gravado inteiramente no estúdio caseiro da banda, o Campo de Concentração, e deve ser masterizado pelas mãos do coletivo paulistano Instituto.
Com batidas mais criativas que a média nacional e rimas que vão muito além dos estereótipos do hip hop (nem bad boy gangsta, nem pregador da old-school), o hip hop carioca é fruto de uma cena que está há pelo menos cinco anos na ativa:
"Acho que a gente tem a vantagem de não ter um pioneiro grande -um Thaíde e DJ Hum, um Racionais- que nos obrigue a seguir um padrão pré-determinado ou um tipo de som. Isso faz com que cada faça seu tipo de som, sem que um pareça com o outro", explica Aori, dos Inumanos.
De Leve, seguindo seu próprio estilo, desconversa: "Neguinho vem atrás porque é pseudonovo. Mas esse hip hop carioca é "mor" velhão".


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