RICARDO CALIL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O grande modelo para os filmes em que um personagem passa a reavaliar sua existência a partir de um acontecimento extraordinário é "A Felicidade Não se Compra" (1946), de Frank Capra. Desse tronco original, surgiram várias ramificações, entre elas uma especialmente frutífera, em que o evento fantástico é um repentino salto no tempo do protagonista, como em "Quero Ser Grande" (1988) ou "De Repente 30" (2004). A comédia juvenil "17 Outra Vez" faz parte desse galho. Na trama, Mike (Zac Effron), um jovem astro do basquete, abandona o jogo de sua vida para ir atrás da namorada que anunciou estar grávida. Corta para muitos anos mais tarde. Mike (Mathew Perry), agora vendedor fracassado e pai ausente de dois filhos adolescentes, separa-se de sua antiga namoradinha de colégio porque esta não suporta o ressentimento que ele sente por ter desistido do futuro como jogador. Então, por mágica, Mike volta a ter 17 anos, retorna ao velho colégio (onde passa a conviver com os filhos) e tem a chance de mudar seu destino. Com cinco minutos de projeção, qualquer espectador com um pouco de milhagem sabe como a história termina. Mas isso não é um efeito indesejado. Ao contrário, tudo que a produção almeja é ser previsível, não perturbar o público com uma originalidade inconveniente. Por filmes como "17 Outra Vez" o cinema costuma ser comparado à fast food. Não é pela rapidez do consumo. É porque se oferece algo facilmente reconhecível em qualquer situação, em qualquer parte do mundo. E, claro, há também o marketing. O de "17 Outra Vez" é sábio: o mesmo pacote apela aos fãs de "High School Musical" que já cresceram, atraídos pela presença de Zac Effron, e aos fãs de "Friends" que se recusam a crescer, representados por Matthew Perry. Em termos de previsibilidade e precisão, o filme é um triunfo.