São Paulo, segunda, 9 de fevereiro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Oasis, futebol e rock'n'roll


Em entrevista exclusiva à Folha, em Miami, o guitarrista Noel Gallagher fala sobre a vinda da banda inglesa ao Brasil e se diz atraído pelo país por causa de "conexões futebolísticas"


LÚCIO RIBEIRO
enviado especial a Miami

Na limo com Noel. Depois do anúncio dos shows do Oasis no Brasil, na quarta passada, a Folha pegou carona na limusine que levaria o guitarrista Noel Gallagher para uma sessão acústica nos estúdios da MTV Latino, em Miami.
No caminho, Noel falou com exclusividade à Folha sobre o atual momento da banda, como está a turnê pelos EUA, as expectativas para as apresentações no Brasil e a "conexão futebol", fator que faz despertar a curiosidade do líder do Oasis quanto ao país.
"É uma pena o Juninho ter quebrado a perna. Acho-o um grande jogador (Juninho jogou no Middlesbrough, time inglês). O Brasil vai sentir falta dele, não?", disse Noel, algo desavisado.
Os shows do Brasil serão em março, nos dias 20 (Metropolitan, Rio) e 21 (Sambódromo, SP). Segundo o site da banda na Internet, os ingressos devem ser colocados à venda na próxima quarta-feira, o que não está confirmado pela organização do evento.
O Oasis anunciou ainda, em Miami, que deve lançar até o final do ano uma coletânea com lados B de singles e raridades. As músicas do álbum serão escolhidas pelos fãs da banda, por meio de voto para o endereço eletrônico do Oasis (Oasis@Oasisinet.com).
Reprodução
Noel Gallagher em frente ao público en show do Oasis em Knebnorth (Inglaterra) em agosto de 1996.


Leia abaixo a entrevista exclusiva com Noel Gallagher, momentos antes de o guitarrista emplacar um "unplugged" de "Don't Go Away" e "Help" (dos Beatles), para o canal musical dos latinos.

Folha - Como está o Liam?
Noel Gallagher -
Tudo bem com ele. Quando eu o deixei, horas atrás, ele estava na cama. Deve estar lá até agora (a entrevista aconteceu por volta das 4h30 da tarde).
Folha - Soube que ele pegou uma forte gripe...
Gallagher -
É ressaca mesmo. Ele bebeu demais na noite passada.
Folha - Quais são suas expectativas de tocar na América do Sul, em geral, e no Brasil, em particular?
Gallagher -
Bem, nunca tocamos na América do Sul. Estamos muito a fim. Quero ver como as coisas são no Brasil. Já estive uma vez na Argentina, em 1990, mas não fui ao Brasil.
Folha - Foi na época que você trabalhava com os Inspiral Carpets, não?
Gallagher -
Eu era roadie da banda. Teve uma turnê que os Carpets abriram para o Steppenwolf em Buenos Aires, há oito anos.
Folha - Você sabia que em SP o Oasis deve tocar em um lugar construído para as escolas de samba desfilarem?
Gallagher -
Não sabia... Isso é bem engraçado. Mas estamos felizes em tocar no Brasil porque... Você sabe... Por nossa afinidade com futebol. Quando estivermos em seu país, gostaríamos de ver crianças jogando em ruas, escolas.
Folha - A turnê de 96 do Oasis na América foi bem turbulenta e acabou no meio, com você brigando com Liam, deixando a banda e voltando para a Inglaterra. Como tem sido a turnê deste ano, até agora?
Gallagher -
Esta tem sido muito boa. A de 1996 foi bem legal também. A maioria dos shows deste ano tem tido ingressos esgotados. A banda tem tocado muito bem. Estamos em um astral bastante bom. Tudo está muito "cool".
Folha - Seis meses depois do lançamento do álbum "Be Here Now", como você vê o disco hoje em dia?
Gallagher -
Eu gosto bastante dele, definitivamente. Não o tenho escutado ultimamente, mas gosto muito de tocá-lo ao vivo. Eu não diria que é o melhor disco do mundo, mas está longe de ser o pior. Eu diria que provavelmente é o melhor álbum do ano passado.
Folha - Se você pudesse mudar algo no disco, o que você faria?
Gallagher -
Não mudaria nada. Acho-o perfeito para o momento atual do Oasis. Não tiraria nenhuma música, talvez deixasse algumas mais curtas.
Folha - Quando o disco saiu, em agosto de 97, as revistas e os jornais ingleses de música publicaram críticas bastante elogiosas. Mas, nas listas de melhores do ano de grande parte dessas mesmas publicações, "Be Here Now" não foi incluído entre os dez mais na votação da crítica, só na dos leitores. O que você acha disso?
Gallagher -
No Reino Unido, existe um tipo de... Tem uns caras na imprensa inglesa que às vezes elegem uma banda para derrubar, para mostrar que fazem o que querem com a cena inglesa... Eles tentaram isso com "Morning Glory"... Se você pensar na via oposta de tudo isso, os fãs gostaram do disco. E, se nossos fãs gostaram e lotam os lugares para nos ver, isso é o que nos importa.
Folha - E qual é o seu "top 5" do ano passado? Você incluiria "Be Here Now" na lista?
Gallagher -
Claro. É meu número 1. O do Verve ("Urban Hymns") seria o segundo. O do Cornershop ("When I Was Born for the 7th Time"), o terceiro. O número 4 é "Heavy Soul", do Paul Weller. O quinto: "Marchin' Already", do Ocean Colour Scene.
Folha - "Be Here Now" foi eleito o álbum do ano pelos leitores da revista americana "Rolling Stone". Isso não o surpreende, pois o "normal" seria eles elegerem Aerosmith, Metallica, Puff Daddy...
Gallagher -
Seria. Eu não fiquei chocado, mas sim muito surpreso. Fiquei feliz porque os votos vieram dos leitores, não dos críticos. Não me lembro de termos tido críticas muito favoráveis sobre nosso disco na "Rolling Stone".
Folha - O Oasis regravou "Street Fighting Man", dos Stones, no último single, "All Around the World". Mas você e o Liam não tiveram há pouco tempo uma discussão feia com Keith Richards?
Gallagher -
Tivemos, mas não importa. Como eu já disse, no final do dia eu sempre vou para a cama gostando muito dos Stones.
Folha - De novo a imprensa inglesa. Foi dito por lá que o Oasis acabaria no final desta turnê "Be Here Now Live". Vocês negaram a história e até se pronunciaram oficialmente pela Internet. Existe algum tipo de guerra entre o Oasis e a imprensa britânica?
Gallagher -
Existe, claro. Eles não gostam de nós, nós não gostamos deles. É simples assim.
Até hoje eles insistem em falar nas brigas que eu tenho com o Liam. Ora, se a minha mãe não se importa com nossas brigas, porque é que eles... Liam é meu melhor amigo, mas ninguém nunca escreveu uma linha sobre isso.
Folha - Em um futuro próximo, você enxerga Noel Gallagher em uma outra banda ou solo?
Gallagher -
Não. No momento não. A idéia de carreira solo não me seduz nem um pouco. Minha idéia é ficar no Oasis para sempre.
Folha - 1997 foi o ano da consolidação do britpop e da techno music nas paradas. Como você analisa a música pop nestes últimos anos?
Gallagher -
Acho que as pessoas se preocupam muito com os rumos da música pop. Por que a música tem que ir a algum lugar? Muitos falam que a techno music é inovação. Mas ela já é realidade na Inglaterra há uns dez anos... Não me preocupo com o futuro da música. John Lennon não se preocupava, Johnny Marr também não. A música vai aonde ela tem que ir. A única coisa que me preocupa é escrever boas canções.
Folha - Para terminar, quem vai ganhar a Copa do Mundo?
Gallagher -
Inglaterra, claro. Estou brincando, o Brasil deve ganhar. Mas acho que o primeiro jogo, contra a Escócia, deve ser bem difícil para o Brasil, se o time achar que já ganhou. A Escócia tem um time muito duro. Mas, na verdade, se o Brasil ganhar de 10 x 0, eu não vou me surpreender.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.