São Paulo, quarta-feira, 09 de fevereiro de 2011

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CRÍTICA MÚSICA ERUDITA

Orquestra Barroca revela as fusões do compositor Muffat

Gravação feita por conjunto mineiro traz ainda Bach e Lobo de Mesquita

SIDNEY MOLINA
DE SÃO PAULO

"Quando misturo árias francesas com alemãs e italianas não é para motivar uma guerra, mas para preludiar uma harmonia e uma doce paz entre as nações."
As palavras do compositor Georg Muffat (1653-1704) são um ótimo gancho para a escuta de suas obras gravadas pela Orquestra Barroca do Festival de Juiz de Fora.
O exercício da reunião dos gostos - a união entre estilos "inimigos" no seio do barroco - não é uma contribuição pequena, e talvez Muffat seja um dos primeiros músicos "fusion" da história.
Ele não só escrevia suítes francesas ao estilo de Lully (1632-1687) e sonatas italianas que remetem a Corelli (1653-1713), mas trafegava sutilmente de um estilo a outro dentro da mesma peça.
No álbum duplo recém lançado, Muffat ocupa integralmente o primeiro CD.
O segundo traz a "Overture n.4 BWV1069", de Johann Sebastian Bach (1685-1750), e dois responsórios - "Salve Regina" e "Congratulamini Mihi" - do compositor colonial brasileiro Emerico Lobo de Mesquita (1746-1805).
Dirigida pelo violinista mineiro Luís Otávio Santos, a orquestra utiliza instrumentos de época, afinações não temperadas e formações adequadas ao contexto histórico. Luís Otavio é especialista em violino barroco e professor do Conservatório Real de Bruxelas, além de ter uma premiada discografia solo lançada na Europa.
Ele extrai da orquestra uma sonoridade compacta, construída como se todas as ideias saíssem do seu violino, com acabamento fraseológico e equilíbrio.
Contrapor uma obra-prima de Bach a peças singelas do mulato Lobo de Mesquita adiciona algo importante à compreensão do Brasil: afinal, não seria a alegria ingênua de sua música sacra a tradução de um traço forte de nossa cultura, essa crença tranquila em um porvir melhor a desafiar os prognósticos da razão?

MUFFAT, BACH, LOBO DE MESQUITA

ARTISTA Orquestra Barroca do 21º Festival de Juiz de Fora
LANÇAMENTO Pró-Música
QUANTO R$ 50, em média
AVALIAÇÃO ótimo


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