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CRÍTICA
O cineasta em seu melhor papel
SÉRGIO DÁVILA
DA REPORTAGEM LOCAL
Jerry (Jason Biggs) é um jovem escritor cômico de Nova
York que tem como mentor o veterano Dobel (Woody Allen), um
semita radical, embora ateu. Namora a aspirante a atriz Amanda
(Christina Ricci), infiel, com
quem não faz sexo há seis meses e
divide uma casa, para a qual se
muda sua futura sogra, a cantora
decadente Paula (Stockard Channing). É empresariado por Harvey (Danny DeVito), que o tem
como único cliente e o faz ser motivo de chacota no meio.
Eis a base para que Allen, em
seu 33º longa como diretor, faça
um grande filme, delicado, sutilmente cômico (não há momentos
de gargalhada aberta, mas o espectador fica com um constante
sorriso nos lábios) e para o qual
escreveu um dos melhores papéis
que ele próprio já interpretou. De
quebra, traz três revelações.
Primeiro, do talento precoce de
Jason Biggs, que o mundo conhece apenas como o abobalhado
pós-adolescente da cinessérie
"American Pie", mas que já dava
mostra do grande ator que pode
ser em sua participação no principal papel masculino da montagem da Broadway de "The Graduate" (baseada no filme homônimo, no Brasil "A Primeira Noite
de um Homem"). Ele era o melhor de um elenco que contava
com uma estereotipada Kathleen
Turner como Mrs. Robinson e a
fraquíssima Alicia Silverstone.
Em "Igual a Tudo na Vida", ele
encarna à perfeição o que Woody
Allen imagina que a platéia imagine que seja o estereótipo dele próprio, chegando a se igualar ao
John Cusack de "Tiros na Broadway". Só para registro, o começo
em comédias escrachadas e francamente adolescentes não é necessariamente ruim. Sim, a carreira pode dar num Judge Reinhold,
mas também em Sean Penn (ambos ganharam fama na comédia
"Picardias Estudantis", de 1982).
Segundo, do domínio absoluto
de cena de Christina Ricci, uma
das atrizes mais interessantes de
sua geração. Ela é a ninfeta da vez
da seara alleniana, desde que o
pervertido sessentão as descobriu
(e até casou com uma delas), e
não faz feio a Mariel Hemingway
("Manhattan"), Drew Barrymore
("Todos Dizem Eu te Amo") ou
mesmo Juliette Lewis ("Maridos e
Mulheres").
Terceiro, de que quando quer
Allen ainda domina os diálogos.
Aqui, o diretor está no melhor de
sua verve. É um tiroteio de frases a
guardar para repetir depois, seja
pela graça, seja pela ironia. Alguns
exemplos, a maioria falada pelo
guru para seu discípulo:
* "De que me ajuda a física
quântica? O que adianta eu saber
que tempo e espaço são a mesma
coisa? Eu pergunto a um cara que
horas são, e ele me responde: "Seis
milhas'?";
* "Não sabia se lhe comprava
um livro de Sartre ou O'Neill. Não
me lembrava de qual niilismo
pessimista o deixava mais feliz";
* "Deve existir 1 milhão de mulheres querendo dormir com você. Se não 1 milhão, pelo menos
uma, se você a embebedar o suficiente";
* "Prefiro a masturbação. Outro
dia imaginei um ménage à trois
com Marilyn Monroe e Sophia
Loren. Se não me engano, é a primeira vez que essas duas grandes
atrizes trabalham juntas".
E a que revela o título...
Igual a Tudo na Vida
Anything Else
Direção: Woody Allen
Produção: EUA, 2004
Com: Jason Biggs, Christina Ricci
Quando: hoje, a partir da meia-noite,
seguido de "A Janela da Frente", de
Ferzan Ozpetek, e filme-surpresa
Onde: HSBC Belas Artes (r. da
Consolação, 2.423, SP, tel. 0/xx/11/3258-4092)
Quanto: R$ 15
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