São Paulo, quarta-feira, 09 de fevereiro de 2005

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CINEMA

Atriz de "Menina de Ouro" teve três meses para aprender o esporte com o treinador campeão mundial Hector Rosa

Panamenho transforma Hilary Swank em boxeadora

Reuters
Hilary Swank em cena de "Menina de Ouro", de Clint Eastwood


ALFONS LUNA
DA FRANCE PRESSE

"Minha melhor campeã foi Hilary Swank", diz o treinador panamenho de boxe Hector Roca, cheio de orgulho pelo trabalho realizado com a atriz e agradecido porque ela o menciona em todas as entrevistas, ao contrário de alguns dos 13 pugilistas a quem tornou campeões mundiais.
Em "Menina de Ouro", Swank dá vida a Maggie Fitzgerald, boxeadora que Clint Eastwood, também diretor do filme, aceita treinar. O filme está indicado a sete Oscar, e Roca irá a Los Angeles para a cerimônia em que sua pupila pode conquistar um segundo "campeonato mundial", depois de obter um Globo de Ouro.
Será a coroação de uma história iniciada quando Bruce Silverglade, proprietário do ginásio Gleason's, no Brooklyn (EUA), recebeu um telefonema pedindo que treinasse a atriz e imediatamente pensou em Roca para o trabalho.
"É o maior partidário da disciplina que conheço. Instrui os pupilos a fazer isso ou aquilo e, se eles não quiserem, manda procurem outro treinador. É o tipo de personalidade de que Hilary precisava, porque o prazo era de três meses", explica Silverglade, em cujo ginásio Roberto de Niro treinou para interpretar Jake LaMotta em "Touro Indomável" (80).
Roca, 65, aceitou o desafio, já que já havia treinado Jennifer Lopez, Wesley Snipes, Michelle Rodriguez e John Leguizamo. "Preparar um ator é a coisa mais rápida do mundo; aprendem rápido a agir como boxeadores", diz.
Swank se entregou ao trabalho. Por três meses, treinou a parte técnica com Roca durante duas horas por dia; depois, passava tempo semelhante fazendo condicionamento físico com um preparador selecionado por Eastwood. Precisava levantar à meia-noite para tomar proteínas e clara de ovo, a fim de ganhar peso e desenvolver a musculatura e, "em apenas uma semana, já era alguém", conta Roca. Pouco depois de começar a treinar, conseguiu acertar seu primeiro golpe no nariz de uma sparring.
"Pediu desculpas, e eu me irritei. Disse que da próxima vez procurasse outro treinador. Falta coragem nesse esporte. Se você acerta um golpe, precisa acertar de novo. Ela estava aprendendo para um filme, mas queria que parecesse natural e que se comportasse como boxeadora de verdade."
Mais tarde, "tirou sangue de uma boa lutadora" e não se desculpou, porque "havia ganhado a confiança de que precisava e começou a lutar como boxeadora de verdade". Roca tornou esse progresso possível, e aquilo que começou como relação profissional se transformou em amizade.
"O que está acontecendo é excelente. Mas sou um homem do boxe, e não existe nada como um campeonato mundial [experiência que Roca já desfrutou como treinador em 13 ocasiões, com pugilistas como Arturo Gatti e Buddy McGirt]." Durante a entrevista, Roca dá instruções a Edgar Santana, lutador de Porto Rico que pode lhe dar seu 14º cinturão.
É um grande sucesso para um homem que chegou a Nova York em 1979, após representar o Panamá nos Jogos Olímpicos como ciclista. Anos mais tarde, passou em frente do ginásio Gleason's.
"Paguei e entrei. Percebi que eram fortes, mas deficientes em técnica. Ao sair, vi um homem com um menino de sete anos. Perguntei se o menino ia treinar, ele respondeu que sim. Perguntei se tinha treinador, ele disse que não." O proprietário aceitou Roca e o jovem pupilo e, um ano mais tarde, o encarregou de treinar seu primeiro profissional, Iran Barkley, com quem Roca conquistaria seu primeiro título mundial.

Tradução Paulo Migliacci


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