São Paulo, sexta-feira, 09 de agosto de 2002

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BOY GEORGE

Cantor faz críticas a DJs e rádios da atual cena tecno da Grã-Bretanha e afirma ter vontade de voltar ao Brasil

"Música eletrônica se tornou algo repetitivo"

DA REPORTAGEM LOCAL

Folha - E como DJ, o que você aponta como um diferencial?
George -
Primeiro, o fato de eu ser uma drag, hahaha. Não, sério, acho que tem muita porcaria e muito "euro trash" na noite. Os DJs tocam sempre as mesmas músicas, ai que falta de criatividade. Tanta coisa cafona que fico espantado. Já teve noite que quase invadi a cabine para dizer: "Querido, não dá. Muda esse lixo".
A tecnologia pode ser traiçoeira. Antes do punk, havia um ritual a se cumprir até que você pudesse lançar um disco. Você precisava aprender a tocar, fazer shows e tal. Depois do punk, você precisava apenas de algumas idéias e um pouco de atitude. Daí veio a coisa de você poder fazer discos apenas usando um computador, num quartinho. Isso fez com que a música eletrônica se tornasse muita repetitiva.

Folha - Você era DJ em 82... e agora só se fala no som da época. O que acha dessa onda de electro?
George -
São as minhas origens, mas o que gosto de tocar hoje é house, com pitadas de tribal. Gosto de coisas como Fischerspooner, por exemplo. O engraçado é que, na época, a cena era muito pequena, havia 300 pessoas na Inglaterra que curtiam new romantic [um dos muitos nomes para electro". Claro que tenho milhares de discos de electro e poderia passar a noite inteira tocando isso. Se o cara que me pagou disser que prefere electro, tudo bem. Se não, toco o que gosto e pronto.

Folha - Você fica irritado se te pedem para tocar Culture Club?
George -
Tem acontecido menos, mas é inevitável. Ainda vamos fazer remixes legais com algumas músicas do Culture Club, mas não vou deixar qualquer imbecil fazer, não. Respeito o que fizemos e tenho memórias boas daquilo, mas não vou viver do passado. Se me pedirem uma música de que eu gosto, se fui com a cara de quem pediu, toco. Mas não vou tocar "Total Eclipse of the Heart" em versão trance, socoooorro. Penso: "Não gosta do que eu toco, querido? Então, se manda".

Folha - A quantas anda a carreira do Culture Club?
George -
A gente faz um show aqui e ali. E vamos lançar uma caixa com dois CDs no Natal. Não é nada novo, são os dois primeiros discos remasterizados, com algumas faixas bônus, uns remixes. Ai, e vai ter uma versão muuuuito engraçada de "Karma Chameleon". Roy [Hay, guitarrista" e eu voltamos a compor e, se gostarmos do resultado, podemos lançar um disco logo. A verdade é que o Culture Club nunca terminou, mas cada um foi para um canto. É como um relação amorosa bem resolvida, meu bem.

Folha - Você não mantém mais residência em nenhum clube?
George -
Nem poderia, porque agora estou ocupadíssimo com o [musical" "Taboo", por cinco semanas. Mas toco em qualquer lugar, é só pagar. Por favor, alguém me contrate para tocar no Brasil, quero voltar.

Folha - É mesmo, você esteve aqui em 95. O que lembra do país?
George -
Ai, faz um calor, né? Não é para drags, a maquiagem derrete que é uma loucura (risos).

Folha - Hoje deve ser mais tranquilo lidar com o fato de ser andrógino do que nos anos 80, não?
George -
Você é que pensa, nunca levei tantos xingos de "bicha" quanto agora... Nos anos 80, olhavam muito, mas ninguém ofendia. Vivemos uma outra fase. São os tempos do Eminem, meu bem.


IN & OUT - (2002).
De: Boy George.
Gravadora: Moonshine
(www.moonshine.com).
Importado: lançamento no dia 12; venda antecipada pela Amazon: www.amazon.com (sob o nome de "A Night Out with Boy George"). US$ 14.99 (cerca de R$ 43,67)



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