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EXPOSIÇÃO
Mostra "The Matter of Time" leva obras claustrofóbicas do artista plástico ao museu de Bilbao (Espanha)
Richard Serra redesenha espaço do Guggenheim
MICHAEL KIMMELMAN
DO "NEW YORK TIMES", EM BILBAO
Um verdadeiro museu Richard
Serra foi inaugurado ontem dentro do Guggenheim Bilbao (Espanha). A instalação é uma das
grandes obras dos últimos 50
anos, a culminação de um período frutífero na carreira do artista.
Demonstra profunda humanidade, não menos porque se baseia
na percepção individual.
Essa última observação pode
parecer conflitante com relação às
queixas expressas há duas décadas, quando sua peça "Tilted Arc"
(arco inclinado) foi instalada em
Foley Square (Manhattan, EUA) e
depois removida para um depósito de lixo, quando ele passou a ser
considerado um homem irado de
esculturas ameaçadoras.
Testemunhando a natureza extraordinária da arte, os trabalhos
mais recentes de Serra, que aprofundam o conceito de uma peça
de aço curvo que cerca um determinado espaço, se tornaram populares. A mudança na percepção
envolve mais que a diferença entre uma praça e o interior de um
museu. Serra aperfeiçoou sua linguagem visual; as mães agora passeiam alegremente com seus bebês em meio às suas esculturas.
Posicionada em uma sala vasta
e excêntrica, a instalação consiste
de oito esculturas, sete delas recentes mais "Snake" (cobra), que
já fazia parte do acervo. A maneira pela qual elas se combinam é o
importante: a forma como se
pressionam umas às outras; a maneira como as formas em fluxo se
influenciam e são influenciadas
pela arquitetura, criando vistas e
sons -as peças são como câmeras de eco na galeria.
Não há percurso predeterminado. A instalação é fragmentária; as
esculturas surgem em formas jamais sonhadas no passado
-imensas, retorcidas. As peças
são pesadas, embora possam parecer desprovidas de peso devido
à maneira pela qual suas formas
se dobram. Quando se caminha
entre as obras, o que permanece é
a sensação de claustrofobia.
"The Matter of Time", o título
da instalação de Serra em Bilbao,
resolve um problema que há muito incomodava o museu: quando
abriu as portas, há oito anos, o casulo de titânio e vidro era uma
atração turística. Ficou claro que
o museu conflitava com o conteúdo que abrigava. Como pode ser
prática uma sala em formato de
asa de avião e com quase 120 metros de comprimento? O espaço se
tornou mais administrável em
1999, quando Serra instalou diversas "Torqued Ellipses", peças
que caíram bem no espaço.
O Guggenheim e o governo do
País Basco reconheceram que havia um problema. Desejosos de
criar uma atração permanente,
ofereceram a ala dominante do
museu a um artista capaz de enfrentar o desafio. A solução de
Serra tanto acolhe quanto ironiza
a arquitetura do local. A instalação atual é quase subversiva. Do
centro de uma das espirais, mais
ou menos da metade da sala, o espectador pode avistar o teto recurvo, e é possível imaginar que
Serra quis contrastar suas formas
elásticas com as formas estranhas
do edifício, que são decorativas. E
não apenas dramaticidade no
sentido de que se trata de esculturas notáveis mas também no sentido que elas implicam tempo,
som, movimento, mudança. Termos que se aplicam ao teatro ou
ao cinema. O trabalho de Serra é
abstrato, mas se desenrola como
uma peça ou filme. Trata-se de
uma condição radical para a escultura abstrata. Agora instalada
em seu espaço, a obra se torna um
marco para o século iniciado.
Tradução Paulo Migliacci
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