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Chelpa Ferro cria música mecânica com luz e ruídos
Exposição em galeria apresenta 21 trabalhos inéditos; "é a
representação visual do som", diz o integrante Luiz Zerbini
Coletivo monta pela
primeira vez em São Paulo a
obra "Jungle Jam", em que
sacos plásticos e motores
imitam percussão do samba
SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL
As antenas da av. Paulista interferem com a obra. Jogam
música sertaneja sobre o barulho processado do Chelpa Ferro. Na montagem da exposição
no último sábado, Barrão, Luiz
Zerbini e Sergio Mekler quebravam a cabeça para evitar
que as rádios invadissem a freqüência sonora dos trabalhos.
É a melodia desses artistas
que já representaram o Brasil
na Bienal de Veneza e participaram duas vezes da Bienal
paulistana que briga para aparecer na mostra que o grupo
abre amanhã, na galeria Vermelho, em São Paulo.
Começou na música, aliás, o
trabalho desse coletivo surgido
no Rio em 1995 -um livro lançado junto com a exposição
traz detalhes de toda a trajetória do grupo.
Os três fizeram um disco juntos
no então recém-nascido Chelpa Ferro, palavras que Barrão
viu por acaso no dicionário. O
problema é que não conseguiam tocar as partituras que
inventaram. As obras da primeira exposição foram instrumentos para tocar os acordes.
"A música é uma matéria-prima para trabalhar em cima",
afirma Zerbini. "Pensamos em
como transformar uma obra
numa orquestra de percussão",
completa Mekler.
Com outros 21 trabalhos inéditos, o Chelpa Ferro monta
pela primeira vez em São Paulo
a instalação "Jungle Jam", senão uma orquestra, uma bateria. Motores instalados nas paredes fazem girar 30 sacos plásticos, criando um barulho parecido com o rufar dos tambores.
Controlada pelo "cabeção",
máquina inventada pelo grupo,
a seqüência dos movimentos
parece aleatória. "O som chama
o olho, o olho puxa o som", descreve Mekler. "Queria comandar esses sacos como uma bateria de escola de samba."
Mesmo que montada no segundo andar da galeria, vale como início do percurso, já que
resume com força boa parte da
pesquisa estética do grupo: a
fusão de componentes mecânicos com elementos visuais que
tentam desmembrar a música.
Essa radiografia musical aparece de forma literal em
"Rx08", obra no primeiro andar que amplifica os sons internos de uma velha máquina de
raio-x. No lugar onde ficaria a
chapa do paciente, estão dois
acrílicos roxo e vermelho. Um
pequeno alto-falante toca o
som dos ventiladores lá dentro.
"Seria exagerado chamar isso
de música, mas ele remete a
instrumentos", opina Zerbini,
que, com os colegas, também
deixou espaço para o silêncio.
Som visual
Três obras se calam para
mostrar o som. "Jardim Elétrico", trabalho que dá nome à exposição, é uma placa prateada
com luzes coloridas que piscam
num ritmo determinado, sem
fazer nenhum barulho. As lâmpadas penduradas da parede
em "Dread" acendem e apagam
numa pulsação devagar, seguindo uma partitura visual
mais introspectiva. "Carrapetas" são duas lâmpadas montadas sobre discos de vinil que
piscam e conversam entre si.
"Essa exposição tem mais luz
e cor", admite Zerbini. "É a representação visual do som."
Num acorde final, uma caixa
para guitarra espera o público,
aberta e vazia. Cada vez que alguém jogar uma moeda, o som
será amplificado para toda a galeria por um alto-falante potente. É a essência da música destrinchada pelo peso da batida.
CHELPA FERRO
Quando:
abertura amanhã, às 20h, de
ter. a sex., das 10h às 19h; sáb.,
das 11h às 17h; até 5/7
Onde:
Vermelho (r. Minas Gerais,
350, tel. 0/xx/11/3257-2033)
Quanto:
entrada franca
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