|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
BOY GEORGE
Cantor faz críticas a DJs e rádios da atual cena tecno da Grã-Bretanha e afirma ter vontade de voltar ao Brasil
"Música eletrônica se tornou algo repetitivo"
DA REPORTAGEM LOCAL
Folha - E como DJ, o que você
aponta como um diferencial?
George - Primeiro, o fato de eu
ser uma drag, hahaha. Não, sério,
acho que tem muita porcaria e
muito "euro trash" na noite. Os
DJs tocam sempre as mesmas
músicas, ai que falta de criatividade. Tanta coisa cafona que fico espantado. Já teve noite que quase
invadi a cabine para dizer: "Querido, não dá. Muda esse lixo".
A tecnologia pode ser traiçoeira. Antes do punk, havia um ritual a se cumprir até que você pudesse lançar um disco. Você precisava aprender a tocar, fazer
shows e tal. Depois do punk, você
precisava apenas de algumas
idéias e um pouco de atitude. Daí
veio a coisa de você poder fazer
discos apenas usando um computador, num quartinho. Isso fez
com que a música eletrônica se
tornasse muita repetitiva.
Folha - Você era DJ em 82... e
agora só se fala no som da época. O
que acha dessa onda de electro?
George - São as minhas origens,
mas o que gosto de tocar hoje é
house, com pitadas de tribal. Gosto de coisas como Fischerspooner, por exemplo. O engraçado é
que, na época, a cena era muito
pequena, havia 300 pessoas na Inglaterra que curtiam new romantic [um dos muitos nomes para
electro". Claro que tenho milhares de discos de electro e poderia
passar a noite inteira tocando isso. Se o cara que me pagou disser
que prefere electro, tudo bem. Se
não, toco o que gosto e pronto.
Folha - Você fica irritado se te pedem para tocar Culture Club?
George - Tem acontecido menos, mas é inevitável. Ainda vamos fazer remixes legais com algumas músicas do Culture Club,
mas não vou deixar qualquer imbecil fazer, não. Respeito o que fizemos e tenho memórias boas daquilo, mas não vou viver do passado. Se me pedirem uma música
de que eu gosto, se fui com a cara
de quem pediu, toco. Mas não vou
tocar "Total Eclipse of the Heart"
em versão trance, socoooorro.
Penso: "Não gosta do que eu toco,
querido? Então, se manda".
Folha - A quantas anda a carreira
do Culture Club?
George - A gente faz um show
aqui e ali. E vamos lançar uma caixa com dois CDs no Natal. Não é
nada novo, são os dois primeiros
discos remasterizados, com algumas faixas bônus, uns remixes.
Ai, e vai ter uma versão muuuuito
engraçada de "Karma Chameleon". Roy [Hay, guitarrista" e eu
voltamos a compor e, se gostarmos do resultado, podemos lançar um disco logo. A verdade é
que o Culture Club nunca terminou, mas cada um foi para um
canto. É como um relação amorosa bem resolvida, meu bem.
Folha - Você não mantém mais residência em nenhum clube?
George - Nem poderia, porque
agora estou ocupadíssimo com o
[musical" "Taboo", por cinco semanas. Mas toco em qualquer lugar, é só pagar. Por favor, alguém
me contrate para tocar no Brasil,
quero voltar.
Folha - É mesmo, você esteve
aqui em 95. O que lembra do país?
George - Ai, faz um calor, né?
Não é para drags, a maquiagem
derrete que é uma loucura (risos).
Folha - Hoje deve ser mais tranquilo lidar com o fato de ser andrógino do que nos anos 80, não?
George - Você é que pensa, nunca levei tantos xingos de "bicha"
quanto agora... Nos anos 80, olhavam muito, mas ninguém ofendia. Vivemos uma outra fase. São os tempos do Eminem, meu bem.
IN & OUT - (2002).
De: Boy George.
Gravadora: Moonshine
(www.moonshine.com).
Importado: lançamento no dia 12; venda antecipada
pela Amazon: www.amazon.com (sob o nome de "A Night Out with Boy George"). US$ 14.99 (cerca de R$ 43,67)
Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Análise: Mundo entendeu o artista Índice
|