São Paulo, sexta-feira, 09 de março de 2007

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Última Moda

Alcino Leite Neto, em Paris - ultima.moda@folha.com.br

Galliano malvado & sensual

Estilista britânico faz desfile-teatro e arrasa com coleção exuberante em Paris

O estilista britânico John Galliano arrasou duas vezes nos desfiles de outono/inverno em Paris. No início da "saison", com a sua ótima coleção para a Dior. Depois, com a apresentação de sua própria grife. Ele foi a sensação da temporada, que acabou no último domingo.
O estilista montou um verdadeiro teatro para apresentar o desfile da marca John Galliano. O cenário, variado e meticuloso, recriava um dia de festa no ambiente rural francês, com galinhas, uma mesa cheia de comida artificial e um acordeonista tocando "La Vie en Rose".
O espetáculo ganhou até um nome: "A Família que Come Unida, Permanece Unida". Ironia pura -para com os franceses e os fashionistas. Na passarela, as modelos evocavam prostitutas e dançarinas de Montmartre, garotas da década de 10 e dos loucos anos 20.
A coleção -maravilhosa- foi um transbordamento de formas entre românticas e pré-modernistas, inspiradas sobretudo na roupa do início do século passado (como as de Poiret), com ornamentos exuberantes e shapes provocadores.
Um curta, estilo filme mudo, exibido no início do desfile, opunha Galliano (no papel de Le Mauvais Garçon, o garoto malvado) a uma top (que interpretava La Merveilleuse Ingenue, a maravilhosa ingênua).
O malvado Galliano de fato andou remando contra a maré que carregou a semana parisiense na direção de uma mulher nada ingênua, discreta, supersofisticada e com toques de sensualidade e juventude. No lugar da ornamentação, foi a arquitetura das roupas que se impôs, em peças mais clássicas -isto é: mais fáceis de serem consumidas.
Foi assim na Lanvin, na Yves Saint-Laurent, na Louis Vuitton e na Chanel, quatro das principais coleções dos últimos dias. Para a primeira, o estilista Alber Elbaz criou silhuetas bem ajustadas e pequenas invenções-como as miniombreiras arredondadas.
O italiano Stefano Pilati fez uma coleção muito elaborada, em que se destacaram suas criações baseadas no estilo masculino, a partir do célebre smoking feminino inventado por Saint-Laurent. Inspirado em Vermeer, Marc Jacobs criou uma bela paleta de cores para a Vuitton, numa coleção requintada que tentou conciliar a vaga conservadora com toques contemporâneos.
Karl Lagerfeld também reagiu ao classicismo, buscando a tão desejada síntese entre o luxo e a rua, na sua coleção para a Chanel -e chegou a colocar um jeans na passarela! A coleção teve vários pontos altos, como o look pop em preto e branco, um dos mais charmosos da estação.

Tendências

VESTIDOS
Como em Milão, foram o "must" da estação, mas em Paris eles apareceram mais retos e/ ou mais ajustados ao corpo, com ombros mais definidos. Nas saias, a altura é pouco acima do joelho ou sobre o joelho.

CALÇAS
Justas e pantalonas.

CASACOS
Tipo "cocooning" (casulo) ou militares; jaquetas também com estilo militar, às vezes curtas; paletós com referências masculinas; blusas tipo angorá.

ACESSÓRIOS
Bolsas tipo carteira, mas grandes; cintos largos, às vezes imitando um corset; luvas longas, leggings emborrachadas.

CORES
O preto, seguido de variações de roxo, vinho, pink e o violeta. Depois, cores fortes, como o azul-turquesa, o laranja e os tons de verde. O prateado dominou entre os metálicos.

SAPATOS
Botas de cano bem alto, ankle boots ("bottines", para os franceses) e plataformas.

ESTILO
Menos ornamentação e mais arquitetura; imagem adulta, mas com toques joviais; sensualidade calculada e menos exibicionista; imagem mais clássica e sofisticada, com misturas e sobreposições casuais.

Fast-Fashion

LYNCH É HYPE
David Lynch escolheu a Fundação Cartier, em Paris, para mostrar pela primeira vez as suas pinturas e os seus desenhos. É preciso encarar uma fila enorme para ver a exposição, que ocupa dois andares e é um acontecimento na cidade. O novo filme de Lynch, "Inland Empire", também já estreou em Paris. É uma fábula misteriosa sobre o desejo feminino.

FILMES ESTILOSOS
O americano Marc Jacobs será o tema do próximo documentário de Loic Prigent, o diretor do divertido "Signé Chanel", filme sobre o processo de criação de Karl Lagerfeld. O estilista alemão, aliás, é a estrela de um outro documentário, exibido recentemente no Festival de Berlin, chamado "Lagerfeld Confidentiel".

DIESEL À GREGA
A estilista grega Sophia Kokosalaki, um dos nomes mais promissores da moda, vendeu sua grife para a Diesel, permanecendo porém como diretora de criação da marca. Ao mesmo tempo, passou a ser a nova designer da ressuscitada maison Madeleine Vionnet. A Diesel também é dona da marca Martin Margiela.

NOVO POINT
O Palais Royal, que já foi o point da boemia parisiense intelectual e hardcore no século 18 e entrou em decadência no 19, está voltando à moda. No ano passado, Marc Jacobs abriu lá a sua primeira loja parisiense. Agora, Rick Owens fez o mesmo, instalando-se sob os arcos do charmoso palácio.


com VIVIAN WHITEMAN


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