São Paulo, sexta-feira, 09 de setembro de 2005

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"VÔO NOTURNO"

Wes Craven explora claustrofobia

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

" Viajar é uma guerra hoje em dia", diz a senhora que aguarda na fila a chamada da companhia aérea. Uma tempestade atrasou o vôo, e a espera é de horas. Ao seu lado está Lisa (Rachel McAdams), que volta de Dallas para Miami. Atrás dela está um homem de beleza estranha (Cillian Murphy), que conquista a simpatia da moça ao defender a funcionária da companhia dos ataques de um passageiro estressado. Lisa é recepcionista de um hotel e sabe o que é aturar clientes.
Logo a ação se transfere para o interior do avião, onde o tal homem aparece na poltrona ao lado de Lisa. A feliz coincidência se revela parte de uma armadilha. Lisa vive, no trajeto, uma espécie de seqüestro-coerção. Deverá telefonar para o hotel em que trabalha e mudar a reserva de um político que se hospedará por lá, para salvar do fracasso os planos de um atentado. Se não der o telefonema, seu pai morre.
"Vôo Noturno" é o primeiro de dois filmes deste ano (o outro é "Plano de Vôo", com Jodie Foster, que estréia em outubro) que tem como cenário um avião. Difícil não pensar nos atentados do 11 de Setembro, quando jatos foram transformados em armas e o ato de se deslocar pelo ar, depois dessa data, se transformou para pior.
O diretor Wes Craven traduz esse desconforto (que não é só americano e se espalhou pelos aeroportos do planeta), mas vai além dessa metáfora de cores políticas. Seu filme lida, principalmente, com o desconforto do vôo em si, da claustrofobia à sensação incômoda, quase existencial, de que aquilo não pode dar certo: como aquela máquina pesada pode sustentar-se no ar?!?
Em "Vôo Noturno", Craven exercita sua especialidade (a construção do medo em lugares fechados) com maestria. O filme pode ser dividido em apenas duas longas seqüências. A primeira no avião, em que ele manipula a câmera para "transferir" o espectador da poltrona do cinema ao espaço exíguo da aeronave; a segunda na casa do pai de Lisa, quando o filme torna-se mais convencional, mas não menos excitante.
Como nos melhores filmes B, "Vôo Noturno" explora recursos escassos e altamente criativos para construir sua narrativa. Com a habilidade adicional de reproduzir essa "escassez" no interior da narrativa, com suas delimitações bem definidas de espaço e tempo.


Vôo Noturno
Red Eye
   
Direção:
Wes Craven
Produção: EUA, 2005
Com: Rachel McAdams, Cillian Murphy
Quando: a partir de hoje nos cines Anália Franco, Interlagos e circuito



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