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CINEMA
Crítica/"Bem-vindo"
Longa francês coloca o foco sobre a faceta emocional da imigração ilegal
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
A imigração tornou-se tema social predominante no cinema europeu.
Questões como o racismo, a intolerância e o que ainda resta
de humanismo têm ocupado a
atenção de cineastas, que as incorporaram a ficções que recuperam o realismo como linguagem predominante. A esse time, "Bem-vindo" traz um tanto
de força e emoção.
O longa, sexto da carreira de
repercussão limitada do francês Philippe Lioret, acompanha os desencontros nas vidas
de Bilal, um jovem curdo que
foge da Guerra do Iraque e tenta chegar clandestinamente à
Inglaterra, e Simon, um depressivo professor de natação
quarentão. A aproximação dos
tipos díspares projeta sentidos
simbólicos que o filme percorre
com segurança e habilidade.
Bilal encontra-se em Calais,
maltratado por outros imigrantes clandestinos. Sua meta é alcançar Mina, garota por quem
está apaixonado e que vive em
Londres. Simon amarga o fim
de seu casamento com Marion.
Simon primeiro trata a presença estrangeira de Bilal com
pouca receptividade, mas, aos
poucos, passa a acolhê-lo e termina perseguido por "delito de
solidariedade", infração da legislação francesa que penaliza
quem ajuda imigrantes ilegais.
Os laços entre eles são, de um
lado, paternais, mas também se
fundam no espelhamento de
ambos, isolados física ou sentimentalmente da mulher que
amam. Contudo, ao concentrar
o foco nas experiências pessoais, "Bem-vindo" esvazia a
temática social que nutria o filme com um valor de atualidade.
A opção final de Lioret é de
adesão ao melodrama, preferindo explorar as reações emocionais sem nos poupar de uma
trilha sonora sentimentalíssima. A questão política e social
tende a se diluir no mar de lágrimas em que o espectador fica a boiar.
Há, claro, bastante beleza em
tudo isso, só que às vezes ela
ameaça se tornar demais.
BEM-VINDO
Direção: Philippe Lioret
Produção: França, 2008
Com: Vincent Lindon, Firat Ayverdi e
Audrey Dana
Onde: nos cines Espaço Unibanco Augusta e HSBC Belas Artes
Classificação: 14 anos
Avaliação: bom
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