São Paulo, quarta-feira, 09 de fevereiro de 2005

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COMENTÁRIO

Autor usou tempo da imaginação do leitor

DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL

É curioso que a obra de Will Eisner desperte o interesse de produtores do lado de lá da rua, seja do teatro, da TV ou do cinema. Pois a verdade é que o criador de "Spirit", chamado por alguns de "o Orson Welles dos quadrinhos", nunca criou para outro meio que não as HQs.
Apesar do estilo "cinematográfico" de suas histórias em quadrinhos, Eisner fazia questão de sublinhar que não estava simplesmente adaptando as técnicas de enquadramento e iluminação do cinema para um outro meio.
Pelo contrário, as histórias em quadrinhos possuem uma linguagem própria, com uma relação espaço-tempo bastante específica, em que o tempo só se realiza completamente pela imaginação do leitor ao passar de um quadro para o outro da página.
"O espectador de um filme é impedido de ver o quadro seguinte antes que o criador o permita, porque esses quadros, impressos no fotograma, são exibidos um por vez. Assim, o filme, que é uma extensão das tiras de quadrinhos, tem absoluto controle sobre sua leitura -vantagem de que o teatro também desfruta. Num teatro fechado, o arco do proscênio e a profundidade do palco formam um único quadro, e a platéia, sentada numa posição fixa, vê a ação contida nele", sintetizou o autor, em "Quadrinhos e Arte Seqüencial", livro em que destrincha os principais elementos da "gramática" das HQs.
Como transportar esses mesmos elementos da linguagem dos quadrinhos para um outro meio é o grande desafio que a onda de adaptações cinematográficas nem sempre tem conseguido e que o teatro, agora mais uma vez, tenta superar.


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