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São Paulo, terça-feira, 09 de setembro de 2003

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CINEMA

TREM,
Longa do diretor Roberto Gervitz, "Jogo Subterrâneo"

CÂMERA,
tem ação filmada nas estações do metrô de São Paulo,

AÇÃO
que disponibilizou trens e motorneiros em horários alternativos para uso da produção; filme estréia em 2004

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

Antes de comandar "Ação!" aos atores Julia Lemmertz e Felipe Camargo -que aguardam a senha com o texto ensaiado-, o diretor Roberto Gervitz enumera: "Vai som. Vai câmera. Vai trem".
Além da aparelhagem típica do cinema, é preciso pôr um trem em movimento para filmar "Jogo Subterrâneo", novo longa de Gervitz ("Feliz Ano Velho", 1987). O filme terá 35% de seus 110 minutos passados no metrô paulistano.
É entre as frequentadoras dos vagões que o protagonista Martín (Camargo) procura identificar a mulher de sua vida. Ao se sentir atraído por uma passageira, ele estabelece, num jogo mental, a trajetória que ela deve percorrer. Quando o percurso imaginado for idêntico ao de fato percorrido, ele saberá que está diante "dela".
O roteiro é baseado no conto "Manuscrito Encontrado em um Bolso", do argentino Julio Cortázar (1914-84). Gervitz trabalhou em sua adaptação durante cinco anos. O ponto final foi dado em parceria com Jorge Durán, na sexta versão burilada por ambos.
Em sua busca, Martín se depara com Laura (Lemmertz) e com Tânia (Daniela Escobar), até encontrar Ana (Maria Luísa Mendonça). Fascinado, ele trairá o próprio jogo. É quando o imprevisível passa a ocupar a vida do personagem e rechear o filme.
Para filmar o vaivém entre as estações que a cabeça de Martín desenha, Francisco Ramalho, produtor do filme, diz que foi preciso armar "uma operação mais do que militar".
No último sábado, a equipe -83 pessoas trabalham na realização do longa- ocupou as estações Largo 13 e Giovanni Gronchi, da linha 5, que não opera aos sábados. "Mas não há estação em que não tenhamos filmado", diz Ramalho. Nas linhas de operação ininterrupta, as filmagens foram realizadas durante a madrugada, nos meses de agosto e setembro.
"Foi o momento mais tenso", diz Gervitz. Por causa dos horários de funcionamento do metrô, o trem (e seu motorneiro) ficavam à disposição do diretor entre 1h e 4h da manhã. "Como não havia tempo a perder, tínhamos que filmar sem pensar muito, sem grandes discussões", diz Gervitz.
A necessidade de uma sintonia fina com seus assistentes diretos fez Gervitz convidar para os postos-chaves "mais do que ótimos profissionais, pessoas que são também amigas". Lauro Escorel é o diretor de fotografia de "Jogo Subterrâneo", e Adrian Cooper, o diretor de arte.
Ainda assim, todos precisaram se adaptar à particularidade de conviver com um personagem-trem. Para Ramalho, muitas vezes "é o inferno: o trem acerta, o ator não acerta, ou o contrário".
Se o vagão freia sem suavidade, a câmera treme, mesmo quando quem a opera tem a cintura presa por um cinto e sustentada por outro assistente. O operador de som se irrita -impossível fazer a voz dos atores vencer os ruídos.
Foi o que ocorreu no sábado, na terceira tentativa de filmar a cena em que os personagens de Camargo e Lemmertz se despedem (dentro do trem, claro).
No quarto take, atores, câmera e trem entenderam-se. Gervitz achou "ótimo". Mas pediu outras três repetições, usando suas prerrogativas de piloto do bonde.
"Jogo Subterrâneo" está orçado em R$ 4,8 milhões e tem estréia prevista para o segundo semestre de 2004.


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