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PALADAR AFINADO
Matthew Herbert explica a feitura de "Plat du Jour" e por que seus temáticos shows têm vida limitada
Apresentações ao vivo têm presença de chef de cozinha
DA REPORTAGEM LOCAL
Antes mesmo do álbum "Plat
du Jour" ter sido lançado, Matthew Herbert iniciou uma pequena excursão do disco, apresentando suas músicas em teatros de
Berlim, Bristol e no festival catalão Sónar. O último show será no
Barbican, em Londres, em 4 de
outubro. Será a última oportunidade para digerir "Plat du Jour"
ao vivo, que conta com a presença
de um chef, que prepara uma refeição para que as canções sejam
tocadas com "cheiro apropriado".
Por telefone, Matthew Herbert
falou à Folha.
(THIAGO NEY)
Folha - Você parou de tocar ao lado da big band e suas apresentações de "Plat du Jour" também são
limitadas. Como é fazer essas intervenções eletrônicas ao vivo e por
que esses shows têm vida limitada?
Matthew Herbert - A música eletrônica pode ser muito egoísta, tocada por apenas uma pessoa, com
um computador. É diferente subir
ao palco com 20 músicos em que
cada um desenvolve uma função
específica. Os shows têm data para terminar porque realmente demora muito para preparar essas
apresentações, até fisicamente.
Além disso, a indústria alimentícia mudou nesses últimos dois
anos. Quando começamos, o
McDonald's era uma companhia
de sucesso irrefutável e que só
vendia hambúrgueres, enquanto
hoje pode-se encontrar frutas e
leite orgânico ali. Na Inglaterra,
um programa de TV mostrou como eram feitas as merendas escolares, eram terríveis, e isso está
sendo melhorado.
Folha - O disco é um forte manifesto contra os maus hábitos alimentares, contra maus alimentos,
contra os métodos usados pela indústria alimentícia. Como chegamos a essa situação?
Herbert - Uma das intenções do
disco é fazer com que olhemos
para a história. O Brasil é um
exemplo perfeito sobre a conexão
entre o trabalho escravo e o café, o
açúcar. A Inglaterra não possui
mais uma indústria saudável de
produtos agrícolas; praticamente
toda a nossa comida vem do exterior. E vem do exterior porque é
mais barato transportar para cá
essa comida processada do que
incentivar os agricultores. Todos
têm refrigeradores, microondas...
Grande culpa disso é do petróleo.
O modo como vivemos no Ocidente é o modo de vida mais luxuoso de toda a história da humanidade e é baseado em petróleo. O
governo encoraja isso, vê isso como progresso. Para mim, não estamos progredindo; estamos destruindo tudo nesse processo.
Folha - O que você está dizendo é
que tudo está conectado: nossa comida, o petróleo, o modo como vivemos... Mas não é hipocrisia querer acabar com os pesticidas, por
exemplo, quando muita gente diz
que eles são um mal necessário para produzir alimentos baratos?
Herbert - Acho que, se olharmos
para o que os povos pobres comem, veremos que a maioria da
comida é orgânica, pois nesses
países eles não têm dinheiro para
comprar pesticidas, e basicamente são comidas simples, produzidas por pequenos agricultores.
Mas, no Ocidente, a comida orgânica é uma criação da indústria
alimentícia, para dar uma alternativa para as porcarias que eles
produzem. Além disso, as questões levantadas pelo álbum são relativas principalmente ao que
ocorre no Reino Unido. O que devemos fazer é investir em comerciantes locais, incentivar o esvaziamento das grandes cidades...
Folha - Quando começou a prestar atenção nessas questões?
Herbert - Com as minhas viagens, que me possibilitaram enxergar como existe comida ruim
em todos os cantos do mundo e
como existe comida excelente em
todo o mundo. Na Espanha, vi
que eles comem presunto Pata
Negra; na Itália, presunto Parma,
com variações locais e sabores incríveis. As grandes corporações
estão padronizando tudo isso.
Folha - Como foi o processo de
gravação do disco?
Herbert - Tudo começou como
pequenas histórias. Por exemplo,
queria contar a história do café,
que está muito ligada ao trabalho
escravo, mas olhar também para
as conseqüências disso, como o
desflorestamento do Vietnã durante a guerra contra os EUA, e
como algumas pessoas foram forçadas a começar a produzir café...
Então decidi utilizar esses grãos
de café do Vietnã; depois, sabendo que uma xícara de expresso no
Starbucks é feita utilizando-se 20
desses grãos, decidi fazer melodia
com o barulho desses 20 grãos
sendo derrubados num container
vazio que é normalmente utilizado para armazenar herbicidas da
Monsanto que têm os mesmos ingredientes que o pó Agente Laranja... A história vem antes, depois procurei o que utilizar como
instrumentos para representá-la.
Folha - Você é um grande crítico
da globalização, de Tony Blair, de
Bush. Sente que como artista pode
realmente mudar algo?
Herbert - Sim, claro. Pelos último meses tenho falado sobre fazendas de café e sobre o modo como criamos frangos em grandes
jornais e revistas de música.
Quando foi a última vez que você
viu isso nesse tipo de publicação?
Estou adicionando minha voz.
Plat du Jour
Artista: Matthew Herbert
Lançamento: importado
Onde comprar: no site
www.platdujour.co.uk, é possível
fazer o download do álbum por valor
equivalente a R$ 21
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