São Paulo, sábado, 9 de maio de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TEATRO - CRÍTICA
"Toda Nudez' volta como comédia de costumes

NELSON DE SÁ
da Reportagem Local

"Toda Nudez Será Castigada" é a última peça do período de maior produção de Nelson Rodrigues, que vai de 1941 a 1965. (Bem depois escreveria, já diletante, mais duas.) É um texto da segunda fase de sua dramaturgia, quando ele troca a tragédia pela comédia de costumes carioca.
É uma comédia, mas, como diria o crítico Pompeu de Sousa, sem perder a universalidade essencial -é quase uma tragicomédia. Um problema da nova montagem de "Toda Nudez" é que ela faz a opção pela comédia e perde a universalidade "essencial".
A opção é flagrante já no elenco, nos protagonistas, a começar por Marília Pêra como Geni, a prostituta, passando por Walter Breda como Herculano, o puritano que se deixa apaixonar pela prostituta, e por André Valli como Patrício, o vilão, irmão de Herculano. Todos comediantes de talento.
Mas é mesmo Marília Pêra, é preciso dizer, o problema. Que os demais personagens sejam vencidos pelas tiradas desestabilizadoras do próprio Nelson Rodrigues, ainda se entende. (É o que acontece com o Herculano de Walter Breda, farsesco ao limite de parecer rir de si mesmo, no primeiro ato.)
Mas Geni, ao contrário dos demais, precisa vencer o sarcasmo de Nelson Rodrigues para "Toda Nudez" ter algum sentido. É preciso que a atriz, como escreveu o crítico Décio de Almeida Prado quando da estréia da primeira montagem, afirme o primitivismo, a elementaridade animal de Geni. E não é o que faz.
Marília Pêra parece tentar, aqui e ali, como quando diz saber que um dia vai descobrir o sinal do câncer no seio.
Mas é um esforço melodramático, inverossímil -e que se torna constrangedor no último ato, quando o texto já mais fraco e a atuação tensa de Leon Góes (como Serginho, filho de Herculano) conjugam-se para expor inapelavelmente a protagonista.
Ela não vira a chave do cômico para o trágico -como já se viu, dela mesma, em outras atuações-, e sim para o dramático. E mal.
Mas que fique claro: Marília Pêra segue a grande atriz de sempre, com o espectador na mão, fazendo com que ria com pequenas mudanças de tempo no discurso. É uma interpretação que se pode apreciar muito, mas que não basta.
A encenação e, mais propriamente, a cenografia são simples e de bom gosto -sem maior inventividade, porém. Foram feitos cortes no original. O palco é limpo, com mínimos elementos, marcando bem cada ato com uma cor, em imensos painéis ao fundo.
"Toda Nudez" surge, da montagem, superficial e frasista, aproximando o autor perigosamente de comediógrafos populares como Joracy Camargo. É bom poder rir de novo com Nelson Rodrigues, mas ele oferecia mais.


Peça: Toda Nudez Será Castigada
Direção: Moacyr Góes
Quando: de qui a sáb, às 21h; dom, às 19h
Onde: Teatro Alfa Real (r. Bento Branco de Andrade Filho, 722, tel. 011/253-2125)
Quanto: R$ 20 a R$ 40
Patrocinadores: Banco Real, Secretaria Municipal de Cultura (RJ) e Telebrás



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.