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"Alien" ressuscita com humor negro
JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas
Algum psicanalista ou sociólogo
ainda tem que explicar o sucesso
da saga dos aliens no cinema.
Há quase 20 anos -desde
"Alien, o Oitavo Passageiro"
(1979), de Ridley Scott-, essas
gosmas mutantes e traiçoeiras voltam de quando em quando às telas, como um pesadelo recorrente.
Reforçando a idéia de mutação,
cada filme da série teve um diretor
e um estilo diferente (até o "titânico" James Cameron fez o seu).
"Alien - A Ressurreição", o
quarto rebento dessa escalada nojenta, é assinado pelo diretor francês Jean-Pierre Jeunet, que, em
parceria com Marc Caro, realizou
antes os barrocos (para não dizer
rococó) "Delicatessen" e "Ladrões de Sonhos".
A escolha de Jeunet reafirma,
por um lado, a confluência entre o
infantilismo da ficção científica
norte-americana e a afetação de
certo cinema europeu -casamento já verificado em "O Quinto
Elemento", de Luc Besson.
Por outro lado, mostra que a série dos aliens atingiu um ponto de
saturação que a faz voltar-se sobre
si mesma, numa atitude autofágica e auto-irônica.
A ressurreição de que fala o título é dupla: da tenente Ripley (Sigourney Weaver), morta há 200
anos (ver "Aliens 3"), e, por intermédio dela, dos próprios aliens.
Mistura
Nesse ponto de partida -que
não deixa de ser um subterfúgio
para continuar a série- , está embutido o toque original desse
quarto filme: a idéia de mistura do
humano com o alienígena.
O fato de Ripley ter renascido
graças a uma combinação de seus
genes com os dos alienígenas dota
de ambiguidade não só a personagem (meio gente, meio alien) como todo o filme.
É como se, hoje, já não fosse
possível (a não ser em chave de paródia, como em "Tropas Estelares") figurar os seres humanos como uma espécie pura e positiva,
confrontada com um mal externo.
Aqui, os humanos -sejam eles
os cientistas que fazem a clonagem
dos aliens, sejam os piratas espaciais que os abordam- são tão
feios, sujos e malvados quanto os
próprios monstros. Não por acaso, há entre eles uma andróide disfarçada (Winona Ryder) assim definida por Ripley: "Demasiado
humana para ser um humano".
Aliás, uma das muitas ironias do
filme é colocar a salvação da humanidade nas mãos de duas mulheres: uma delas meio alien, a outra meio máquina.
Réquiem
Para os adolescentes (de todas as
idades) que avaliam um filme pela
quantidade de gosma, sangue e
vísceras oferecida, basta dizer que
"Alien - A Ressurreição" os fornece em escala industrial.
O mais interessante, contudo, é
constatar que, desta vez, o estilo
sobrecarregado de Jeunet condiz
com seu tema. A cenografia gótica, os enquadramentos oblíquos,
a concepção algo retrô de tecnologia, tudo isso casa bem com a idéia
geral de indissociação entre o orgânico e o mecânico, entre o humano e o inumano.
Um réquiem para o homem, talvez. Mas tocado em arranjo pop e
dançante.
Filme: Alien - A Ressurreição
Produção: EUA, 1997
Direção: Jean-Pierre Jeunet
Com: Sigourney Weaver, Winona Ryder,
Ron Perlman, Dominique Pinon
Quando: a partir de hoje, nos cines Marabá,
Liberty, Raposo Shopping 2 e circuito
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