São Paulo, segunda-feira, 09 de setembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PATRIMÔNIO

Condephaat revê decisão da década de 80 sobre sede da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo

Arcadas da São Francisco são tombadas

Renata Freitas - 26.nov.1999/Folha Imagem
Sede da Faculdade de Direito no Largo São Francisco, tombada por sua relevância arquitetônica e pela atuação política da instituição


DA REPORTAGEM LOCAL

No dia 5 de agosto passado, o colegiado do Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado) aprovou o tombamento do edifício da Faculdade de Direito da USP, localizada no largo São Francisco, no centro da cidade de São Paulo.
A medida, segundo o parecer aprovado pelo conselho, corrige uma decisão da década de 80, tomada pelo mesmo órgão, que optou contra o tombamento do prédio -apenas o túmulo do professor Júlio Frank, dentro da faculdade, foi tombado.
O motivo da recusa foi que o edifício do arquiteto Ricardo Severo, erguido na década de 30, havia substituído a sede original da Faculdade de Direito, parte do conjunto das igrejas das Ordens Primeira e Terceira de São Francisco, construídas no século 17. Foi "o primeiro exemplo de intervenção violenta na cidade", afirmou o parecer da época.
Em 1828, o convento dos franciscanos se tornou a sede do curso de direito de São Paulo, criado em 1827, junto com o curso de Olinda e Recife (PE), por decreto de D. Pedro 1º. Em 1887 a fachada do prédio passou por uma modernização. A construção do novo prédio teve início em 1933 e terminou em 1940.
"Escapou (...) que tantos e tantos bens de alto valor cultural têm, ao longo da história e em todos os rincões do planeta, sido substituídos por outros também dotados de valor cultural significativo, que não se desmerecem pelo simples fato de haverem sido erguidos sobre os escombros de bens valiosos", diz o texto que aprovou o tombamento.
A nova orientação do Condephaat ocorreu graças a dois estudos complementares realizados por especialistas do órgão.
Um primeiro, da historiadora Ana Luísa Martins, que ressalta o papel político e histórico das arcadas, como os acadêmicos tratam o prédio da faculdade. "Das Arcadas do Velho Largo nasceram e vicejaram (...) movimentos que ajudaram a impulsionar as lutas do nosso povo pela liberdade e pela democracia", afirma o parecer pelo tombamento.
Também a Tribuna Livre, construção mais recente, situada à frente do edifício, foi tombada por sua função política.
O segundo estudo, do arquiteto Sergio De Simone, reivindica o edifício como um marco da arquitetura neocolonial brasileira. "Severo foi um incentivador do estilo neocolonial brasileiro, e o prédio no Largo São Francisco representa em São Paulo o mesmo que as igrejas barrocas de Recife e Salvador", afirma Simone.
Em meados da década de 10, quando Severo ainda era sócio no escritório Ramos de Azevedo, o arquiteto estimulou pesquisas que resultaram nos primeiros levantamentos da arquitetura brasileira, entre eles "Inventário arquitetônico", de José Wasth Rodrigues. A partir dos resultados, "Severo passou a defender que uma linguagem nacional deveria reunir o ecletismo com o barroco brasileiro, o que gerou o estilo neocolonial", diz Simone.
A construção do novo prédio, sugestão de Alcântara Machado, então diretor da faculdade, gerou polêmicas entre os acadêmicos. A forma de contorná-las foi garantir a permanência das arcadas do antigo convento, que se tornaram o símbolo da instituição.
O tombamento foi publicado no "Diário Oficial do Estado" em 7 de agosto passado, e já expirou o prazo de 15 dias para eventuais contestações. Cabe agora ao secretário de Cultura, Marcos Mendonça, homologar a decisão. (FABIO CYPRIANO)


Texto Anterior: "Velhas histórias, memórias futuras": Livro busca significado de Paulinho da Viola na MPB
Próximo Texto: Teatro: Jô abre debate sobre o ator no Célia Helena
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.