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Memória
Risi foi mestre da comédia social
Cineasta italiano, diretor de "Perfume de Mulher" (1974), morreu no último sábado, aos 91 anos
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
O cineasta italiano Dino
Risi, morto anteontem
em Roma aos 91 anos,
foi um dos grandes nomes da
comédia italiana de costumes,
ao lado de Mario Monicelli e
Pietro Germi.
Trabalhando com Vittorio
Gassman, Ugo Tognazzi, Alberto Sordi, Sophia Loren, Monica
Vitti e outros atores cômicos de
primeira linha, deu ao mundo o
humor crítico e amargo de filmes como "Pão, Amor e..."
(1955), "Aquele que Sabe Viver"
(1962), "Os Monstros" (1963),
"Esse Crime Chamado Justiça"
(1973) e "Perfume de Mulher"
(1974).
Médico psiquiatra que não
seguiu a profissão, Risi se refugiou na Suíça durante a Segunda Guerra, onde estudou cinema com o diretor e ator franco-belga Jacques Feyder.
Mas sua verdadeira escola,
como a de todos os grandes diretores italianos do pós-guerra,
foi o neo-realismo. Antes mesmo de realizar seus primeiros
curtas, Risi trabalhou como assistente de direção de Alberto
Lattuada em "Giacomo l'Idealista" (1942).
Estreou na direção de longas
em 1952 com "Vacanze col
Gangster" (férias com o gângster) e logo nos anos seguintes
encadeou dois sucessos estrelados pela dupla Sophia Loren-Vittorio De Sica: "O Signo de
Vênus" e "Pão, Amor e...".
O êxito de "Pobres, mas Belas" (1956) foi tão grande que
gerou duas continuações com
os mesmos personagens: "Pobres, porém Formosas" (1957)
e "Pobres Milionários" (1959).
Mas é em "Aquele que Sabe
Viver" ("Il Sorpasso"), provavelmente sua obra-prima, que
se encontra a quintessência do
cinema de Risi: crítica social,
humor corrosivo, compreensão
profunda das fraquezas humanas e consciência melancólica
da passagem do tempo.
Acidez
Nesse personalíssimo "road
movie", Roberto Mariani
(Jean-Louis Trintignant), um
comportado estudante de direito, viaja de carro pelo interior da Itália com o bon-vivant
quarentão Bruno Cortona (Vittorio Gassman).
Roberto fica fascinado com a
experiência de vida e o jogo de
cintura de Bruno, mas ao longo
da viagem detecta nele também
um profundo desencanto e um
vazio assustador.
Em certos momentos o cinema de Risi se politizou, enfatizando a dimensão da crítica social, como no ácido "Este Crime Chamado Justiça", que
opõe os dois atores com quem
ele se deu melhor, Gassman e
Tognazzi, nos papéis respectivos de um empresário corruptor e um juiz incorruptível.
Em "Perfume de Mulher",
talvez o último grande sucesso
internacional do cineasta,
Gassman faz o papel do cínico
militar cego que seria vivido
por Al Pacino no "remake"
americano do filme.
Depois disso, a obra de Risi
perdeu a força, participando do
declínio geral do cinema italiano dos anos 80 e 90. Não por
acaso, seus últimos trabalhos
foram para a televisão.
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