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Mostra celebra um século de bom desenho
FRANCESCA ANGIOLILLO
DA REPORTAGEM LOCAL
No ano em que morreu, 1971, o
dinamarquês Arne Jacobsen deu
uma entrevista ao jornal "Politiken" em que contava que, quase
toda vez que projetava um edifício, críticos queriam "mandá-lo
direto para o inferno".
Em seguida, porém, emendava
sua explicação para o fato: "A crítica quase sempre ocorre quando
algo novo aparece".
Uma olhada nos objetos, móveis e reproduções de desenhos
expostos no Instituto Tomie Ohtake a partir desta noite permite
arriscar um palpite: o contraste
entre linhas retas, na arquitetura,
e as formas orgânicas, nos objetos
de design, pode ter causado estranheza entre os contemporâneos
de Jacobsen.
A mostra "Arne Jacobsen no Século 21: Um Moderno Clássico
-0Um Clássico Moderno" é parte
das comemorações do centenário
do arquiteto e designer, iniciadas
em fevereiro na Dinamarca, com
ramificações por várias países e
apoio das embaixadas e do Dansk
Design Center (Centro Dinamarquês de Design, DDC).
Aqui, a curadoria é da arquiteta
Fernanda Machado, 31, espécie de
seguidora de Jacobsen -complementou sua formação na mesma
escola em que ele estudou e lecionou em Copenhague, a Academia
Real de Belas Artes da Dinamarca,
e trabalhou no escritório de seus
sucessores profissionais.
Da experiência dinamarquesa,
Machado tirou lições que podem
servir como pistas para compreender o que origina a tão propalada excelência escandinava no
campo do design.
"Eles buscam o essencial. Até
para conversar, se tem de arrancar as coisas deles", comenta a curadora, que ressalta a atenção
quase obsessiva dos conterrâneos
de Jacobsen com os detalhes.
Alie-se a isso uma tradição de
artesanato de alta qualidade e
uma crença de "quem faz bem feito faz uma vez só" (frase que, diz
Machado, os dinamarqueses
usam como um bordão) e você
começa a entender por que um
projeto de 50 anos atrás pode durar até hoje.
Muito estudo para chegar a um
resultado "simples": é isso que escondem cadeiras minimalistas
como a "Ant" (formiga) ou as
suas "primas" da "Série 7".
Os móveis em madeira laminada -técnica de dobragem do material em que os nórdicos são especialistas- ocupam as duas salas do térreo do instituto reservadas à exposição, ao lado de outros
móveis, como a poltrona "Egg"
(ovo) ou a linha "Swan" (cisne).
Na primeira sala, o visitante é
convidado a imergir no "mundo"
de Jacobsen; uma linha do tempo
cruza seus dados biográficos e fatos do contexto histórico que o tenham influenciado.
O aspecto desse primeiro espaço é mais contemplativo; estão
nele as cadeiras laminadas, miniaturas de móveis, numa vitrine.
Um vídeo coleta depoimentos sobre sua obra -característica de
todas as exposições do centenário, promovendo o que a curadora chama de "debate mundial".
Na segunda sala, estão móveis
que podem ser usados, tocados,
configurando um espaço em que
o visitante pode "comprovar" as
habilidades de Jacobsen.
Uma linha mestra para a concepção da mostra é o projeto do
SAS Royal Hotel, obra que Fernanda Machado considera a mais
"emblemática" de Jacobsen.
Faz sentido. O arquiteto aceitou
o projeto do hotel em Copenhague com a condição de responder
por tudo: do prédio aos móveis,
talheres, luminárias e até mesmo
à padronagem das cortinas.
Entre os desenhos originalmente criados para o SAS Royal, estão
a poltrona "Egg" e os talheres afilados da primeira sala -concebidos em 1958, eram tão futuristas
que seriam usados em "2001
-°Uma Odisséia no Espaço", de
Stanley Kubrick, dez anos depois.
Vale dizer, por fim, que os nomes dos móveis não vêm do nada.
É nas formas naturais que o design de Jacobsen busca inspiração
-ou coisa que o valha. Para Jacobsen, inspiração era observação: "É quando você chega em casa e lhe perguntam: "Você achou a
inspiração?". E, felizmente, você
não achou. Mas as impressões estão lá e, certamente, podem emergir mais tarde".
ARNE JACOBSEN NO SÉCULO 21: UM
MODERNO CLÁSSICO - UM CLÁSSICO
MODERNO - projetos e objetos de
design do arquiteto dinamarquês (1902-1971). Curadoria: Fernanda Machado.
Onde: Instituto Tomie Ohtake (av. Faria
Lima, 201, SP, tel. 0/xx/11/6488-1900).
Quando: hoje, às 19h (para convidados);
de ter. a dom., das 11h às 20h. Até 7/7.
Entrada franca.
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