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TEATRO
"Uiva e Vocifera" busca a gênese da tragédia grega
LEONARDO CRUZ
da Redação
Grécia Antiga. O rei Midas vai à
floresta e captura Sileno, deus silvestre. Curioso, o rei pergunta ao
deus: "Qual é a melhor coisa que
pode acontecer ao homem?". A
resposta é imediata: "A melhor
coisa que pode acontecer ao homem é ele não nascer". Transtornado, o rei prossegue: "E qual a
segunda melhor coisa?". "Morrer
o quanto antes", retruca o deus.
Essa fábula, proposta por Friedrich Nietzsche no livro "O Nascimento da Tragédia", fundamenta
o raciocínio do filósofo alemão de
que, antes do surgimento dos deuses do Olimpo, o povo grego era
infeliz e pessimista.
O encontro entre o rei e o deus
silvestre, transportado para a passarela do teatro Oficina, abre o espetáculo "Uiva e Vocifera", que,
de hoje a domingo, faz quatro únicas apresentações em São Paulo.
Com texto e direção de Hamilton Vaz Pereira, criador, nos anos
70, do grupo Asdrubal Trouxe o
Trombone, a montagem tem como base a tese da gênese do teatro
grego, desenvolvida por Nietzsche
em "O Nascimento da Tragédia".
"Sempre me interessei por esse
livro e, depois de estudar muito,
conclui que era possível adaptá-lo
ao palco", diz Vaz Pereira. Para
contar a saga desse surgimento, o
diretor utilizou, além dos textos
do filósofo alemão, elementos da
obra de Homero.
Em "Uiva e Vocifera", a "Ilíada"
e a "Odisséia" estão presentes na
criação dos deuses gregos, belos e
fortes. Para Nietzsche, a existência
dessas figuras míticas ameniza o
sofrimento do mortal grego, que
consegue continuar vivendo.
Nesse momento entra em cena o
deus Dionísio, extraído diretamente de "As Bacantes", de Eurípedes, que chega à cidade de Tebas
exigindo ser cultuado. Menosprezado pelo governante Penteu, o
deus atrai as mulheres tebanas aos
seus rituais orgiásticos, em que todos morrem no final da noite. O
ritual dionisíaco culmina no estraçalhamento de Penteu.
É o ponto em que o povo grego
assume o culto a Dionísio, adaptando-o. Para evitar a morte, o sofrimento, o ritual passa a ser celebrado como fingimento. A embriaguez, a violência e o estraçalhamento passam a ser vividos de
forma farsesca. Farsa acompanhada por uma platéia que, apesar de
ciente da impostura encenada, se
emociona com a aparente veracidade do espetáculo.
"Surge aí uma nova forma de arte. Essa é a conclusão a que Nietzsche chega e a que nós também chegamos", afirma Vaz Pereira.
Para envolver essa trama, o diretor criou uma cena contemporânea. No palco, um grupo de amigos estuda a mitologia grega, se
empolga com as divindades e passa a representá-las.
"Isso não quer dizer que o espetáculo seja enigmático ou intelectualizado. "Uiva e Vocifera' tem
um tom constante de brincadeira,
de humor, mesclado com momentos de extrema seriedade."
Acompanhado por mais três
músicos, Hamilton Vaz Pereira
também canta as oito músicas, de
sua autoria, que formam a trilha
sonora do espetáculo.
Peça: Uiva e Vocifera
Quando: hoje, amanhã e sábado, às
21h30; domingo, às 19h
Onde: teatro Oficina (r. Jaceguai, 520, tel.
011/604-0678)
Quanto: R$ 15 e R$ 7,50 (estudantes)
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