São Paulo, segunda-feira, 09 de junho de 2008

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Memória

Risi foi mestre da comédia social

Cineasta italiano, diretor de "Perfume de Mulher" (1974), morreu no último sábado, aos 91 anos

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

O cineasta italiano Dino Risi, morto anteontem em Roma aos 91 anos, foi um dos grandes nomes da comédia italiana de costumes, ao lado de Mario Monicelli e Pietro Germi.
Trabalhando com Vittorio Gassman, Ugo Tognazzi, Alberto Sordi, Sophia Loren, Monica Vitti e outros atores cômicos de primeira linha, deu ao mundo o humor crítico e amargo de filmes como "Pão, Amor e..." (1955), "Aquele que Sabe Viver" (1962), "Os Monstros" (1963), "Esse Crime Chamado Justiça" (1973) e "Perfume de Mulher" (1974).
Médico psiquiatra que não seguiu a profissão, Risi se refugiou na Suíça durante a Segunda Guerra, onde estudou cinema com o diretor e ator franco-belga Jacques Feyder.
Mas sua verdadeira escola, como a de todos os grandes diretores italianos do pós-guerra, foi o neo-realismo. Antes mesmo de realizar seus primeiros curtas, Risi trabalhou como assistente de direção de Alberto Lattuada em "Giacomo l'Idealista" (1942).
Estreou na direção de longas em 1952 com "Vacanze col Gangster" (férias com o gângster) e logo nos anos seguintes encadeou dois sucessos estrelados pela dupla Sophia Loren-Vittorio De Sica: "O Signo de Vênus" e "Pão, Amor e...".
O êxito de "Pobres, mas Belas" (1956) foi tão grande que gerou duas continuações com os mesmos personagens: "Pobres, porém Formosas" (1957) e "Pobres Milionários" (1959).
Mas é em "Aquele que Sabe Viver" ("Il Sorpasso"), provavelmente sua obra-prima, que se encontra a quintessência do cinema de Risi: crítica social, humor corrosivo, compreensão profunda das fraquezas humanas e consciência melancólica da passagem do tempo.

Acidez
Nesse personalíssimo "road movie", Roberto Mariani (Jean-Louis Trintignant), um comportado estudante de direito, viaja de carro pelo interior da Itália com o bon-vivant quarentão Bruno Cortona (Vittorio Gassman).
Roberto fica fascinado com a experiência de vida e o jogo de cintura de Bruno, mas ao longo da viagem detecta nele também um profundo desencanto e um vazio assustador.
Em certos momentos o cinema de Risi se politizou, enfatizando a dimensão da crítica social, como no ácido "Este Crime Chamado Justiça", que opõe os dois atores com quem ele se deu melhor, Gassman e Tognazzi, nos papéis respectivos de um empresário corruptor e um juiz incorruptível.
Em "Perfume de Mulher", talvez o último grande sucesso internacional do cineasta, Gassman faz o papel do cínico militar cego que seria vivido por Al Pacino no "remake" americano do filme.
Depois disso, a obra de Risi perdeu a força, participando do declínio geral do cinema italiano dos anos 80 e 90. Não por acaso, seus últimos trabalhos foram para a televisão.


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