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"O ÚLTIMO SUSPEITO"
Forma utilizada corrobora a falsidade do drama
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
O título sugere suspense,
mas não se engane: "O Último Suspeito" é um drama familiar "baseado numa história real",
carregado de todos os clichês possíveis dessa fórmula. Martin Scorsese, por exemplo, se nutre do
real, mas não vai buscar a falsa legitimidade dos fatos.
Já "O Último Suspeito" parece
gritar o tempo todo "não estamos
mentindo, tudo isso aconteceu de
verdade!", o que só torna tudo
mais falso e melodramático.
Não é por acaso que o nome de
Scorsese vem à mente ao longo da
projeção de "O Último Suspeito".
O filme bem poderia ter sido assinado por ele, já que tem Nova
York como cenário, Robert De
Niro como protagonista e uma
tremenda história como base.
No entanto quem está na direção é Michael Caton-Jones, que
prefere jogar fora o excelente material com uma "mise-en-scène"
anódina, sem riscos.
O roteiro é inspirado em reportagem premiada do jornalista Mike McAlary a respeito do irônico
destino de Vincent Lamarca (De
Niro). Filho de um homem condenado à cadeira elétrica, ele se
tornou exímio policial, para ver
seu próprio filho (James Franco)
se tornar o principal suspeito de
um crime de morte (e, portanto,
candidato a cadeira elétrica).
Há vários detalhes ricos, que
poderiam valorizar o filme, mas a
forma narrativa escolhida por Caton-Jones só corrobora a falsidade do drama.
Joey mora com a mãe em Long
Island, balneário nos arredores de
Nova York, ex-paraíso da classe
média, hoje um território decadente e abandonado -o que poderia ter sido uma metáfora não
só para essa história de abandono,
mas para a própria situação de
boa parte da América nos dias de
hoje. Da forma como foi filmada,
porém, Long Island é apenas um
feio cenário.
Caton-Jones, pelo menos, não
cai na mais terrível das armadilhas, que seria sugerir a transmissão do crime pela genética, reiterando o fato explorado pelos tablóides quando a história verídica
veio à tona.
O diretor prefere frisar a transmissão do legado do abandono,
deixando claro que, nas relações
familiares, a ausência também é
uma forma de transmissão.
O problema é a forma que Caton-Jones escolhe para explicitar
tal idéia, tão conservadora que
transforma o filme numa lição de
psicologia social em pouco menos
de duas horas.
O Último Suspeito
City by the Sea
Produção: EUA, 2002
Direção: Michael Caton-Jones
Com: Robert de Niro, Frances
McDormand e James Franco
Quando: a partir de hoje nos cines
Anália Franco, Center Iguatemi, Plaza Sul
e circuito
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