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"VELHAS HISTÓRIAS, MEMÓRIAS FUTURAS"
Livro busca significado de Paulinho da Viola na MPB
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
Prestes a completar 60 anos,
Paulinho da Viola se torna tema de estudo no livro "Velhas
Histórias, Memórias Futuras", de
Eduardo Granja Coutinho, que
mergulha na obra do sambista em
busca de uma interpretação do
significado de sua presença na
MPB.
Embora seja fruto de tese de
doutoramento de Coutinho na
Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ), o livro não se apega a tecnicismos ou elaborações
restritivas. É técnico e fundamentado, mas de fácil acesso a qualquer admirador de Paulinho, de
samba, de MPB, de música ou...
de política.
A mira do autor é o entendimento do lugar que Paulinho da
Viola ocuparia em meio a chicos,
caetanos e miltons.
Não à toa, um dos ápices do livro é sua releitura sobre o episódio do show de réveillon carioca
de 1996, em que o sambista recebeu cachê de R$ 30 mil, contra R$
100 mil pagos a cada um seus pares emepebistas Caetano, Gil, Chico, Gal e Milton.
O foco da pesquisa recai na significação política do apego de
Paulinho à tradição (mas não ao
tradicionalismo conservador, como faz questão de ressaltar sempre o autor).
Para chegar às conclusões que
cobiça, o livro tem de, antes de tudo, fazer uma extensa revisão dos
modos de participação política da
canção na década de 60, com ênfase na canção de protesto e na
reação a ela elaborada depois pela
tropicália.
Quanto à fase do protesto, marcadamente nacionalista, avalia:
"Populistas e passadistas são incapazes de pensar a história como
um processo em que o passado é
reconstruído pelo presente, interpelando, dessa maneira, as gerações futuras".
Já a tropicália corresponderia
ao fim da atitude participante da
juventude na MPB, tornando-se
"marco da derrota da esquerda
populista e da vitória de um projeto globalizante que hoje revela
sua face neoliberal".
Ali, o consumo se tornaria então referência para medir o que
fosse "popular", num projeto de
culto ao novo e também à necessidade de ruptura, mas ainda de
"aceitação tácita das regras do
mercado".
Dessa análise, Coutinho extrai,
então, a tese central do livro, de
que Paulinho da Viola surge para
negar com delicadeza as duas vertentes em prol de um outro projeto, nem passadista, nem populista, nem mercadológico.
Sem nunca aderir à bossa nova,
o artista desenvolve o aspecto
harmônico do samba, reaproximando-o do choro.
Para o autor, Paulinho da Viola
faz com samba e choro o que a
bossa fizera com samba e jazz, elaborando uma renovação que não
desprega em nenhum momento o
olho da tradição.
Mas a diferença de origem e
classe seria um muro entre a bossa e o samba moderno de Paulinho da Viola.
Negro e sambista, ele nunca tiraria de mente o status do samba
como algo da cultura marginal e
"subalterna", fazendo-se representante, com sua música, de uma
comunidade permanentemente
aviltada.
O que o livro celebra, enfim, é
também a (acidentada) permanência da estratégia de Paulinho
da Viola na cultura brasileira, para lá do sumiço dos militantes do
protesto, para cá da voracidade
dos militantes do consumo.
Velhas Histórias, Memórias
Futuras
Autor: Eduardo Granja Coutinho
Editora: Eduerj
Quanto: R$ 22,50 (184 págs.)
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