São Paulo, sexta-feira, 09 de fevereiro de 2007

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Última Moda

Alcino Leite Neto, em Nova York - ultima.moda@folha.com.br

Gelo nas ruas e na passarela

Semana de moda de Nova York traz coleções sem novidades e sem vibração

Nas páginas dos jornais americanos, o assunto é o aquecimento global. Mas, nas ruas de Nova York, é o frio que domina, com temperaturas às vezes abaixo de 10 graus negativos. Há um certo gelo criativo também na semana de moda de Nova York, que começou na última sexta-feira e termina hoje.
Aliás, o evento mudou de nome. Chamava-se Olympus Fashion Week e agora, como ganhou outro patrocinador, virou Mercedes Benz Fashion Week. O resultado mais visível da mudança foi que o já exíguo hall de entrada no Bryant Park ficou menor ainda, com dois carrões de luxo ocupando o local.
Os desfiles acontecem em quatro tendas, que são alugadas aos estilistas. The Tent é a maior, com cerca de mil lugares, e seu aluguel custa US$ 46 mil (cerca de R$ 93 mil) -foi nela que Alexandre Herchcovitch mostrou a sua coleção. A Promenade, com cerca de 750 lugares, custa US$ 36,5 mil -e foi a escolhida de Carlos Miele. Os dois foram os únicos brasileiros a se apresentar nesta temporada em Nova York (leia mais nesta pág.), descontado Francisco Costa, que trabalha para a Calvin Klein, cujo desfile foi hoje à tarde [esta edição fechou na manhã de quinta].
A expectativa é que Costa possa esquentar um pouco a imaginação dos fashionistas, como fez da última vez. Na maioria das coleções, invenção e emoção estão em falta.
Mesmo Marc Jacobs, o mais talentoso e rebelde dos estilistas americanos, fez um recuo conservador. Não foi à toa que ele disse ter se inspirado no filme "O Conformista", de Bertolucci -a história da traição cometida por um fascista.
A coleção de Jacobs é ela mesma "conformista", e em nada lembra o estilo meio underground que marcou o estilista. No entanto, é chiquérrima, conciliando praticidade e sofisticação, os anos 70 e os 30 (há sinais de Coco Chanel no ar). E deve ser influente, nestes tempos também conservadores.
Mas são os anos 80 que estão dominando em Nova York, como em Narciso Rodriguez, que apresentou uma interessante coleção de traços minimalistas e elementos esportivos; ou em Derek Lam, que adotou sem peias uma das influências históricas da hora: Azzedine Alaïa. No campo mais convencional, chamaram a atenção Diane von Furstenberg, que tentou buscar em Miró algumas novidades formais, e Oscar de La Renta, que fez um desfile megaluxuoso e hollywoodiano.
Na ótica nova-iorquina, o inverno vai se configurando com base nos vestidos, de silhuetas muito leves, em geral em corte A ou na forma de túnicas e trenchs. Calças largas e pantalonas pontuaram as coleções, marcadas por preto, metálicos e cores primárias e fortes. Em tempo: em Nova York, a febre das megabolsas já era.

Italianos invadem NY

Duas grifes italianas desfilaram suas segundas marcas, de perfil mais jovem, em Nova York. Alberta Ferreti trouxe a Philosophy, e a Ermenegildo Zegna exportou a Z Zegna, desenhada por Alessandro Sartori. O objetivo é internacionalizar ainda mais as coleções.
O desfile da Z Zegna foi o primeiro da marca e aconteceu no Cunard Building, um belo edifício na Broadway que já foi sede de uma companhia de navios. A apresentação foi discreta e elegante. Levou para as passarelas modelos bem jovens vestindo a quintessência do luxo da grife.
A imagem teve seu impacto, para quem está acostumado a ver a garotada usando streetwear. Ternos de lã impecáveis, suéteres de cashmere, trenchs superchiques -um estilo bem clássico, contrabalançado com toques mais atuais.

Herchcovitch impressiona com vestido de saco de lixo

Alexandre Herchcovitch desorientou o coro dos contentes na semana de moda de Nova York -marcada por muito convencionalismo e falta de ousadia. Muita gente saiu impressionada com a sua coleção inspirada nos bóias-frias e com o vestido de saco de lixo que ele levou à passarela.
A conceituada crítica de moda inglesa Hilary Alexander, do "Daily Telegraph", declarou que foi "o desfile mais excitante" que ela tinha visto até o momento. Hilary também achou os casacos "impecáveis".
Para Hamish Bowles, da "Vogue" americana, Alexandre "trouxe cor e vida à semana de moda de Nova York". O prestigiado site de moda Style.com disse que o estilista conseguiu desviar do perigo da paródia que pairava sobre sua coleção.
Dos três últimos desfiles de Alexandre, este foi o de maior impacto em Nova York. Os shapes masculinizados e até mesmo o styling (com chapéus e luvas) da coleção do brasileiro têm correspondências com o desfile de Marc Jacobs, funcionando com uma opção mais moderna à imagem clássica proposta pelo americano.
O estilista foi um dos dois brasileiros a desfilar na cidade -junto com Carlos Miele, que apresentou uma coleção elegante, mas sem grandes vôos, apostando mais na sofisticação dos materiais, como no belo casaco de mink e crocodilo.


com VIVIAN WHITEMAN

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