São Paulo, quinta-feira, 09 de abril de 2009

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CINEMA

Crítica

"Fiel" registra a paixão do corintiano

Documentário de estrutura simples sintoniza público com clima de conquista ao seguir torcedores do calvário à redenção do time

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

A certa altura de "Fiel", um entrevistado repete uma frase conhecida: "Os outros times têm torcidas. No Corinthians, é a torcida que tem um time". Coerente com essa ideia, o documentário busca captar a comunicação direta entre os corintianos e o clube.
A estrutura concebida pelos roteiristas Sérgio Groisman e Marcelo Rubens Paiva é simples e eficaz. Uma primeira parte apresenta um punhado de torcedores mais ou menos característicos, cada um falando de sua paixão pelo clube e introduzindo temas básicos: a fidelidade, as superstições, o Pacaembu como "casa corintiana", a tradição de sofrimento, os jogos memoráveis etc.
Na segunda parte, alternando depoimentos e cenas nos estádios, narra-se o calvário vivido em 2007, quando o clube foi rebaixado para a segunda divisão. Num crescendo de tensão, reconstitui-se a reta final do campeonato brasileiro daquele ano, culminando no fatídico dia 2 de dezembro, quando o Corinthians perdeu em Porto Alegre, diante do Grêmio, a última chance de escapar da queda.
O epílogo, como não poderia deixar de ser, é a redenção, a volta à elite. Como a campanha corintiana na Série B não foi dramática, pois o time logo disparou na liderança, "Fiel" se concentra no jogo que selou o retorno: a vitória sobre o Ceará, no Pacaembu, em 25 de outubro de 2008. A emoção é garantida pelo fato de vermos na arquibancada os torcedores que foram apresentados ao longo do filme. O clássico mecanismo de identificação que o cinema proporciona sintoniza o espectador com o clima da conquista.

Efeito terapêutico
Dois casos são especialmente tocantes, ambos de jovens torcedoras. Uma delas, conforme ficamos sabendo na última parte, está fazendo quimioterapia contra o câncer e convence os médicos de que suas idas ao estádio têm efeito terapêutico. Ao vê-la vibrar na arquibancada, não resta dúvida quanto a isso.
A outra situação peculiar é a de uma moça que namora um palmeirense. No dia do jogo que rebaixou o Corinthians, eles estavam no Parque Antarctica, vendo um jogo do Palmeiras. Vinte mil palmeirenses vibravam com o time e zombavam do arquirrival, enquanto ela, rádio no ouvido, sofria em silêncio com a nação alvinegra.
É difícil saber como reagirá diante de "Fiel" um torcedor de outro clube ou um espectador indiferente ao futebol. Mas é provável que ele se comova com essa estranha paixão que leva milhões de pessoas de todas as classes e idades a fazer do sofrimento um valor positivo.


FIEL

Produção: Brasil, 2009
Direção: Andrea Pasquini
Onde: estreia hoje nos cines Boavista Shopping, Espaço Unibanco Pompeia e circuito
Classificação indicativa: livre
Avaliação: bom



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