São Paulo, sexta-feira, 09 de fevereiro de 2007

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Música

"Segundo disco é cheio de truques"

Vocalista do Bloc Party, Kele Okereke fala sobre o lançamento de "A Weekend in the City" depois do sucesso de "Silent Alarm"

Nas novas letras, Okereke "abre a boca" e deixa aflorar seu passado religioso, sua relação com drogas e sua sexualidade ambígua


LÚCIO RIBEIRO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"Qual dos dois discos você prefere? O anterior ou este segundo?" O que seria a primeira pergunta a Kele Okereke, vocalista e guitarrista da banda inglesa Bloc Party, veio à queima-roupa na contramão -do entrevistado ao entrevistador.
Em conversa exclusiva com a Folha por telefone, desde Londres, Okereke, segundo o jornal britânico "The Observer" o garoto que os garotos desajustados ingleses têm em pôster no quarto, falou com certa insegurança sobre o segundo CD de sua banda, que tem lançamento mundial nesta semana.
"A Weekend in the City" chega para suceder o inspirado "Silent Alarm", que em 2005 chacoalhou as paradas inglesas, formou uma firme legião de seguidores indies no "difícil" mercado americano e deu ao quarteto do condado de Essex a fama de uma das melhores bandas novas a surgir nesta década na Inglaterra.
"Foi bom encarar a tal "maldição" do segundo disco. Foi bom, mas nada fácil", afirmou Okereke, 25, negro filho de imigrantes nigerianos, figura extraordinária a liderar uma banda no esbranquiçado mundo do rock inglês. "Quando você alcança muita gente com seu primeiro disco, como fizemos, produzir o segundo álbum é um trabalho cheio de truques o tempo todo.
Você fica tentando ser diferente, se livrar da sombra do CD anterior. Podíamos ter repetido a fórmula de sucesso do disco. Seria até fácil, mas onde repetir a nós mesmos nos levaria enquanto banda?", questiona o músico do Bloc Party.

Elaboração
Já que é assim, eis "A Weekend in the City", bem diferente de "Silent Alarm". E, por isso, mais tenso, polêmico.
A começar pela desacelerada nas músicas. Enquanto as canções do primeiro disco eram mais urgentes, cruas e diretas, neste segundo elas seguem o perfil de "músicas mais bem elaboradas", que em geral empacam a trajetória de uma banda jovem, mas no caso do Bloc Party não tiram seu brilho, ou melhor, seu furor juvenil.
A desacelerada vem por conta das letras de Okereke e de seu aparente novo humor mais introspectivo e "verdadeiro". À imprensa inglesa, Okereke resolveu "abrir a boca", deixando aflorar seu passado religioso, sua relação com drogas e sua sexualidade "confusa", assuntos que não chegaram perto das letras do disco anterior.
"As letras do primeiro disco acho que posso dizer que são metralhadoras a esmo, atirando coisas às vezes sem sentido e sem nenhum alvo aparente.
Resolvi mudar isso agora para realmente dizer coisas que têm a ver comigo e com minha história. Bom, já falei o que tinha que falar nas músicas. Próxima pergunta, por favor."
"Ei, qual dos integrantes do CSS você gosta mais?", Kele Okereke voltou a fazer o papel de entrevistador.
"Tentamos convidá-los para excursionar com a gente no ano passado, mas parece que não somos uma banda bacana o suficiente", brincou o líder do Bloc Party. "Eles são excitantes. E a Lovefoxxx é... muito sexy", revelou.
Sobre vir ao Brasil para shows, Okereke afirmou que já receberam alguns convites, mas a turnê sul-americana parece não estar nem próxima.
"É culpa do nosso empresário. Ele só acha interessante que nossos shows aconteçam só nos EUA e no Japão. Não concordo muito com isso, mas enfim. Vou ver se consigo mudar essa idéia."


A WEEKEND IN THE CITY
Artista:
Bloc Party
Gravadora: Warner
Quanto: a definir


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