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CINEMA
Crítica
"Fiel" registra a paixão do corintiano
Documentário de estrutura simples sintoniza público com clima de conquista ao seguir torcedores do calvário à redenção do time
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
A certa altura de "Fiel",
um entrevistado repete
uma frase conhecida:
"Os outros times têm torcidas.
No Corinthians, é a torcida que
tem um time". Coerente com
essa ideia, o documentário busca captar a comunicação direta
entre os corintianos e o clube.
A estrutura concebida pelos
roteiristas Sérgio Groisman e
Marcelo Rubens Paiva é simples e eficaz. Uma primeira parte apresenta um punhado de
torcedores mais ou menos característicos, cada um falando
de sua paixão pelo clube e introduzindo temas básicos: a fidelidade, as superstições, o Pacaembu como "casa corintiana", a tradição de sofrimento, os jogos memoráveis etc.
Na segunda parte, alternando depoimentos e cenas nos estádios, narra-se o calvário vivido em 2007, quando o clube foi
rebaixado para a segunda divisão. Num crescendo de tensão,
reconstitui-se a reta final do
campeonato brasileiro daquele
ano, culminando no fatídico dia
2 de dezembro, quando o Corinthians perdeu em Porto Alegre, diante do Grêmio, a última
chance de escapar da queda.
O epílogo, como não poderia
deixar de ser, é a redenção, a
volta à elite. Como a campanha
corintiana na Série B não foi
dramática, pois o time logo disparou na liderança, "Fiel" se
concentra no jogo que selou o
retorno: a vitória sobre o Ceará,
no Pacaembu, em 25 de outubro de 2008. A emoção é garantida pelo fato de vermos na arquibancada os torcedores que
foram apresentados ao longo
do filme. O clássico mecanismo
de identificação que o cinema
proporciona sintoniza o espectador com o clima da conquista.
Efeito terapêutico
Dois casos são especialmente
tocantes, ambos de jovens torcedoras. Uma delas, conforme
ficamos sabendo na última parte, está fazendo quimioterapia
contra o câncer e convence os
médicos de que suas idas ao estádio têm efeito terapêutico. Ao
vê-la vibrar na arquibancada,
não resta dúvida quanto a isso.
A outra situação peculiar é a
de uma moça que namora um
palmeirense. No dia do jogo
que rebaixou o Corinthians,
eles estavam no Parque Antarctica, vendo um jogo do Palmeiras. Vinte mil palmeirenses vibravam com o time e zombavam do arquirrival, enquanto ela, rádio no ouvido, sofria em
silêncio com a nação alvinegra.
É difícil saber como reagirá
diante de "Fiel" um torcedor de
outro clube ou um espectador
indiferente ao futebol. Mas é
provável que ele se comova
com essa estranha paixão que
leva milhões de pessoas de todas as classes e idades a fazer do
sofrimento um valor positivo.
FIEL
Produção: Brasil, 2009
Direção: Andrea Pasquini
Onde: estreia hoje nos cines Boavista Shopping, Espaço Unibanco Pompeia e circuito
Classificação indicativa: livre
Avaliação: bom
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