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"DEZ POLEGADAS ODEON"
Série de discos híbridos dos anos 50 fazem lembrar 2003
DA REPORTAGEM LOCAL
Parece até ironia a série "Dez
Polegadas Odeon", que a
EMI acaba de jogar nas lojas.
Num tempo em que até o "moderno" CD já parece ameaçado de
extinção pelas tecnologias de dissolução de MP3, internet e outros
bichos, é hora de voltar ao antepassado do antepassado, o LP de
dez polegadas.
Esse é antepassado do próprio
disco de vinil (o LP) -nasceu em
meados dos anos 50, quando se
estava tentando inventar um formato que pudesse ir além dos rápidos disquinhos de 78 rpm.
Nos dez polegadas, cabiam oito músicas, quatro de cada lado
-era o prenúncio da era do LP,
que no Brasil conquistaria status
de líder mais ou menos com o advento da bossa nova.
João Gilberto ainda não havia
galgado a montanha, entretanto,
e os dez polegadas serviram para
esticar um pouco mais a história
de artistas como Orlando Silva,
Mario Reis, Francisco Alves, Dalva de Oliveira e Augusto Calheiros, todos contemplados na coleção de dez CDs (cada um deles
reunindo dois LPs de dez polegadas) da EMI.
Era tudo mais ou menos uma
confusão -os discos eram em
parte coletâneas, mas colocavam
também gravações inéditas dos
astros da canção antiga. Dorival
Caymmi, em atividade intensa
desde a década de 30, estreava em
dez polegadas com os cruciais
"Eu Vou pra Maracangalha" e
"Canções Praieiras", que soavam
velhos e novíssimos ao mesmo
tempo.
Cantoras de moda samba-canção, prestes a ser atropelada pela
bossa nova, faziam-se estrelas
breves da era dos dez polegadas.
São os casos da potente Isaura
Garcia e da (felizmente) efêmera
Hebe Camargo (ela mesma), ambas reunidas num só CD.
Vitaminava-se uma moda de
conjuntos vocais e/ou de baile,
que influenciavam veementemente João Gilberto, mas seriam
logo suplantados por ele próprio.
Dessa turma, saem de um quase
total ineditismo em CD títulos de
Demônios da Garoa, Conjunto
Farroupilha e Trio Irakitan.
A semente da novidade estava
contida, obviamente, no próprio
momento indeciso de transição.
Um dos tesouros da série "Dez
Polegadas Odeon", editado juntamente com um hoje curioso disco
de "Polêmica" entre Francisco
Egydio e Roberto Paiva, é "Orfeu
da Conceição" (56).
Trilha do filme de Marcel Camus, é um dos marcos fundadores (ou melhor, prenunciadores)
da bossa nova, que com LPs de
longa duração de João Gilberto viria alterar para sempre os rumos
da canção popular, mas também
da indústria musical brasileira.
Com músicas fundadoras da
parceria entre Tom Jobim e Vinicius de Moraes, "Orfeu" intermediava interpretações orquestrais
antiquadas (aos ouvidos de hoje,
diga-se) de Roberto Paiva com
outras de Tom Jobim, então ainda
em fase de tomar coragem para
comandar a revolução.
A canção-símbolo, então e para
sempre, seria "Se Todos Fossem
Iguais a Você", híbrido interpretado em conjunto pelo "velho"
Roberto Paiva e pelo "novo" Tom
Jobim.
Em síntese, há o que a coleção
vem re-revelar: era um tempo
confuso, de transição, de passagem -embora ninguém ali soubesse ao certo disso, ou menos
ainda o que isso iria significar. Até
parece a época do MP3.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
Dez Polegadas Odeon
Artista: Vários (10 CDs)
Lançamento: EMI
Quanto: R$ 13, em média, cada título,
preço sugerido pela gravadora
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