São Paulo, segunda-feira, 09 de junho de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Chelpa Ferro cria música mecânica com luz e ruídos

Exposição em galeria apresenta 21 trabalhos inéditos; "é a representação visual do som", diz o integrante Luiz Zerbini

Coletivo monta pela primeira vez em São Paulo a obra "Jungle Jam", em que sacos plásticos e motores imitam percussão do samba

SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL

As antenas da av. Paulista interferem com a obra. Jogam música sertaneja sobre o barulho processado do Chelpa Ferro. Na montagem da exposição no último sábado, Barrão, Luiz Zerbini e Sergio Mekler quebravam a cabeça para evitar que as rádios invadissem a freqüência sonora dos trabalhos.
É a melodia desses artistas que já representaram o Brasil na Bienal de Veneza e participaram duas vezes da Bienal paulistana que briga para aparecer na mostra que o grupo abre amanhã, na galeria Vermelho, em São Paulo.
Começou na música, aliás, o trabalho desse coletivo surgido no Rio em 1995 -um livro lançado junto com a exposição traz detalhes de toda a trajetória do grupo.
Os três fizeram um disco juntos no então recém-nascido Chelpa Ferro, palavras que Barrão viu por acaso no dicionário. O problema é que não conseguiam tocar as partituras que inventaram. As obras da primeira exposição foram instrumentos para tocar os acordes.
"A música é uma matéria-prima para trabalhar em cima", afirma Zerbini. "Pensamos em como transformar uma obra numa orquestra de percussão", completa Mekler.
Com outros 21 trabalhos inéditos, o Chelpa Ferro monta pela primeira vez em São Paulo a instalação "Jungle Jam", senão uma orquestra, uma bateria. Motores instalados nas paredes fazem girar 30 sacos plásticos, criando um barulho parecido com o rufar dos tambores.
Controlada pelo "cabeção", máquina inventada pelo grupo, a seqüência dos movimentos parece aleatória. "O som chama o olho, o olho puxa o som", descreve Mekler. "Queria comandar esses sacos como uma bateria de escola de samba."
Mesmo que montada no segundo andar da galeria, vale como início do percurso, já que resume com força boa parte da pesquisa estética do grupo: a fusão de componentes mecânicos com elementos visuais que tentam desmembrar a música.
Essa radiografia musical aparece de forma literal em "Rx08", obra no primeiro andar que amplifica os sons internos de uma velha máquina de raio-x. No lugar onde ficaria a chapa do paciente, estão dois acrílicos roxo e vermelho. Um pequeno alto-falante toca o som dos ventiladores lá dentro.
"Seria exagerado chamar isso de música, mas ele remete a instrumentos", opina Zerbini, que, com os colegas, também deixou espaço para o silêncio.

Som visual
Três obras se calam para mostrar o som. "Jardim Elétrico", trabalho que dá nome à exposição, é uma placa prateada com luzes coloridas que piscam num ritmo determinado, sem fazer nenhum barulho. As lâmpadas penduradas da parede em "Dread" acendem e apagam numa pulsação devagar, seguindo uma partitura visual mais introspectiva. "Carrapetas" são duas lâmpadas montadas sobre discos de vinil que piscam e conversam entre si. "Essa exposição tem mais luz e cor", admite Zerbini. "É a representação visual do som."
Num acorde final, uma caixa para guitarra espera o público, aberta e vazia. Cada vez que alguém jogar uma moeda, o som será amplificado para toda a galeria por um alto-falante potente. É a essência da música destrinchada pelo peso da batida.


CHELPA FERRO
Quando:

abertura amanhã, às 20h, de ter. a sex., das 10h às 19h; sáb., das 11h às 17h; até 5/7
Onde: Vermelho (r. Minas Gerais, 350, tel. 0/xx/11/3257-2033)
Quanto: entrada franca


Texto Anterior: Memória: Risi foi mestre da comédia social
Próximo Texto: Livro sobre trajetória do grupo destaca processo criativo e dúvidas sobre obras
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.