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MORUMBIFASHION BRASIL
Villaventura cria novo Brasil multiétnico
Otavio Dias de Oliveira/Folha Imagem
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Mariana Weickert no desfile de Lino Villaventura, anteontem, no último dia do Morumbifashion Brasil |
ERIKA PALOMINO
Colunista da Folha
"Jurei mentiras e sigo sozinho,
assumo os pecados. Os ventos do
norte não movem moinho e o que
me resta é só um gemido (...), meu
sangue latino." Assim repetia a
música de Ney Matogrosso na trilha sonora de Lino Villaventura.
Serve de mote para a trajetória
do estilista paraense, radicado em
Fortaleza, e também de sinalização para a moda brasileira. Villaventura fez anteontem o principal
desfile do último dia do MorumbiFashion Brasil, evento que lançou as coleções de 17 marcas para
a primavera-verão 99/2000 no
parque Ibirapuera (zona sudoeste
de São Paulo).
Latinidade; brasilidade e uma
incrível atemporalidade étnica
deram o tom da coleção, que veio
assumidamente barroca e, paradoxalmente, mais limpa do que
nas apresentações anteriores.
O drama estava lá, sim, mas
contido como convém a um criador em crescente domínio estilístico. Suas imagens de mulher
misturavam diferentes referenciais, evocando santas, princesas,
ciganas, hippies; travellers, retirantes, egípcias, indígenas e africanas. Estava tudo lá.
Pura moda pagã, as estampas
vinham etéreas, com imagens de
santuários antigos; os bordados
delicadíssimos traziam pérolas,
pétalas, nuvens (em lã mohair),
plumagem, gotas lembrando a espuma do mar, mais canutilhos
com parcimônia e nobreza.
As cores quentes (roxo, laranja,
vermelho) lembram a explosão
do estilista em 97, demostrando
coerência, mas foi no uso do jeans
que Villaventura mais assombrou. Desfiado, virou pantalona
urbana; com volume, espantosa
megapantalona tipo saia-calça
(ou seria calça-saia?).
Até os homens vêm mais secos e
o dândi de outros tempos de Villaventura vira o estonteante total
look preto de mangas recortadas,
no modelo Gianechinni. Três vestidos de fios de cobre prenunciam
o final do desfile, com a deusa cigana Ana Carolina Ilek, antecipando o novo milênio, os novos
tempos da moda brasileira.
O impacto do desfile deu a Villaventura o carro Ford Ka disputado pelos estilistas participantes,
com 89% dos votos, entre os jornalistas presentes ao evento.
Quem abriu o dia foi Walter Rodrigues, que apresentou um exercício formal sobre a poliamida
sintética e a seda, abandonando o
modelo de glamour de seus desfiles anteriores. Rodrigues trabalhou melhor no primeiro segmento do desfile, lidando com
mangas e volumes inusitados em
peças usáveis e arrojadas, em rosa. O modelo de apresentação (as
meninas saíam da entrada do prédio do evento e ficavam paradas
de frente para o público) não chegou a colaborar muito, mas não
extinguiu o talento e a seriedade
do estilista.
A FIT, expert na simplicidade e
na cor, mostrou simpática coleção inspirada no grafismo das fachadas -do Marrocos ao Pelourinho-, acertando nos étnicos,
nos pinks, laranjas, amarelos, turquesas e vinhos, nas chinelas Birskenstock de plástico colorido, e
na sobreposição dos vestidos retos. O bom trabalho de produção
de moda, bem streetwear, não sobressaiu mais devido ao andar robótico e sisudo das modelos.
Ricardo Almeida, como em outras edições do MorumbiFashion,
encerrou o evento com sua moda
masculina. Sempre correto, surpreendeu no segmento mais informal, com tecidos naturais em
branco e cru, com aparência
amarrotada, e, principalmente,
nas camisas sociais lilás e na jaqueta azul clarinha usada pelo
modelo ruivo Nicolas.
Hoje, excepcionalmente, não é publicada a
coluna Noite Ilustrada.
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