|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"OS DEZ MANDAMENTOS"
Épico consagra Bíblia por Hollywood
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
Sinônimo da concepção
hollywoodiana de cinema como grande espetáculo popular, o
produtor e diretor Cecil B. DeMille (1881-1959) não se contentou
em fazer apenas uma versão de
"Os Dez Mandamentos", lançada
em 1923, sem som e com poucas
cores. Fez outra, ainda mais longa
e ambiciosa, em 1956. Seria o seu
derradeiro trabalho como diretor.
Não haveria final de carreira
mais adequado do que este épico,
que chega ao DVD no cinqüentenário de lançamento. A "edição
comemorativa", com três discos,
traz a primeira versão e um punhado de extras. É a quintessência
da leitura da Bíblia por Hollywood: tom solene, milhares de figurantes, cenários grandiosos,
guarda-roupa intensamente colorido. Uma certa afetação no ar impede qualquer idéia de realismo.
Compartilhadas por outros épicos da mesma linhagem, essas
coordenadas interferem ainda
hoje na percepção popular da iconografia religiosa contemporânea. Não há mensuração precisa
para detectar qual o grau do fenômeno, mas parece razoável supor
que diversas gerações de espectadores entendem que a vida no
Egito, no tempo de Moisés, corria
como esse gênero modelou.
Antes que se ouça "E Deus disse:
que haja luz" e que tenha início a
história, passam-se oito minutos
e meio, ocupados por uma introdução musical e pelo próprio DeMille. Sozinho num palco, pequeno diante de cortinas imensas, ele
pede desculpas pela intromissão e
apresenta o filme. Como em seguida virão quase quatro horas,
julga oportuno avisar que haverá
um intervalo no meio da sessão.
O melhor guia para os bastidores da versão de 1956, no entanto,
é Katherine Orrison, autora do
making of oficial, o livro "Written
in Stone" (escrito na pedra), que
teve a colaboração de DeMille. Os
comentários de Katherine em áudio (e legendados) acompanham
todo o filme, cobrindo desde informações biográficas sobre o
elenco até detalhes das filmagens.
Se for pouco, há também seis
pequenos documentários (incluindo um sobre a Paramount, o
estúdio que bancou o épico, e outro sobre DeMille), um cinejornal
sobre o lançamento de 1956 e trailers. A primeira versão, com 135
minutos e comentários de Katherine, oferece inúmeras possibilidades de comparação. Não apertarás a tecla do "fast-forward".
Os Dez Mandamentos - edição
comemorativa de 50 anos
Direção: Cecil B. DeMille
Distribuidora: Paramount; R$ 60
Texto Anterior: DVDs - "Crash": Drama fica na corda bamba entre o cinismo e a esperança Próximo Texto: Nas lojas Índice
|