São Paulo, domingo, 09 de abril de 2006

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"OS DEZ MANDAMENTOS"

Épico consagra Bíblia por Hollywood

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

Sinônimo da concepção hollywoodiana de cinema como grande espetáculo popular, o produtor e diretor Cecil B. DeMille (1881-1959) não se contentou em fazer apenas uma versão de "Os Dez Mandamentos", lançada em 1923, sem som e com poucas cores. Fez outra, ainda mais longa e ambiciosa, em 1956. Seria o seu derradeiro trabalho como diretor.
Não haveria final de carreira mais adequado do que este épico, que chega ao DVD no cinqüentenário de lançamento. A "edição comemorativa", com três discos, traz a primeira versão e um punhado de extras. É a quintessência da leitura da Bíblia por Hollywood: tom solene, milhares de figurantes, cenários grandiosos, guarda-roupa intensamente colorido. Uma certa afetação no ar impede qualquer idéia de realismo.
Compartilhadas por outros épicos da mesma linhagem, essas coordenadas interferem ainda hoje na percepção popular da iconografia religiosa contemporânea. Não há mensuração precisa para detectar qual o grau do fenômeno, mas parece razoável supor que diversas gerações de espectadores entendem que a vida no Egito, no tempo de Moisés, corria como esse gênero modelou.
Antes que se ouça "E Deus disse: que haja luz" e que tenha início a história, passam-se oito minutos e meio, ocupados por uma introdução musical e pelo próprio DeMille. Sozinho num palco, pequeno diante de cortinas imensas, ele pede desculpas pela intromissão e apresenta o filme. Como em seguida virão quase quatro horas, julga oportuno avisar que haverá um intervalo no meio da sessão.
O melhor guia para os bastidores da versão de 1956, no entanto, é Katherine Orrison, autora do making of oficial, o livro "Written in Stone" (escrito na pedra), que teve a colaboração de DeMille. Os comentários de Katherine em áudio (e legendados) acompanham todo o filme, cobrindo desde informações biográficas sobre o elenco até detalhes das filmagens.
Se for pouco, há também seis pequenos documentários (incluindo um sobre a Paramount, o estúdio que bancou o épico, e outro sobre DeMille), um cinejornal sobre o lançamento de 1956 e trailers. A primeira versão, com 135 minutos e comentários de Katherine, oferece inúmeras possibilidades de comparação. Não apertarás a tecla do "fast-forward".


Os Dez Mandamentos - edição comemorativa de 50 anos
   
Direção:
Cecil B. DeMille
Distribuidora: Paramount; R$ 60



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