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Música
"Segundo disco é cheio de truques"
Vocalista do Bloc Party, Kele Okereke fala sobre o lançamento de "A Weekend in the City" depois do sucesso de "Silent Alarm"
Nas novas letras, Okereke "abre a boca" e deixa aflorar seu passado religioso, sua relação com drogas e sua sexualidade ambígua
LÚCIO RIBEIRO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
"Qual dos dois discos você
prefere? O anterior ou este segundo?" O que seria a primeira
pergunta a Kele Okereke, vocalista e guitarrista da banda inglesa Bloc Party, veio à queima-roupa na contramão -do entrevistado ao entrevistador.
Em conversa exclusiva com a
Folha por telefone, desde Londres, Okereke, segundo o jornal
britânico "The Observer" o garoto que os garotos desajustados ingleses têm em pôster no
quarto, falou com certa insegurança sobre o segundo CD de
sua banda, que tem lançamento mundial nesta semana.
"A Weekend in the City" chega para suceder o inspirado "Silent Alarm", que em 2005 chacoalhou as paradas inglesas,
formou uma firme legião de seguidores indies no "difícil"
mercado americano e deu ao
quarteto do condado de Essex a
fama de uma das melhores
bandas novas a surgir nesta década na Inglaterra.
"Foi bom encarar a tal "maldição" do segundo disco. Foi
bom, mas nada fácil", afirmou
Okereke, 25, negro filho de imigrantes nigerianos, figura extraordinária a liderar uma banda no esbranquiçado mundo do
rock inglês.
"Quando você alcança muita
gente com seu primeiro disco,
como fizemos, produzir o segundo álbum é um trabalho
cheio de truques o tempo todo.
Você fica tentando ser diferente, se livrar da sombra do CD
anterior. Podíamos ter repetido a fórmula de sucesso do disco. Seria até fácil, mas onde repetir a nós mesmos nos levaria
enquanto banda?", questiona o
músico do Bloc Party.
Elaboração
Já que é assim, eis "A Weekend in the City", bem diferente de "Silent Alarm". E, por isso,
mais tenso, polêmico.
A começar pela desacelerada
nas músicas. Enquanto as canções do primeiro disco eram
mais urgentes, cruas e diretas,
neste segundo elas seguem o
perfil de "músicas mais bem
elaboradas", que em geral empacam a trajetória de uma banda jovem, mas no caso do Bloc
Party não tiram seu brilho, ou
melhor, seu furor juvenil.
A desacelerada vem por conta das letras de Okereke e de
seu aparente novo humor mais
introspectivo e "verdadeiro". À
imprensa inglesa, Okereke resolveu "abrir a boca", deixando
aflorar seu passado religioso,
sua relação com drogas e sua
sexualidade "confusa", assuntos que não chegaram perto das
letras do disco anterior.
"As letras do primeiro disco
acho que posso dizer que são
metralhadoras a esmo, atirando coisas às vezes sem sentido e
sem nenhum alvo aparente.
Resolvi mudar isso agora para
realmente dizer coisas que têm
a ver comigo e com minha história. Bom, já falei o que tinha
que falar nas músicas. Próxima
pergunta, por favor."
"Ei, qual dos integrantes do
CSS você gosta mais?", Kele
Okereke voltou a fazer o papel
de entrevistador.
"Tentamos convidá-los para
excursionar com a gente no ano
passado, mas parece que não
somos uma banda bacana o suficiente", brincou o líder do
Bloc Party. "Eles são excitantes. E a Lovefoxxx é... muito
sexy", revelou.
Sobre vir ao Brasil para
shows, Okereke afirmou que já
receberam alguns convites,
mas a turnê sul-americana parece não estar nem próxima.
"É culpa do nosso empresário. Ele só acha interessante
que nossos shows aconteçam
só nos EUA e no Japão. Não
concordo muito com isso, mas
enfim. Vou ver se consigo mudar essa idéia."
A WEEKEND IN THE CITY
Artista: Bloc Party
Gravadora: Warner
Quanto: a definir
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