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São Paulo, sexta-feira, 09 de maio de 2003

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"O ÚLTIMO SUSPEITO"

Forma utilizada corrobora a falsidade do drama

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

O título sugere suspense, mas não se engane: "O Último Suspeito" é um drama familiar "baseado numa história real", carregado de todos os clichês possíveis dessa fórmula. Martin Scorsese, por exemplo, se nutre do real, mas não vai buscar a falsa legitimidade dos fatos.
Já "O Último Suspeito" parece gritar o tempo todo "não estamos mentindo, tudo isso aconteceu de verdade!", o que só torna tudo mais falso e melodramático.
Não é por acaso que o nome de Scorsese vem à mente ao longo da projeção de "O Último Suspeito". O filme bem poderia ter sido assinado por ele, já que tem Nova York como cenário, Robert De Niro como protagonista e uma tremenda história como base.
No entanto quem está na direção é Michael Caton-Jones, que prefere jogar fora o excelente material com uma "mise-en-scène" anódina, sem riscos.
O roteiro é inspirado em reportagem premiada do jornalista Mike McAlary a respeito do irônico destino de Vincent Lamarca (De Niro). Filho de um homem condenado à cadeira elétrica, ele se tornou exímio policial, para ver seu próprio filho (James Franco) se tornar o principal suspeito de um crime de morte (e, portanto, candidato a cadeira elétrica).
Há vários detalhes ricos, que poderiam valorizar o filme, mas a forma narrativa escolhida por Caton-Jones só corrobora a falsidade do drama.
Joey mora com a mãe em Long Island, balneário nos arredores de Nova York, ex-paraíso da classe média, hoje um território decadente e abandonado -o que poderia ter sido uma metáfora não só para essa história de abandono, mas para a própria situação de boa parte da América nos dias de hoje. Da forma como foi filmada, porém, Long Island é apenas um feio cenário.
Caton-Jones, pelo menos, não cai na mais terrível das armadilhas, que seria sugerir a transmissão do crime pela genética, reiterando o fato explorado pelos tablóides quando a história verídica veio à tona.
O diretor prefere frisar a transmissão do legado do abandono, deixando claro que, nas relações familiares, a ausência também é uma forma de transmissão.
O problema é a forma que Caton-Jones escolhe para explicitar tal idéia, tão conservadora que transforma o filme numa lição de psicologia social em pouco menos de duas horas.


O Último Suspeito
City by the Sea
 
Produção: EUA, 2002
Direção: Michael Caton-Jones
Com: Robert de Niro, Frances McDormand e James Franco
Quando: a partir de hoje nos cines Anália Franco, Center Iguatemi, Plaza Sul e circuito



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