|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Portunhol escrito pelo poeta Douglas Diegues traduz país de fronteiras desconhecidas
A língua absorvida
ROGÉRIO EDUARDO ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL
Douglas Diegues, 38, é um escritor que encontra nas linhas fronteiriças sua unidade poética. Do
Paraguai vizinho de sua Ponta Porã (MS) toma o castelhano, dos
povos indígenas do lado de lá e de
cá, os mitos e a língua guarani. E,
equilibrando tudo na arquitetura
do soneto, constrói um universo
particular numa espécie, mais
particular ainda, de portunhol.
"A língua mestiça com que escrevo é visceral. O portunhol
fronteiro tem uma graça encantatória que me fascina. Acho-o feio,
de mau gosto, bizarro, rupestre,
mas tem uma graça que me seduz,
me impacta antes e depois dos
meus gostos, dos gostos do meu
cérebro aculturado", diz o autor.
Seus primeiros 30 "insurretos
sonetos", na classificação do poeta Glauco Mattoso, publicados
sob o título "Dá Gusto Andar Desnudo por Estas Selvas - Sonetos
Salvajes" provocam um estranhamento que desalinha a percepção
e constrói um espaço mítico.
"Os "sonetos salvajes" podem ser
lidos como uma caminhada ritual
em busca da Terra sem Mal guarani, uma terra utópica, situada a
leste, depois das águas do grande
oceano, um lugar que pode ser alcançado antes ou depois da morte, onde as frutas e demais alimentos brotam do chão não por
intervenção humana, mas por
obras de magia da vida, onde não
existe violência, nem miséria,
nem mesquinhez", diz Diegues,
fazendo referência ao mito da cultura guarani que corresponde ao
Paraíso do catolicismo.
Carioca radicado em Ponta Porã, Diegues quer despertar o homem para sua situação artificial
frente à natureza e traduzir o oeste nacional desconhecido por
meio do portunhol. "Quero transformar o portunhol da fronteira
numa língua literária, tão literária
quanto qualquer outra língua
"culta", como dizem os acadêmicos... Quero também usar mais o
guarani e outras línguas indígenas
que existem do outro lado."
Texto Anterior: Mônica Bergamo Próximo Texto: A língua absorvida: Escritor desafia as fronteiras do soneto Índice
|