São Paulo, Sexta-feira, 09 de Julho de 1999
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MORUMBIFASHION BRASIL
Villaventura cria novo Brasil multiétnico

Otavio Dias de Oliveira/Folha Imagem
Mariana Weickert no desfile de Lino Villaventura, anteontem, no último dia do Morumbifashion Brasil


ERIKA PALOMINO
Colunista da Folha


"Jurei mentiras e sigo sozinho, assumo os pecados. Os ventos do norte não movem moinho e o que me resta é só um gemido (...), meu sangue latino." Assim repetia a música de Ney Matogrosso na trilha sonora de Lino Villaventura.
Serve de mote para a trajetória do estilista paraense, radicado em Fortaleza, e também de sinalização para a moda brasileira. Villaventura fez anteontem o principal desfile do último dia do MorumbiFashion Brasil, evento que lançou as coleções de 17 marcas para a primavera-verão 99/2000 no parque Ibirapuera (zona sudoeste de São Paulo).
Latinidade; brasilidade e uma incrível atemporalidade étnica deram o tom da coleção, que veio assumidamente barroca e, paradoxalmente, mais limpa do que nas apresentações anteriores.
O drama estava lá, sim, mas contido como convém a um criador em crescente domínio estilístico. Suas imagens de mulher misturavam diferentes referenciais, evocando santas, princesas, ciganas, hippies; travellers, retirantes, egípcias, indígenas e africanas. Estava tudo lá.
Pura moda pagã, as estampas vinham etéreas, com imagens de santuários antigos; os bordados delicadíssimos traziam pérolas, pétalas, nuvens (em lã mohair), plumagem, gotas lembrando a espuma do mar, mais canutilhos com parcimônia e nobreza.
As cores quentes (roxo, laranja, vermelho) lembram a explosão do estilista em 97, demostrando coerência, mas foi no uso do jeans que Villaventura mais assombrou. Desfiado, virou pantalona urbana; com volume, espantosa megapantalona tipo saia-calça (ou seria calça-saia?).
Até os homens vêm mais secos e o dândi de outros tempos de Villaventura vira o estonteante total look preto de mangas recortadas, no modelo Gianechinni. Três vestidos de fios de cobre prenunciam o final do desfile, com a deusa cigana Ana Carolina Ilek, antecipando o novo milênio, os novos tempos da moda brasileira.
O impacto do desfile deu a Villaventura o carro Ford Ka disputado pelos estilistas participantes, com 89% dos votos, entre os jornalistas presentes ao evento.
Quem abriu o dia foi Walter Rodrigues, que apresentou um exercício formal sobre a poliamida sintética e a seda, abandonando o modelo de glamour de seus desfiles anteriores. Rodrigues trabalhou melhor no primeiro segmento do desfile, lidando com mangas e volumes inusitados em peças usáveis e arrojadas, em rosa. O modelo de apresentação (as meninas saíam da entrada do prédio do evento e ficavam paradas de frente para o público) não chegou a colaborar muito, mas não extinguiu o talento e a seriedade do estilista.
A FIT, expert na simplicidade e na cor, mostrou simpática coleção inspirada no grafismo das fachadas -do Marrocos ao Pelourinho-, acertando nos étnicos, nos pinks, laranjas, amarelos, turquesas e vinhos, nas chinelas Birskenstock de plástico colorido, e na sobreposição dos vestidos retos. O bom trabalho de produção de moda, bem streetwear, não sobressaiu mais devido ao andar robótico e sisudo das modelos.
Ricardo Almeida, como em outras edições do MorumbiFashion, encerrou o evento com sua moda masculina. Sempre correto, surpreendeu no segmento mais informal, com tecidos naturais em branco e cru, com aparência amarrotada, e, principalmente, nas camisas sociais lilás e na jaqueta azul clarinha usada pelo modelo ruivo Nicolas.


Hoje, excepcionalmente, não é publicada a coluna Noite Ilustrada.



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