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TELEVISÃO
Mundo acaba após a Letícia Spiller
TELMO MARTINO
Colunista da Folha
Não foi no "The New York Times", mas no jornal que o Ratinho exibiu. Uma ossada de gato,
que deveria ser o esqueleto de um
chupa-cabras. Ratinho? Sempre
ele, a prova evidente de que o sistema "Casa Grande & Senzala"
está em vigor na TV. No que a Letícia Spiller pára de dar a pior reputação possível à perfídia, a turma da edícula, ainda enxugando
prato, se transfere para o Ratinho.
Com mais brilho na gravata do
que na calça e camisa de mangas
compridas, ele é recebido pela platéia com palmas e cabeças oxigenadas. Começa o desfile que era e
é de horrores, com brindes atirados ao auditório. Nada comparável ao bacalhau do Chacrinha.
Todos são levados a conhecer a
seita hindu onde os homens nus
enrolam o que parecer mais confortável no próprio bingolim.
"Tem um brasileiro que faz a
mesma coisa com o dele. Vamos
mostrar." Antes, visita-se um casal de anões em sua casa minúscula. Todo conforto e uma máquina de imprimir camisetas, presente do programa. No peito do Ratinho bate um coração? Não é bem
assim. Candidatos à caridade têm
de se inscrever. Quem render boas
imagens é escolhido. Na cartilha
do showbiz, esse é o bê-á-bá.
Já que tem coração, Ratinho pode pegar seu cacete e ser truculento. O rapaz garante que uma chupeta comporta o conteúdo de um
garrafão de Coca-Cola. Fracassa.
No pátio dos milagres, o fracasso é
o mais divertido. Alguém lembra
da previsão do fim do mundo. Ratinho duvida. O mundo acaba toda noite depois da Letícia Spiller.
O mundo não vai acabar, mas
Ratinho prefere fundo musical
adequado para essa eventualidade. Seus calouros mantêm o repertório dos artistas convidados.
Chegou o carioca de hábitos hindus. "Não, não pode." Surpresa.
Ratinho tem medo do que a exibição de um nu frontal masculino
possa causar à reputação do programa. Já concurso de transformistas mineiras levemente "faisandées" não compromete.
Ratinho reclama, com "simulação" ("Linha direta" vai morrer
de rir da precariedade), do perigo
que é morar em SP, incluindo o
governador na queixa. É sempre
bom um toque de seriedade. Reforma agrária rende também.
Mostra uma fazenda em que os
sem-terra arrendaram os lotes
que ganharam. Mostra outra que
prospera. O chefe bem-sucedido,
supõe-se, leva a foto do Fidel Castro sempre que vai ao barbeiro.
Antes da Família Lima, americanizada, surge um cantor de dois
metros que dá zero para Rita Lee.
Bobagem. Todos já tinham dado
zero para ele. Ratinho é o exemplo
deprimente da acomodação preguiçosa do Sílvio Santos. Falta colégio? Para que mudar?
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