São Paulo, sábado, 9 de maio de 1998

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"Foi a primeira e única estrela do rock no Brasil"

da Reportagem Local

Roberto de Carvalho, 45, músico, compositor, arranjador, produtor e marido de Rita Lee, é o que ele mesmo define como "articulador" do "Acústico MTV".
"Sou produtor e coordenador de projeto. Arranjador junto com a Rita. E músico", explica. Leia a trechos da entrevista por e-mail do artista à Folha. (PAS)

Folha - Você não esteve presente no "Bossa'n'Roll". Mesmo assim pode estabelecer uma ponte entre os dois projetos?
Roberto de Carvalho -
"Bossa'n'Roll" é um projeto excepcional. É precursor e já consegue praticamente esgotar as possibilidades do gênero por ser absolutamente despojado na produção. Cria um parâmetro muito difícil, porque radicaliza. Qualquer outra idéia vai ficar no meio do caminho entre a simplicidade sofisticada do "Bossa'n'Roll" e os acústicos superproduzidos (nem sempre sofisticados) que têm sido feitos.
No "Bossa'n'Roll", a Rita foi ao osso das músicas, o que gosto muito, mas os arranjos iam frequentemente para o lado do sambinha, era essa a estética da coisa, e disso estamos fugindo desta vez.
Folha - Qual é a preocupação básica do casal no projeto acústico?
Carvalho -
A preocupação da metade Carvalho é que tudo esteja à altura da metade Lee. Que seja inspirado, bonito, harmônico, interessante, bem-feito, caprichado e que as pessoas gostem.
Folha - Você é capaz de fazer uma análise geral da obra dela?
Carvalho -
Na minha modesta opinião, minha mulher é uma das maiores artistas de música popular de nosso planeta. Costumo dizer que o avô americano veio na direção errada. Se vivesse nos EUA, ela teria se tornado com certeza uma coisa realmente grande.
Sempre teve uma imagem fortíssima. Nos Mutantes, a imagem era ela, o charme era dela, o humor era dela, a graça era ela. Saiu, c'est fini. Segue-se a época Tutti Frutti, a primeira estrela do rock do Brasil. Foi a primeira e única, fez os primeiros grandes shows de rock no Brasil, o "Fruto Proibido" (75).
Nos conhecemos no "Entradas e Bandeiras" (76), no maior estresse, "Babilônia" (78), que tenho orgulho de ter participado, mas já funcionando com respiração artificial. E depois, como você já sabe, veio Roberto de Carvalho.
Folha - O casal sofreu preconceito, aquela coisa de John Lennon e Yoko Ono, já que até hoje a crítica prefere as fases anteriores de Rita?
Carvalho -
Talvez tenha sofrido preconceito. O casal serviu como uma grande tela de projeção para as pessoas em geral, e com certeza coisas boas e não tão boas foram projetadas. Isso não significa de forma nenhuma que os personagens em questão fossem ou sejam a materialização dessas projeções, vade retro! Foi a fase de Rita que vendeu milhões de discos.
Quanto a Yoko, sei não. Colaborei para que Rita se expandisse em todos os sentidos e ocupasse o lugar que ela tinha que ocupar, por mérito próprio. Yoko não contribuiu um milímetro para a expansão do marido, já o pegou pronto.



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