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"VÔO NOTURNO"
Wes Craven explora claustrofobia
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
" Viajar é uma guerra hoje
em dia", diz a senhora que
aguarda na fila a chamada da
companhia aérea. Uma tempestade atrasou o vôo, e a espera é de
horas. Ao seu lado está Lisa (Rachel McAdams), que volta de Dallas para Miami. Atrás dela está
um homem de beleza estranha
(Cillian Murphy), que conquista a
simpatia da moça ao defender a
funcionária da companhia dos
ataques de um passageiro estressado. Lisa é recepcionista de um
hotel e sabe o que é aturar clientes.
Logo a ação se transfere para o
interior do avião, onde o tal homem aparece na poltrona ao lado
de Lisa. A feliz coincidência se revela parte de uma armadilha. Lisa
vive, no trajeto, uma espécie de
seqüestro-coerção. Deverá telefonar para o hotel em que trabalha e
mudar a reserva de um político
que se hospedará por lá, para salvar do fracasso os planos de um
atentado. Se não der o telefonema, seu pai morre.
"Vôo Noturno" é o primeiro de
dois filmes deste ano (o outro é
"Plano de Vôo", com Jodie Foster,
que estréia em outubro) que tem
como cenário um avião. Difícil
não pensar nos atentados do 11 de
Setembro, quando jatos foram
transformados em armas e o ato
de se deslocar pelo ar, depois dessa data, se transformou para pior.
O diretor Wes Craven traduz esse desconforto (que não é só americano e se espalhou pelos aeroportos do planeta), mas vai além
dessa metáfora de cores políticas.
Seu filme lida, principalmente,
com o desconforto do vôo em si,
da claustrofobia à sensação incômoda, quase existencial, de que
aquilo não pode dar certo: como
aquela máquina pesada pode sustentar-se no ar?!?
Em "Vôo Noturno", Craven
exercita sua especialidade (a
construção do medo em lugares
fechados) com maestria. O filme
pode ser dividido em apenas duas
longas seqüências. A primeira no
avião, em que ele manipula a câmera para "transferir" o espectador da poltrona do cinema ao espaço exíguo da aeronave; a segunda na casa do pai de Lisa, quando
o filme torna-se mais convencional, mas não menos excitante.
Como nos melhores filmes B,
"Vôo Noturno" explora recursos
escassos e altamente criativos para construir sua narrativa. Com a
habilidade adicional de reproduzir essa "escassez" no interior da
narrativa, com suas delimitações
bem definidas de espaço e tempo.
Vôo Noturno
Red Eye
Direção: Wes Craven
Produção: EUA, 2005
Com: Rachel McAdams, Cillian Murphy
Quando: a partir de hoje nos cines
Anália Franco, Interlagos e circuito
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