São Paulo, segunda, 9 de março de 1998

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Ratinho quer ser "Mazzaropi do ano 2000'

Luzia Ferreira/Folha Imagem
O apresentador Ratinho, que já trabalhou de palhaço num circo


DANIEL CASTRO
da Reportagem Local

Está marcado para a próxima quinta, às 21h40, o duelo da semana na TV brasileira. De um lado, estará Carlos "Ratinho" Massa. Do outro, pela Globo, justamente o maior ídolo do apresentador da Record, o "rei" Roberto Carlos.
Se vencer a Globo, como ocorreu nas últimas três semanas, Ratinho será o novo "rei das quintas-feiras". Na quinta passada, o programa de mundo-cão da Record alcançou a marca histórica de 26 pontos de média no Ibope, contra 24 da Globo no mesmo horário. Na Grande São Paulo, cada ponto no Ibope equivale a cerca de 80 mil telespectadores.
A reapresentação do "Especial Roberto Carlos 97" é vista por Ratinho como "uma tentativa desesperada" da Globo de anular o novo fenômeno de audiência da TV brasileira: o próprio Ratinho.
Por causa da performance de Ratinho no Ibope, a Globo tirou do ar o seriado "Plantão Médico", e apelou a programas mais populares, como o musical de Roberto Carlos. Na semana passada, a tática não deu certo: Ratinho deu "uma surra" (expressão dele) no "Som Brasil" de axé music.
O ataque final contra Ratinho será em abril. A Globo aposta na minissérie "Dona Flor e Seus Dois Maridos" e no seriado "Mulher". O SBT pode tornar diário o programa "Márcia".
Ratinho quer é mais. Para "sair dos limites da televisão", ele se prepara para co-produzir e protagonizar um filme no segundo semestre deste ano.
"Quero ser o Mazzaropi do ano 2000", diz ele, sobre o tom cômico e caipira do filme, ainda sem nome, que terá a reforma agrária como tema e orçamento de US$ 5 milhões -cifra considerada milionária para o cinema brasileiro. Na produção de "O Que É Isso, Companheiro", foram gastos cerca de R$ 3,5 milhões.
A seguir, os principais trechos de entrevista concedida à Folha na última sexta-feira.

Folha - O que está acontecendo com a TV brasileira?
Carlos "Ratinho" Massa - Hoje todo mundo tem TV com controle remoto. Isso faz com que as pessoas procurem outras opções. O segredo do "Ratinho Livre" é mostrar coisas que o Brasil nunca viu na TV, boi com três chifres, criança que só mexe a cabeça e que o resto do corpo é uma bola de carne, mas que vai virar cantora. Acho que essa popularização está fazendo com que as pessoas deixem de assistir novela.
Folha - Por sua causa, a Globo está baixando o nível?
Ratinho -
A Globo tem de se popularizar. Sabe que tem de fazer uma TV mais popular do que a que fez até hoje. O padrão global está indo para a TV paga. A TV aberta tem de fazer feijão-com-arroz.
Folha - Você imaginava que o bizarro poderia fazer tanto sucesso?
Ratinho -
Jamais imaginei. Nunca passou pela minha cabeça que uma grande parcela da população fosse gostar disso. Eu imaginava atingir as classes C e D e conseguimos um público jovem.
Folha - O que você acha de o SBT colocar o "Márcia" todo dia para disputar com você?
Ratinho -
Ótimo. Eu gosto de ganhar dela. A Márcia (Goldschmidt, apresentadora) não é humilde. Ela falou mal do meu programa, que era de baixo nível. Que nível tem o programa dela, com um monte de gente brigando?
Folha - Você vai mesmo fazer um filme sobre reforma agrária?
Ratinho
Sim. Vou mostrar os dois lados da reforma agrária. O lado do sem-terra que quer a terra para trabalhar e o do picareta, que quer a terra para vender.
Folha - Você vai ser qual?
Ratinho -
O mocinho, porque eu não sou besta. Vamos ter também o fazendeiro produtivo e o improdutivo.
Folha - Mas será uma comédia?
Ratinho -
Sim. Eu quero ser um Mazzaropi do ano 2000?
Folha - Como assim?
Ratinho -
Eu gosto do título. Acho difícil acontecer isso, mas gosto. Acho que tenho muito a ver com Mazzaropi, que sempre mostrou a diferença entre a riqueza e a miséria. Sou um indignado e sincero como Mazzaropi. Vou ser um caipira urbanizado, o cara que sai da roça, vem para a cidade e depois volta para ajudar os que ficaram.
Folha - Você vai continuar batendo a Globo nas quintas-feiras? Por que só nas quintas.
Ratinho -
Vou tentar. Isso ocorre nas quintas porque nesse dia meu programa é mais longo e também é o encerramento dos casos da semana. Agora vamos tentar ganhar na segunda, na terça, na quarta. Pra concorrer, a Globo tem de fazer programa ao vivo.
Folha - Você não acha que exagera um pouco nas aberrações?
Ratinho -
Eu não me preocupo com esses aspectos. Eu me preocupo em solucionar o problema da pessoa. Se vejo que é uma coisa que não tem solução, não coloco no ar.
Folha - Você já vetou alguma coisa? O que?
Ratinho -
Muitas. Crianças, por exemplo, que têm doença sem cura. Se não tem cura, pra que vou pôr no ar? Só exibimos quando há possibilidade de ajudar.



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